spoiler visualizarbruprupru 29/08/2023
É romance, mas parece terror
Uma característica marcante da narrativa é o antagonismo sutil entre cidade e campo; enquanto aquela é mais aberta e sensível, na medida do possível, aos desejos femininos na questão do amor, esta se mostra ainda presa na ideologia colonial, seguindo os rastros de uma Europa que há muito não existe. A mulher vive, acuradamente descrita pelo autor, num verdadeiro gineceu. À ela é vetado tudo; não pode ler, nem escrever, nem receber visitas, nem ver ninguém sem a autorização do pai. Sua vida é resumida em coser e esperar o pai arranjar um noivo. Percebe-se uma retirada total da autonomia da mulher de sua própria vida, sendo apenas “como uma garrucha ou guampo lavrado que Pereira [o pai] lhe tivesse dado [ao noivo]”. O casamento não é a união de duas pessoas que se amam; antes, é um dever social crucial na vida da mulher, e a falta neste dever pode significar a morte. Sendo ela o ‘sexo frágil’, é incapaz de escolher um parceiro para si; ela precisa que um homem, seu pai, tome todas as decisões por ela. Esse cenário foi mudando a passos deveras vagarosos no decorrer do século XIX. O autor, ao longo do texto e a partir de Cirino e Meyer, expõe sua oposição a esse pensar tão limitado.
A narrativa também pode ser vista como uma metáfora. As convenções e pressões sociais matam Inocência. Muito antes de assassinarem seu corpo, já tinham roubado sua alma. Quão eficaz é uma sociedade tão rígida?
A leitura, no início, é um tanto arrastada por conta das longas descrições. Após, fica uma narrativa equilibrada, com momentos de tensão, humor e ação.
Mais detalhes no insta:
site: https://www.instagram.com/costuras.literaturas/