Cleber Costa 12/09/2022
Entre o remédio e o veneno
"A ciência representa o desejo humano de compreender a natureza; a tecnologia complementa esse desejo com a ambição de controlar a natureza. A medicina é fundamentalmente uma arte tecnológica; traz em seu núcleo o desejo de melhorar a vida humana intervindo na própria vida."
Mukherjee nos apresenta um profundo e detalhado estudo sobre seu maior inimigo. Como um oncologista indiano renomado, o autor faz uma viagem no tempo e no espaço do câncer, explorando sua história desde a antiguidade até os métodos modernos de diagnóstico e terapia. O livro é escrito, em geral, de forma bem acessível ao público leigo (como eu), porém em alguns momentos tive a necessidade de recorrer a pesquisas complementares ao longo da leitura para entender melhor os argumentos técnicos, mas vejo isso como parte do processo de qualquer livro que nos enriquece de alguma maneira. Porém creio que o autor tenha pecado um pouco na estrutura e na organização dos tópicos. Em alguns momentos ele seguia em sequência cronológica, em outros em sequências de assuntos, deixando um pouco confuso de acompanhar às vezes. A propósito, o livro alterna entre apresentar os fatos científicos sobre a pesquisa e mostrar também os bastidores políticos da luta contra o câncer, que foram as partes mais maçantes para mim. Através da leitura, descobrimos que, ao contrário de outras doenças, o câncer não é causado por um agente externo (apesar de poder ser ativado por este), mas sim por um mal funcionamento interno de nossas células. Esse mal funcionamento possui raízes tão profundas que estão essencialmente relacionadas ao DNA. "Todo câncer é uma doença genética". Logo, o que faz dessa enfermidade tão ameaçadora é que as células cancerosas são extremamente similares às nossas células normais, tornando difícil encontrar métodos terapêuticos capazes de combatê-las sem afetar também as células saudáveis. Por isso o tratamento com quimioterapia é tão debilitante.
Sendo assim, chegamos à conclusão de que não existe inimigo maior para o ser humano do que nós mesmos. Enfrentar nosso próprio Ser exige sacrifícios que podem ser profundamente tóxicos, como uma quimioterapia na alma, capazes de nos levar aos limites de nossa saúde física, mental e espiritual para nos expurgar de todas as aflições.