Jardim de histórias 01/11/2023
Os 15 minutos que derrotaram 15 anos de opressão
Ao ler Antonio Skármeta, pude perceber a facilidade em que o autor consegue anexar suas belíssimas histórias em contextos históricos, em especial, por mencionar o clima chileno durante o período do golpe militar, que derrubou Allende. Mesmo sendo em um romance leve, ele consegue trazer o obscurantismo da ditadura de Pinochet, a descrevendo de forma robusta e visceral, quase que um documento de quem vivenciou tudo isso.
A obra "O dia em que a poesia derrotou um ditador", assim como" O carteiro e o poeta" vão trazer a tona, de forma quase documental, um clímax bem parecido, uma trará o período do golpe e exílio de Pablo Neruda e a outra, o período após o golpe, quinze anos depois e seus efeitos, os dramas, os sentimentos de vazio, às incertezas. Achei o livro sutil, sensível e, ao mesmo tempo, profundo por conta da ambientação, que é uma característica de Skármeta, dando textura, facilitando a captação contextual.
Esta obra, conta um fato histórico, que ocorreu em 1988, após quinze anos de ditadura. Devido a pressões externas, houve uma decisão de se obter respostas populares, o governo, então, idealizou um plebiscito, com esta manobra, e a falsa ideia de democracia, o governo certo de sua vitória, criou uma votação por continuidade da atual gestão, a chapa "sim" ou o fim desta era descrita por muitos como sombria, a chapa "não ". Vale lembrar, que este fato histórico, ocorreu em um período onde opositores eram sequestrados, torturados, em tempos de canhões, bombas e tiros, o descrédito de muitos, associado ao medo, dava uma sensação de que seria impossível alterar o atual cenário, que para muitos, era a analogia de Davi contra Golias, e surpreendentemente, os quinze minutos disponíveis para a campanha televisiva autorizado pelo governo, venceu os quinze anos de opressão.
A história se inicia, quando Santos professor de filosofia é sequestrado e esse fato é introduzido e narrado também através do ponto de vista do adolescente Nico, seu filho, o que dará nuances sensíveis de um olhar de imaturidade em um clima bem pesado. Também, haverá de forma intercalada, capítulos narrados pelo publicitário Adrián Bettini, vítima direto das atrocidades do período, que recebeu a incumbência de coordenar a campanha anti Pinochet.
O livro é muito legal, com um olhar contundente e filosófico para a ética, colocando questões de que "o certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo".
Ao realizar uma breve comparação com "o carteiro e o poeta" que envolve Pablo Neruda no seu período de exílio, os dois, tem uma dinâmica bem parecida. Em virtude aos fatos históricos contidos na trama, um breve tutorial, bem básico, com poder introdutório para uma ambientação contextualizada, auxiliará muito na compreensão da obra, tornando-a mais aprofunda. Caso queira simplesmente abrir o livro é se aventurar, também, sem problemas, a leitura é suave, deliciosamente fluída. Boa leitura!