Alicia Garcia 04/03/2021
Interessante, porém superficial
Leitura realizada em 2018.
Fiquei um pouco frustrada com o livro, porque tem umas 60 páginas e é mais um artigo do que propriamente um livro. Porém, apesar disso, o que mais me deixou frustrada foi que o livro/artigo não foi escrito pelo próprio Marx, trata-se de uma junção do que o Peuchet, que foi arquivista da polícia francesa escreveu de alguns casos de suicídio da época e de algumas anotações que o Marx fez por cima desses escritos. As ideias dos dois estão misturadas e a gente fica meio confusa de onde começa Marx ou Peuchet, porque não tem essa separação. Estranho ainda é que a obra é muito mais de Peuchet do que de Marx e o autor não aparece nem mesmo como autor na capa do livro.
Me soou como marketing porque Mark é mais famoso do que Peuchet ou algo parecido, sabe?
Bom, o livro fala, como bem diz seu título, “sobre o suicídio” de modo que trás essa realidade como não sendo natural ou intrínseca ao ser humano. Mas que sempre esteve presente na sociedade, entretanto é possível constatar que houve um real aumento do seu índice com a efetivação do modo de produção capitalista (MPC), onde as desigualdades sociais, a questão do pauperismo, da propriedade privada ganhar muito mais força e efetividade nas relações sociais o que reflete na população e acaba por desencadear um maior número de suicídios. Isso, é o que me pareceu, mas vai também da perspectiva também de cada um, porque é uma afirmação que precisa ser melhor fundamentada, o que o livro não oferece.
O livro é interessante porque aborda questões que raramente são desenvolvidas nos clássicos marxistas, como a opressão sexual e familiar, os direitos da mulher e o aborto. O livro traz a questão de a mulher ser compreendida como uma propriedade privada do homem após o casamento e como essa relação pode gerar sofrimento (em alguns ou em muitos casos) que podem vir a levar essa mulher a cometer suicídio.
Para além da questão da mulher como uma propriedade, trazendo essa realidade (de modo mais agravante) como uma consequência do MPC, traz também alguns poucos dados, relatados por Peuchet que trabalhava como arquivista e registrada esses casos na época, de que o índice de suicídio entre homens é muito mais alto do que entre as mulheres, apesar de no livro trazer alguns poucos casos apenas de mulheres.
No final das constas o livro faz uma crítica dizendo que o suicídio se agravou com a ascensão do MPC. É claro que, ao meu ver, não se trata apenas disso, existem inúmeros outros fatores que não são abordados e que nem poderiam ser num livro tão pequeno.
Achei o livro bastante superficial e um jogo de marketing por usar o nome forte que o Marx tem para chamar a atenção e consequentemente vender, mas apesar disso vale a leitura. É curtinho, rápido e de fácil compreensão.
Um paragrafo que gostei muito no livro que vale a pena mencionar:
“Para saber se o motivo que determina o indivíduo a se matar é leviano ou não, não se pode pretender medir a sensibilidade dos homens usando-se uma única e mesma medida; não se pode concluir pela igualdade das sensações, tampouco pela igualdade dos caracteres e dos temperamentos; o mesmo acontecimento provoca um sentimento imperceptível em alguns e uma dor violenta em outros. A felicidade e a infelicidade têm tantas maneiras de ser e de se manifestar quantas são as diferenças entre os indivíduos e os espíritos. Um poeta disse:
O que faz tua felicidade é minha aflição;
O prêmio de tua virtude é a minha punição”. (MARX, P. 25, nota de rodapé ***).