Maria 28/01/2024
Coma arroz, tenha fé nas mulheres
Sempre me encantou pensar em como, para o leitor, os amados personagens dos livros que nos acompanham ao longo de nossa vida, com suas histórias inspiradoras, ou mesmo odiosas, jamais são completamente fictícios. Essas pessoas, narradas sob as mais diversas perspectivas, chegam até nós por intermédio da criatividade, experiências pessoais e inspirações de autores que de forma tão poética e artística nos ensinam a ter esperança, a crer em tempos melhores, a aprender com nossos erros e a ressignificar nossas experiências pessoais. Esses personagens habitam nosso consciente, nosso coração, nos recordam pessoas reais a quem amamos ou odiamos, nos apontam bênçãos que existem em nossa vida, detalhes valiosos de nossa própria história e assim aprendemos sobre nós mesmos, aplicamos lições ao nosso cotidiano e sonhamos alto graças a uma imaginação que constantemente é fertilizada pelo adubo revigorante e duradouro da leitura.
Cada livro que leio reforça todas essas experiências e impressões, o mais recente, Mulherzinhas de Louisa May Alcott, foi o que me inspirou a relatá-las. A história da vida de outras mulheres, suas lutas e glórias, não raro é combustível que nos ajuda a enfrentar nossas próprias labutas, nós mulheres jovens, por vezes tão desesperançadas pelas injustiças desse mundo. Essa obra narra a infância, a juventude e a escalada a fase adulta de quatro mulheres pobres, criadas em um lar constituído de pura e sincera amorosidade, companheirismo e apoio, essa narrativa tocou profundamente minha alma, foi como ler minha própria vida tão significativa foi a identificação com o enredo e as personagens do livro.
Meg, Jo, Beth e Amy, queridas irmãs March, elas nos guiam através de suas ambições e dificuldades a um castelo de sonhos, a partir de suas esperanças e desesperanças ressignificamos as nossas próprias, ao ler suas aflições e as aprendizagens colhidas após as tempestades nos regozijamos dos ensinamentos proveitosos à nossas próprias vidas.
Ler clássicos da literatura, como é o caso dessa obra, especialmente aqueles escritos por mulheres, é sempre uma experiência revigorante e curiosa, por mais que anos, por vezes séculos, além de uma cultura completamente diferente evidenciem as diversidades presentes na forma de viver e pensar de cada mulher e seu tempo, é incrível o quanto essa experiência em comum, a de pertencer a um mesmo gênero que foi e ainda é uma minoria de direitos, além de representarem um legado de luta e superação, bastam para nos ensinarem e nos inspirarem em nossa luta diária para manter o que conquistamos o ousar desejar mais. E isso me recorda um trecho do poema de Fran Winant:
Coma arroz, tenha fé nas mulheres
O que eu não sei
Eu ainda posso aprender
Se estou sozinha agora
Estarei com elas mais tarde
Se estou fraca agora
Posso me tornar forte
Lentamente, lentamente
Se aprender, posso ensinar as outras
Se as outras aprenderem antes
Eu devo acreditar
Que elas voltarão e me ensinarão
Elas não vão embora do país com seu conhecimento
E me enviarão uma carta em algum momento