Ulisses

Ulisses James Joyce




Resenhas - Ulisses


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magikaw 21/10/2024

Embora seja uma leitura desafiadora, "Ulisses" é profundamente recompensador para aqueles que mergulham em suas camadas de simbolismo, humor e reflexões sobre identidade, tempo e humanidade. Um marco da literatura que continua a influenciar escritores e leitores.
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Glauber 23/09/2024

Com certeza a leitura mais desafiadora e longa que fiz até hoje. Realmente é isso tudo que falam mesmo sobre o grau de dificuldade. Foram vários os momentos que pensei em desistir mas fui a té o final.

Tirando isso, consegui aproveitar o livro com algumas técnicas. A primeira delas foi o usar o livro-guia do Galindo. A segunda foi acompanhar vídeos e playlists no youtube a cada episódio. E já no final, contei com a ajuda do chatgpt para resumir e dar dicas sobre os capítulos. Ter paciência e saber que seria um livro denso e longo também foi algo importante.

Em muitos episódios fiquei confuso e tive pouca compreensão, tentando entender mais o fluxo ou a técnica utilizada por Joyce. Acho que com isso, consegui aproveitar melhor o livro. Me trouxe leveza e uma exigência melhor de compreender cada linha.

No final, foi realmente recompensador terminar o livro e ter abraçado a dificuldade. Ter conhecido mais sobre Poldy, Dedalus e Molly. Ter estado imerso no dia de outra pessoa durante 4 meses e ter passado por tantas técnicas literárias. O livro talvez valha por isso, e muito menos por ser uma história cativante ou inesquecível como outras coisas que me marcaram. Feliz por eu ter dito sim.
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Chandler_bing 10/08/2024

Uma epopeia moderna
É de conhecimento comum que a história principal desse livro é bastante simples: acompanhamos Leopold Bloom e Stephen Dedalus durante um dia relativamente comum.
A narrativa é divida em 18 episódios com estruturas interessantíssimas (fiquei completamente obcecado). O livro é uma coletânea de diversos estilos e paródias, além do claro paralelo à Odisseia, de Homero. Por isso, a escrita tem muitas mudanças ? numa hora, a escrita é belíssima e beira à poesia, noutra é seca e recheada de termos obscuros.
O livro é dividido em 3 partes, ecoando a Odisseia: Telemaquia (acompanhamos Stephen, paralelo à jornada de Telêmaco), Odisseia (a maior parte do livro, onde seguimos principalmente Leopold Bloom, o Odisseu moderno, paralelo às aventuras de Odisseu retornando para Ítaca) e Nostos (o retorno para casa).
O livro é difícil, mas consegui aproveitar bastante a leitura (principalmente por causa da ajuda do comentário de Abdon Grilo: Ulysses, um estudo). O livro por vezes é bastante cansativo, principalmente na última parte, mas ainda assim foi divertido acompanhá-lo.
Muitas pessoas acham a história chata, mas eu me interessei genuinamente por conhecer esses personagens e não pude deixar de me emocionar no final ? especialmente com a fala final da Molly.
Escrevendo essa resenha fico com saudades desse livro, essa história me acompanhou por quase dois meses, e pretendo relê-lo no idioma original.
Poderia falar sobre Ulysses por horas a fio, mas tentei ser sucinto nessa resenha (por isso ela está bastante incompleta).
Se você está interessado nessa jornada, lembre-se de que é apenas um livro e foi feito para ser lido: pode ser difícil, mas não é impossível. Basta que digamos que sim queremos Sim.
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Tiago 29/06/2024

Se só seguirmos aquilo que entendemos, mal daremos um passo.
Em algum lugar li algo como “se só seguirmos aquilo que entendemos, mal daremos um passo”. Para a leitura de Ulysses, que tentei fazer há exatos dez anos, 2014, eu não consegui dar mais do que alguns passos, pois não saí do segundo episódio. E olhe que eu já tinha na bagagem a leitura de Virginia Woolf e Clarice, que também faziam experimentos com o fluxo de consciência e desconstruções na estrutura de suas prosas. À época eu estava lendo a tradução de Houaiss. O desafio, de todo modo, não havia sido completamente descartado. Sabia que aquele livro ainda seria enfrentado por mim. Só dez anos depois, agora em 2024, que ousei uma segunda leitura, e sem dúvida Ulysses se tornou um dos marcos literários em minha vida de leitor.

Caetano Galindo, tradutor da edição da Penguin, diferencia o enigma do mistério. Enquanto o primeiro convoca uma resposta, o segundo não. Há muitos enigmas em Ulysses. O primeiro dle é com certeza a estrutura do texto, que o leitor, a medida que toma coragem de seguir adiante, vai maravilhosamente ensinando a própria mente a se adaptar à estranheza daquela estrutura bizarra que até então ele não havia se deparado. O mistério é a visão bizarra e não solucionada de alguns personagens terem visto um outro personagem, morto, andar pelas ruas.

Há uma imensa fortuna crítica sobre Joyce e Ulysses, quase nada eu seria capaz de acrescentar a ela e não tenho aqui o interesse em repeti-la. Desejo acrescentar. Posso contribuir com o relato de minha experiência de leitura. A primeira delas é que quando o livro me fisgou de fato, eu estava no primeiro episódio em que Leopold Bloom surge. Ali eu já havia entendido que o romance de Joyce era antes de tudo um exercício com a linguagem - como todos os romances de alguma forma são, mas o são em um modelo já inventado, numa estrutura já preestabelecida, e o leitor pode até se surpreender com a história, mas não com a estrutura do texto. Aqui a invenção com a linguagem, com a estrutura de um texto, é levada ao extremo, e muito do que foi produzido depois, até hoje bebe mesmo que inconscientemente das consequências que Joyce trouxe para a literatura e outras linguagens artísticas.

É preciso amar a linguagem para fruir da leitura de Ulysses. Das possibilidades que a linguagem oferece e que podem ser expressas em um texto. O que Joyce revela com Ulysses é que não é a linguagem que nos habita, mas nós que habitamos a linguagem. Rompendo as barreiras do que é possível fazer com ela, ele mostra que seus limites são ainda inexplorados, inalcançáveis, e que ela se transforma com o tempo: para o projeto que Joyce tinha de literatura moderna, já não cabia mais um romance escrito em estrutura formal. O narrador, a narrativa, a forma e as próprias palavras deveriam sofrer uma profunda transformação. E se essa transformação é possível, é porque dentro da linguagem um escritor pode ir além dos limites que até então eram impostas a ele, não a linguagem, visto que a linguagem não tem um limite, o escritor, esse sim, tem.

Muito se repete sobre Ulysses, um livro de mais de mil páginas, tratar de um dia da vida de um personagem. Exatamente por isso, lê-lo causa no leitor uma sensação nova, de que cada sujeito, se visto como Leopold Bloom é visto, atravessa em seu dia uma odisséia. Ele portanto transforma a forma com que o leitor, se tomado pelo fato de ser um livro que põe uma lupa caleidoscópica sobre o protagonista, olha para si e para os outros: “então há isso tudo aí também em você”, ele seria capaz de falar para algum estranho ao seu lado. Não há mais nada de banal no enredo, se assim você considera, como não havia mais nada de banal em um único dia de vida. Considerando que na história da existência, passaremos mais tempo sem existir do que existindo, de fato cada dia é crucial e único.

É preciso dizer que, nessa primeira leitura, foi crucial para mim acompanhar antes de cada episódio a leitura de cada capítulo de “Sim, eu Digo Sim”, de Caetano Galindo. Nele, Caetano ensina o leitor a andar de bicicleta sem as rodas. Ele antes desenvolve no leitor de primeira viagem, sobretudo aquele que irá fazer sua introdução a Joyce com Ulysses, o prazer de estudar o romance enquanto o lê. Pois aqui se trata de um texto que considera o leitor tudo, menos burro. Muitas coisas não são dadas de mão beijada, e isso, ao invés de empobrecer a narrativa, na verdade a enriquece. Fazer o mesmo que fiz, acompanhar a leitura de Ulysses com o guia de Galindo, seria o conselho que eu daria a um leitor de primeira viagem.
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Juluzsg 25/06/2024

Uma verdadeira experiência literária
Quando leio esses grandes clássicos fico me mordendo por não escrever uma resenha completa, falando sobre toda a experiência e tudo que vivi com esse livro. Fico pensando que poderia escrever grandes coisas sobre ele, exaltar a obra, ressaltar que construção de personagens incríveis, que elementos enriquecedores trazidos.
Existem milhões de coisas que podem ser ditas após finalizada a leitura de Ulysses, mas as melhores delas em português estão em vídeos do Galindo, e outros professores universitários no YouTube que se dedicaram anos nessa obra. Foi isso que fiz durante essa leitura. Assisti muitos vídeos que comentavam Ulysses de leitores experientes e também de novatos, e acho que isso enriqueceu demais minha experiência.
Ler Ulysses é uma verdadeira experiência literária. Se entendi metade das referências feitas nele, sou uma sortuda, mas não importa, o que realmente importa é que fui até o fim e não paro de pensar em todas as coisas que aconteceram em um dia na vida de um homem. Coisas banais, mas coisas que não são ditas por nenhum romance, que quando vemos ali tão bem escritas, ficamos chocados! Como ele teve coragem?
Estou super feliz que eu também tive coragem e que agora terei para sempre Bloom, Stephen e Molly na minha memória.
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Joao.Alessandre 16/06/2024

Primeira leitura: Entendeu ? "Não, eu digo não"
Acabei agora a leitura de Ulisses. Não planejei terminar hoje mas o passo arrastado da escrita joyceana e minha característica de leitor ordinário me empurraram para este 16 de Junho. Sabia que a empresa seria gigantesca, árdua, mas tentando encorpar meu "trofismo" cultural, muita teimosia e uma dose de disciplina foi possível. Antes de começar foi interessante entrar em contato com a Odisseia, obras introdutórias do autor (Dublinenses e o Retrato do artista enquanto jovem) e Hamlet. Valeu pero não muito...
Apesar do esforço se me questionarem quanto a uma  compreensão minimamente satisfatória diria "não eu digo não". Contudo, esta leitura detonou alguns alicerces e me fizeram crescer na compreensão de formas linguísticas inimagináveis. Certamente foi um exercício revitalizante. Terminei e reinicio hoje..desta vez guiado pelo professor Galindo ( Sim, eu digo sim: Uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce - Cia das Letras). Algo inexprimível acendeu a vontade de novas incursões neste universo. Sim, sim, sim, sim...
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Rute31 16/05/2024

Ulysses foi uma experiência desejada, não caiu no meu colo por acaso, eu que fui atrás. O que prova que até as coisas mais desejadas podem se converter numa terrível maré de desgosto.

A ideia é: um homem sai de casa pela manhã e o acompanhamos até seu retorno à casa, à noite, a odisseia de um homem comum, num dia comum. É uma premissa interessantíssima, e admito que Leopold Bloom, o tal homem, é extremamente interessante, bem como a esposa Molly (cujo monólogo final salva o livro inteiro), além de Stephen Dedalus, responsável por alguns dos grandes momentos do livro também.

Foi um homem audaz e inteligente esse que escreveu Ulysses. A forma como tudo se encaixa de alguma forma é um fenômeno que está longe de ser esgotado pelos tantos artigos que vi depois que acabei o livro, que se ocupam de vários aspectos do romance. De fato, é um painel elaborado com um virtuosismo incomparável. Mas pra mim, foi só isso.
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Gi Santos 16/05/2024

Quando me propus a ler esse livro, já sabia que não seria uma leitura fácil.

É uma obra que desafia as convenções literárias, sendo uma paródia da Odisseia de Homero, "condensada" em acontecimentos de um único dia.

O personagem principal, Leopold Bloom, reflete a jornada de Odisseu, em uma narrativa que atravessa os episódios da história com profundidade e através da escrita é possível conhecer muito do psiquismo do autor.

Joyce é considerado uma incógnita, estudado pelo psicanalista francês Jacques Lacan, é um dos casos mais intrigantes e inusitados e ainda assim, em sua narrativa meio desconexa e psicótica, ele consegue explorar a complexidade dos pensamentos não filtrados e das emoções mais íntimas. Sua escrita desafia o leitor a mergulhar nas correntes turbulentas da sua mente, expondo a riqueza e a confusão do seu campo psíquico e por consequência, dos seus personagens, de maneira inigualável.

Talvez tenha sido minha leitura mais desafiadora até o momento, mas valeu à pena.
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Louis 02/05/2024

O que foi isso?
1100 páginas e 2000 questionamentos de "o que foi que eu li? O que é que eu estou fazendo aqui?"

10/10. Lerei de novo com certeza daqui uns 3 anos.
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Luciane 24/04/2024

Ulysses
Vou começar respondendo uma pergunta:
Esse é o livro mais difícil que eu já li? Sim, com certeza.
James Joyce disse uma vez: "eu coloquei nele tantos enigmas, tantos quebra-cabecas, que ele manterá os professores ocupados durante séculos discutindo sobre o que eu quis dizer, esta é a única maneira de assegurar a imortalidade de alguém".
Ele tinha razão, é necessário uma vida para compreender esse livro.
A história se passa em um dia na vida de Leopold Bloom, dia 16 de junho de 1904, que inclusive se tornou feriado conhecido como Bloomsday, dedicado a Ulysses e James Joyce.
Leopold sai de casa para andar por Dublin, enquanto Molly, sua esposa, recebe o amante em casa. Bloom também tem que ir ao enterro de um amigo, e nesse dia caminhando e indo a vários lugares ele encontra personagens que compõem a história. Um desses personagens é Stephen Dedalus, que relata seu remorso pela perda de sua mãe e ao longo do livro se encontra com Leopold e juntos conversam sobre história, nacionalismo e a xenofobia contra os judeus e muito mais.
Esse livro é indicado para leitores experientes, que já leram muitos clássicos, porque a escrita não é difícil, apesar de ser uma escrita própria de James Joyce, mas o que torna o livro é o uso do monólogo interior, fluxo de consciência de vários personagens que se misturam e as vezes o narrador falando em terceira pessoa e às vezes em primeira.
Por fim, deixo uma fala de James Joyce.
A única exigência que eu faço aos meus leitores é que devem dedicar suas vidas à leitura de minhas obras!
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3.0.3 16/04/2024

Estas areias são linguagens que maré e vento inscreveram aqui
“Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso, se não mais, pensando através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por que em? Diáfano, adiáfano. Se se pode pôr os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê.”

O que é o livro? O livro me puxa para um abismo que é um espaço de ausências seguidas, e esse abismo guarda em si o deserto onde nos movemos infinitamente; o livro é o deserto mais árido que há. Encontrar-se e perder-se nele é fantástico. É coisa de outro mundo. Aquele que detém uma parte do livro, qualquer que seja, fragmento, pedaço rasgado, já consegue sonhar outros sonhos, pois um livro pode ecoar o eco do outro que o incorporou numa vibração sutil; assim, alcança-se um diálogo silencioso e penoso, incansável, solidez que pode ser atravessada com a mão para buscar palavras além desse abismo. E sei que também voltaria abismado do abismo, sombrio e diáfano, com a mesma ausência oscilante de um livro.

Ulisses (1920), a obra-prima de James Joyce (1882-1941), é um monumento ao brilho literário e à redefinição dos limites da narrativa. Reconhecido como um dos maiores romances do século XX, Ulisses não apenas reimagina o épico de Homero, a Odisseia, mas o transpõe para o cenário pulsante das ruas e tavernas de Dublin. Em uma proeza de estilo e perspectiva, Joyce retrata as diversas facetas da vida em um único dia, o 16 de junho de 1904, conhecido hoje como Bloomsday. É uma celebração que cresce em popularidade, testemunhando a perene grandiosidade do romance e o desejo humano por alegria e comunhão.

Em vez de elevar a vida cotidiana às alturas da mitologia, Joyce inverte o processo, transformando um dia comum em um épico moderno. Cada personagem e ação são imbuídos de sentido heroico, onde até mesmo a simples tarefa de enfrentar um nacionalista embriagado em um bar se torna uma conquista lendária. Ulisses é mais do que um romance; é um mergulho profundo na alma de Dublin, vista através dos olhos visionários de Joyce.

Neste épico literário, Joyce ergue a fasquia da narrativa para além da estratosfera, levando-nos a uma jornada através da amada Dublin suja, onde cada página é um testemunho do poder transformador da escrita e da imaginação. Navegar no complexo labirinto da literatura requer uma mente afiada e uma dose generosa de paciência, mas os tesouros descobertos ao final da jornada são certamente gratificantes. Não é de surpreender que muitos desistam deste romance pelo caminho ou que simplesmente não o apreciem; afinal, esta obra é genuinamente desafiadora. Joyce, com maestria peculiar, entrelaça alusões enigmáticas e datadas, narrativas que nos envolvem em névoa densa e vocabulário invejável, criando uma odisseia literária destinada a desafiar e a intrigar. Ele mesmo admitiu ter adornado seu texto com tantos enigmas e charadas que garantiria séculos de debate entre os acadêmicos sobre seu verdadeiro significado, assegurando assim sua imortalidade.

Os leitores devem ser advertidos: este não é um romance para os fracos de coração. Há momentos em que a frustração parece prestes a nos consumir, tentando-nos a abandonar o livro. No entanto, é na segunda metade que começamos a desvendar os segredos que ele guarda, e é então que percebemos que o romance conquistou um lugar especial em nós. Ao terminar a jornada, somos surpreendidos ao perceber que estamos diante de uma das mais grandiosas obras já concebidas, e o amor por ela floresce em nossos peitos. Talvez essa sensação seja similar à experiência de quem se aventura em maratonas ou escala montanhas: uma jornada árdua, repleta de desafios, mas cuja conclusão traz consigo um orgulho e uma euforia indescritíveis. Há recompensas inúmeras a serem colhidas ao longo da leitura.

Ulisses não só exibe um talento literário incomparável, mas também oferece uma variedade de estilos que cativam e surpreendem. Muitos se esquecem de mencionar que este romance também é dotado de humor sutil. É um livro que exige que nos ensinemos a nós mesmos, que nos desafia a ir além da simples leitura. Não é à toa que estudiosos dedicam anos de suas vidas a desvendá-lo, mantendo-o ainda hoje como objeto de debate e admiração. Até o grande Ulisses precisou de auxílio em sua jornada épica.

“Arrojo esta sombra términa de mim, hominiforma inelutável, chamo-a de volta. Intérmina, seria ela minha, forma de minha forma? Quem me percebe aqui? Quem em lugar algum jamais lerá estas escritas palavras? Signos em campo branco. Em algum lugar a alguém na tua voz mais maviosa.”

A obra é uma tapeçaria literária, tecida com uma vasta gama de estilos e técnicas narrativas. A habilidade de Joyce em transitar entre diferentes formas de escrita – desde a sátira de publicações populares até a reverência aos mitos ancestrais e a aplicação de conceitos científicos à prosa – cria uma experiência de leitura multifacetada. Cada linha do romance é uma porta para um universo distinto, onde o leitor é convidado a explorar e se aventurar com a riqueza da expressão literária.

O famoso fluxo de consciência, ousadas alucinações disfarçadas de jogos, e a profusão vertiginosa de prosa, que varia de ornada a singela, demonstram o amor de Joyce pela experimentação estilística. A linguagem é frequentemente brincalhona, lírica e repleta de trocadilhos, demonstrando o talento excepcional de Joyce para a manipulação linguística. Ele até usa a estrutura das frases para transmitir movimento. Somente pela sua maestria linguística, Ulisses se destaca como uma das obras mais espetaculares já escritas, desafiando até mesmo os limites do nosso vocabulário.

Uma das características mais debatidas de Ulisses é a técnica inovadora de Joyce de imergir o leitor nos pensamentos das personagens. Não se trata de uma narração em primeira pessoa convencional; em vez disso, os personagens parecem estar inconscientes da presença de um observador em seus pensamentos. As informações emergem em rajadas desconexas e aleatórias, sem que Joyce se preocupe em fornecer clareza ao leitor. Assim como William Faulkner (1897-1962), Joyce deixa o leitor sozinho para montar o complexo quebra-cabeça narrativo.

A técnica narrativa empregada por Joyce permite uma fluidez de consciência entre as personagens, onde o leitor é frequentemente confrontado com transições abruptas de pensamento. O solilóquio de Molly exemplifica essa técnica, com os pensamentos de Boylan e Bloom se sobrepondo de maneira indistinta. A narrativa exige uma leitura atenta e reflexiva, pois a identidade do falante pode não ser imediatamente aparente, requerendo que o leitor dedique tempo para discernir a fonte dos pensamentos apresentados. A estrutura do romance é tal que acompanha os movimentos diários de Stephen e Bloom, mas não de forma linear ou contínua. Em vez disso, Joyce constrói uma narrativa polifônica que entrelaça diferentes perspectivas, permitindo que a história capture a essência de um dia inteiro. Esta abordagem oferece uma visão holística e multifacetada dos eventos, refletindo a complexidade da experiência humana e a interconexão das vidas individuais.

A noção de paralaxe, emprestada da astronomia, é transposta para a narrativa de Ulisses, servindo como metáfora para a multiplicidade de perspectivas que Joyce apresenta. Bloom reflete sobre esse conceito, que se torna um leitmotiv ao longo do romance, sugerindo que a realidade pode variar significativamente dependendo do ponto de vista do observador. Joyce utiliza essa ideia para enfatizar a subjetividade da experiência humana e a complexidade inerente à interpretação dos eventos e das relações interpessoais. Nesse sentido, os leitores são convidados a adotar uma postura ativa na construção do significado do texto, navegando por um oceano de pensamentos e imagens que, muitas vezes, parecem contraditórios ou incompatíveis. Por meio dessa técnica, Joyce desafia os leitores a reconhecer e apreciar a diversidade de interpretações possíveis, incentivando uma leitura mais profunda e engajada que vai além da superfície do texto. Ulisses não apenas conta uma história, mas também convida à reflexão sobre como as histórias são contadas e percebidas, destacando a riqueza que emerge da confluência de diferentes pontos de vista.

“Nutridos e nutrientes cérebros ao meu redor: sob lâmpadas incandescentes, pingentes com filamentos pulsando desmaiados: e na escuridão de minha mente uma preguiça do inframundo, relutando, avessa à claridade, remexendo suas dobras escamosas de dragão. Pensamento é o pensamento de pensamento. Claridade tranquila. A alma é de certo modo tudo que é: a alma é a forma das formas. Tranquilidade súbita, vasta, candescente: forma das formas.”

A diversidade de narradores é um testemunho da habilidade literária de Joyce. Cada personagem é dotado de uma voz distinta, caracterizada por um estilo, vocabulário e estrutura gramatical próprios, sendo Molly Bloom exemplo notável dessa variedade. A complexidade das vozes narrativas pode levar o leitor a questionar as perspectivas de Joyce sobre questões sociais, como sua visão sobre judeus e mulheres. No entanto, Joyce subverte frequentemente as expectativas ao apresentar pontos de vista contrastantes.

A representação das mulheres e da sexualidade é central na narrativa, o que provocou debates sobre a possibilidade de Joyce ser misógino. A descrição de personagens femininas, muitas vezes focada em sua sexualidade, e a presença de figuras como prostitutas podem ser interpretadas como reforço dessa perspectiva. Contudo, é importante considerar que Joyce pode estar explorando a complexidade da condição feminina e as normas sociais da época, em vez de simplesmente perpetuar estereótipos. A ambiguidade e a multiplicidade de interpretações são características essenciais de uma grande obra literária, convidando o leitor a uma análise mais aprofundada das intenções do autor e das dinâmicas sociais retratadas no romance.

Pelos olhos de Bloom, somos confrontados com uma visão objetificada e desprovida de remorso das mulheres como objetos sexuais, bem como uma perspectiva masculina sobre a sexualidade feminina. No entanto, com Molly, Joyce nos apresenta uma visão altamente contrastante das mulheres e de sua própria sexualidade, explorando como elas percebem não apenas sua própria sexualidade, mas também como enxergam a sexualidade masculina e até mesmo como imaginam ser vista pelos homens. Molly vislumbra a possibilidade de ter um pênis e reflete sobre a experiência de manter relações íntimas com outra mulher. Tais pensamentos, embora possam ser considerados polêmicos ou mesmo ofensivos por parte do público, devem ser examinados sob uma perspectiva ampla e enquadrados na narrativa e na construção das personagens. É crucial que a análise literária reconheça e explore a complexidade dos temas abordados, sem preconceitos ou julgamentos precipitados.

É pertinente reconhecer que James Joyce estava ciente da rigorosa censura imposta aos romances na Inglaterra e nos Estados Unidos. Frequentemente, ele incorporava trechos que desafiavam tais restrições. Não é inesperado que Ulisses tenha sido proibido nos Estados Unidos até 1934, ano em que a Suprema Corte Americana anulou a proibição, em um veredito emblemático sobre a legislação de obscenidade. Essas facetas, embora possam ser consideradas polêmicas, enriquecem e intensificam a representação da condição humana delineada por Joyce na obra.

A influência de Hamlet, de Shakespeare (1564-1616), é tão preponderante quanto a da própria Odisseia. Essa intertextualidade ressalta a natureza multifacetada das perspectivas e a intenção de Joyce em ancorar suas personagens à realidade, evitando definições ou alinhamentos claros. A obra shakespeariana é um tópico recorrente entre os intelectuais de Dublin, e um momento decisivo do romance é marcado pela análise de Stephen Dedalus sobre Hamlet, desvendando, assim, camadas dos temas centrais da obra. Desde as ideias do papel de Stephen como Telêmaco em busca de um pai substituto em Bloom, até os pensamentos contínuos sobre o adultério, tudo se desenrola durante a palestra de Stephen sobre Hamlet. No entanto, essa cena também demonstra que Stephen é uma figura de Hamlet, assim como Bloom é uma figura do falecido Rei, e que Molly pode se encaixar no papel da Rainha traidora, assim como Penélope.

“A arte tem de revelar-nos ideias, essências espirituais sem forma. A suprema questão sobre uma obra de arte está em quão profunda é uma vida que ela gera. A pintura de Gustave Moreau é a pintura das ideias. A mais profunda poesia de Shelley, as palavras de Hamlet, põem nosso espírito em contacto com a sabedoria eterna, o mundo das ideias de Platão. Tudo o mais é especulação de estudantezinhos para estudantezinhos.”

É interessante observar que muitos dos personagens, especialmente Mulligan, são baseados em pessoas reais com quem Joyce interagiu. Stephen explora como os personagens de Hamlet correspondem à própria família de Shakespeare, assim como esses personagens se assemelham aos que cercam Bloom e aos que cercavam Joyce. Stephen também é altamente representativo do próprio Joyce. Ele foi o protagonista do romance semi-autobiográfico de Joyce, Um retrato do artista quando Jovem, e neste romance o vemos continuar sua busca pela arte. Em um cenário de discussão, ele se posiciona ao lado de um recém-nascido, debatendo a relevância entre a vida da mãe e a do filho no momento do nascimento. Essa postura revela suas ideias sobre a arte como uma criação de valor inestimável – como se cada pincelada, cada nota musical, fosse um gesto de dar à luz à própria essência da vida. Essa delicada metaficção é apenas uma das inúmeras estratégias pelas quais Ulisses cativa os leitores. Artesão habilidoso, Joyce tece palavras e conceitos, criando um mosaico que transcende o tempo e nos envolve em sua magia.

James Joyce escapa dos clichês com maestria, desenvolvendo uma trama de personagens complexos. Leopold Bloom, por exemplo, é uma contradição ambulante, um verdadeiro enigma: judeu e batizado, oscila entre a figura paterna e os desejos maternos, desafiando as normas de gênero. Seu coração gentil às vezes se contradiz com críticas aos outros por sua própria gentileza. Longe de ser isento de falhas, Leopold Bloom é um sedutor desavergonhado. Pelas ruas de Dublin, suas intenções lascivas em relação às mulheres não passam despercebidas. Ele é um dançarino da vida, sempre em movimento, como se buscasse escapar das sombras do passado. A tristeza o persegue, e os pensamentos sobre as transgressões de sua esposa pesam sobre seus ombros, como se a fuga fosse seu destino inevitável. Assim, Bloom, com sua humanidade multifacetada, é um dos personagens mais encantadores da literatura.

No emaranhado das palavras, a “união” entre Bloom e Stephen é fio invisível, laço sutil a transcender o óbvio. Como pássaros em voo, cruzam-se, divergem e se entrelaçam: casamento de almas, não de convenções. Stephen, o artista atormentado, e Bloom, o observador silencioso, movem-se na penumbra da linguagem. Desencontros e desafios marcam sua jornada, mas cada novo choque reinaugura suas essências. Mapa de encontros e despedidas, Ulisses fia destinos com laços de mistério e significado. Como observou Jung, o encontro de duas personalidades é como o contato entre duas substâncias químicas. Se houver alguma reação, ambos se transformam. Essa toada ressoa na interação entre Bloom, Stephen e outros personagens, destacando a transformação mútua que ocorre quando personalidades tão distintas se encontram e se envolvem em um diálogo interno e externo no romance.

Ulisses não é um romance fácil à primeira vista, mas vale o esforço investido. A sua prosa é intimidadora, mas, com paciência e orientação, o romance se revela uma verdadeira obra-prima, permitindo que o leitor mergulhe na linguagem de Joyce. Há uma riqueza de técnicas e enigmas a serem desvendados, tornando a leitura gratificante. Além disso, Ulisses é hilário em muitos momentos, acrescentando uma camada de humor à complexidade da narrativa. Joyce deixou um legado na literatura com Ulisses, que hoje é merecidamente reconhecido como um dos maiores romances do século XX. Esse livro, portanto, merece ser lido, pois nele cada palavra ganha vida na mente do leitor.

“Stephen fechou os olhos para ouvir as botinas triturar bodelha e conchas tagarelas. Estás andando por sobre isso algoqualcerto. Estou, uma pernada por vez. Um muito curto espaço de tempo através de muito curtos tempos de espaço. Cinco, seis: o nacheinander. Exactamente: e isso é a inelutável modalidade do invisível. Abre os olhos. Não. Jesus! Se eu cair de uma escarpa que se salta das suas bases, caio através do nebeneinander inelutavelmente. Até que estou deslocando-me bem neste escuro. Minha espada de freixo pende a meu lado. Tacteia com ela: é assim que se faz. Meus dois pés nas botinas dele estão no final de suas pernas dele, nebeneinander. Soa maciço: feito pelo malho de Los Demiurgos. Estou eu andando para a eternidade ao longo do areal de Sandymount? Tritura, tagarela, trila, trila. Dinheiro do mar selvagem. Dômine Deasy sabe tudinho.”
Luå 16/04/2024minha estante
Suas resenhas são muito lindas, você escreve muito bem ??




Dressa gratiluz 04/04/2024

Ulisses/ Ulysses
"Como diria Sócrates: 'só sei que nada sei', e o fato de saber disso já me coloca em vantagem diante daqueles que pensam saber de alguma coisa. Até porque, é praticamente impossível um ser aprender aquilo que ele acha que sabe, e sinceramente, eu realmente não sei, kkkkkk."

Fiquei absurdamente perdida nesse fluxo de consciência. O livro apresenta a história que se passa em um dia, mas para mim pareceu que foram séculos. É realmente complicado se manter engajado em uma leitura tão extensa da qual não estamos conseguindo compreender ao certo. Esse amontoado de ideias e informações me passaram uma estranha sensação, além de estranheza e enigmatismo, a sensação de frustração. Foi uma leitura sofrida, que eu claramente não estava pronta para fazer. Realmente são poucos que leem, pois são poucos que têm a paciência e vontade de querer ler.

Espero retomar essa leitura no futuro e conseguir fazer uma avaliação mais positiva, mas por enquanto, infelizmente, não consegui de fato dizer que gostei!
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Henrique.lll 20/02/2024

Introibo ad altare Dei
Comecei a ler Ulysses pela segunda vez com a intenção de entender melhor essa obra tão conhecida por ser desafiadora. Ao chegar no final, descubro que agora sei ainda menos do que sabia antes. A impressão é que daqui pra frente essa será a sensação que vou ter a cada nova releitura. Apesar disso, acredito que quanto mais você entende o que não sabe sobre esse livro, mais dele você absorve. Isso pode parecer frustrante, mas na verdade foi uma das sensações mais recompensadoras que tive ao chegar no fim de uma leitura.

É importante salientar que a dificuldade não está exatamente no conteúdo, na erudição ou na robustez do livro, mas sim na sua forma. Por exemplo: nos diálogos, pela falta de sinais gráficos como aspas ou travessão, torna-se confuso entender os diálogos com clareza, pois não sabemos ao certo o que foi dito por cada personagem, narrador ou ainda se aquilo está apenas na mente deles. Ao concatenar isso com a exuberância e alta frequência dos fluxos de consciência, além dos monólogos presentes no romance, evidentemente fica fácil se perder. Ou seja, Joyce respeita o leitor e o deixa desfrutar do prazer de exercitar a mente durante a leitura.

Trata-se de uma obra satírica, tendo como base a "Odisseia", de Homero. As referências estão presentes de forma totalmente subversiva, buscando criticar o ideal hegemônico do herói masculino, que na época era principalmente utilizado como propaganda política para propagar o fanatismo patriota na Irlanda, promovendo assim violência e guerra. Além disso, "Ulysses" também pode ser considerado uma continuação do romance autobiográfico de James Joyce, "Um retrato do artista quando jovem".

Em uma história contada ao longo de mais de mil páginas (levando em consideração a edição da Penguin), é difícil de imaginar que a trama se passa em apenas um dia na cidade de Dublin de 1904. As referências, além da Odisseia, vão desde o eterno retorno de Nietzsche, Shakespeare e até mesmo Jesus. Apesar de em primeira instância isso junto de outras características da obra faça parecer tudo muito caótico e desordenado, Joyce organiza as suas ideias com maestria em uma trama coesa, tornando-se assim o autor de um dos maiores romances sobre o cotidiano da história.

Com um monólogo de 8 parágrafos frenéticos, incessantes e praticamente sem pontuações da personagem Molly Bloom, a obra tem o seu encerramento entregue de maneira gratificante para quem cumpre o desafio de chegar ao seu final. Não é por falta de motivos que essa passagem foi a mais marcante e famosa do livro. Acredito que, em sua totalidade, "Ulysses" é nada mais nada menos do que um presente soberbo para todos aqueles que são fissurados por literatura, principalmente se for de língua inglesa.
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Tiago 16/01/2024

A experiência de ler Ulysses
Dizer que Ulysses foi o livro mais difícil que já li, apesar de verdade, seria reduzir demais o que foi a experiência de ler Ulysses.

Optei por fazer uma leitura descompromissada, no sentido de que não me preocupei em resgatar todas as referências à Odisseia.

Ao invés disso, me deixei levar e fui enredado no fluxo narrativo. Me deixei encantar pelo texto de Joyce. Muitas vezes me peguei pensando no processo de tradução de uma obra como essa. Aliás, um viva para Caetano Galindo, um dos maiores tradutores brasileiros e responsável pela tradução da edição da Penguin e da Companhia.

Talvez pudesse ter feito uma leitura guiada. Há muitos roteiros e cursos disponíveis. O próprio Galindo publicou uma obra inteira dedicada a introduzir Ulysses. Quem sabe futuramente.

Enfim, Ulysses não é só mais um livro. Não serve só para contar como mais uma leitura do ano. Ler Ulysses é uma experiência única!
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Manu 12/01/2024

Inexplicável
Um livro repleto de fluxo de consciência que se mistura com as ações dos personagens. ler esse livro foi uma ótima experiência apesar de q eu sinto q n captei mtas das intenções do autor
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