Felipe.Siqueira 16/05/2020Escrito pela cearense Rachel de Queiroz, quando ela tinha apenas 19 anos ( o que me faz me sentir burro, rsrs), o romance O Quinze retrata a severa seca vivida no início do século passado, no ano de 1915.
Seguindo a tendência modernista de "abrasileirar" a literatura nacional, Rachel escolheu seu local natural para retratar em seu primeiro livro, cuja criação se deu a partir de vivências pessoais e histórias que sua família lhe contava.
Os personagens protagonistas desta obra são Conceição e Vicente - ela professora, assídua leitora e com comportamentos e pensamentos um tanto à frente de seu tempo; ele vaqueiro, completamente integrado ao seu serviço na fazenda - com tantas distinções, eram apaixonados. Além do cenário castigado do sertão que ambos se inseriam, com esse casal, Rachel nos quis mostrar que o orgulho, entre tantas outras denotações que convém ao caráter humano, é capaz de abalar e destruir algo que estava enraizado, mas que não chegou a florescer.
Paralelas a esta história, temos as vidas de Chico Bento, Cordulina e seus filhos, obrigados a saírem de sua terra em busca de uma situação de vida melhor, mas se deparam com caminhos mais cruéis e situações desoladoras que nos fazem extasiar. Esses personagens, na minha concepção, dão ao livro o seu real sentido, pois trazem consigo temas que até os dias de hoje são recorrentes na região Nordeste, como a emigração, por exemplo. A lacuna deixada pela autora, quanto a eles, poderia ter sido preenchida pela vitória sobre a miséria que eles tanto mereciam.
Por fim, deixo a célebre frase de Mário de Andrade quando se referiu ao livro de Raquel, dizendo que ele "é mais do que uma conversão da seca à realidade, é uma conversão à humanidade".