Diego 17/01/2024Uma obra espetacularAo invés de uma história com início, meio e fim, Virgínia Woolf preferiu construir um romance que se passa ao longo de apenas um dia. Os diálogos e as descrições da paisagem são alternados com o fluxo de consciência dos personagens, que vão e voltam em suas memórias, desenrolando fragmentos da história.
Há dois personagens principais que nunca interagem. A Mrs. Dalloway, uma mulher abastada e um tanto frívola, com mais de 50 anos que está organizando uma festa. E Septimus, um veterano de guerra com ideias suicidas que está sendo levado pela esposa, a italiana Lucrezia, para visitar um novo psiquiatra. Há muitos outros personagens que são relevantes para a história. Eventos ocorrendo em cada local servem de oportunidade para saltarmos de uma consciência a outra. Um avião que passa no céu, um carro que sobe na calçada, um relógio que anuncia as horas, etc.
Conforme a história se desenrola vamos acompanhando as angústias e os pequenos desejos de cada um dos personagens. Um ex-namorado da juventude de Mrs. Dalloway, seu marido, sua filha, etc. vão dando profundidade à história. Os distintos fragmentos apresentam a anfitriã da festa como alguém cheia de potenciais, muito mais inteligente que seu marido, um político conservador. Contudo ela não se sente realizada, por isso mora em Londres e dá festas para se sentir viva.
Enquanto isso, Septimus, um homem sensível, inclinado à poesia, que diante do horror da Primeira Guerra ficou alijado de seu sentimento. Não sentiu as mortes que ocorriam à sua volta, nem tudo o mais de ruim que vivenciou. Depois de uns anos ele foi perdendo a sanidade, tinha visões de gente morta e conforme seu estado foi se agravando passou a falar em suicídio.
Ambos os personagens parecem compartilhar uma mesma característica, uma grande sensibilidade que não pôde se realizar, no caso da mulher, por conta do casamento e de uma sociedade que só permitia aos homens estarem na esfera pública, e no caso do soldado, por conta dos traumas da guerra.