Cássia 02/11/2016Quando um longínquo planeta tem seus recursos naturais cada vez mais escassos, e a sobrevivência daqueles habitantes cada vez mais difícil, uma missão é dada: vir à Terra e construir uma espaçonave para buscar os últimos sobreviventes de Anthea. E assim, Thomas Jerome Newton "caiu" na Terra com um plano exaustiva e meticulosamente elaborado. Passara anos a fio estudando os seres humanos e tudo o que havia neste planeta tão rico. Quando sai de sua nave, porém, não imaginava que a gravidade seria tão pesada e difícil de aguentar. Isso os livros não diziam, mas sabia que após anos, poderia se acostumar. Seu objetivo era simples, mas precisava enriquecer para coloca-lo em prática. Thomas Jerome Newton era um antheano e possuía muitas peculiaridades em sua aparência. Umas delas era pela sua altura, muito grande para os padrões dos Eua; bem como sua magreza, sua pele bronzeada e um cabelo tão branco quanto um algodão. Era fácil ser notado. Chegou de Anthea trazendo consigo vários projetos eletrônicos básicos, e precisava patenteá-los. Foi então que procurou Farnsworth, um advogado especialista em patentes. Tinha pressa em colocar o plano em prática, e principalmente, sede.
Seus projetos foram patenteados e então vem a fortuna tão esperada. Agora o senhor Newton é dono de uma das maiores corporativas de eletrônicos do mundo. Suas obras são dotadas de uma tecnologia bastante requintada e evoluída. Pudera, antheanos possuiam, no mínimo, o dobro da nossa inteligência. Até aí, anos já se passaram e agora o sr Newton conta com a ajuda de sua governanta (e também alcoólatra), Betty Jo. Porém, o que não esperava, e nem mesmo podia imaginar, é que também fosse gostar tanto do álcool.
A narrativa acontece sob o ponto de vista de dois personagens, basicamente. O protagonista, Thomas Jerome Newton e o outro, um engenheiro químico chamado Nathan Bryce, o qual iniciou uma busca incessante pelo sr Newton após descobrir alguns de seus feitos. Como se tratava de coisas muito modernas, como por exemplo, uma máquina fotográfica que se revela sozinha e ainda conseguia ser incrivelmente nítida, Nathan desconfiou que tal tecnologia vinha de outro mundo - literalmente. Tal desconfiança ganhou ainda mais forma depois de conhecer o seu ídolo, pois tratava-se de uma pessoa bastante reclusa, com hábitos peculiares e aparência distinta. Nathan Bryce sentia pelo sr Newton uma admiração muito grande, que inclusive beirava ao medo. Sentia-se desconfortável na presença dele, mas Newton logo viu em Bryce uma fagulha de esperança.
E então, completamente solitário neste mundo tão diferente, sr Newton encontrou na bebida algo muito maior do que apenas um vício. Encontrou também a fuga para a sua constante tristeza. Era a única coisa capaz de anestesiar a sua dor e entorpecer seus sentimentos. Sentia saudades de Anthea e de seus familiares e amigos mas, agora, algo maior o assombrava: a responsabilidade de sua missão. Via-se em um impasse. Já não sabia mais se era isso o que realmente queria fazer. Fora escolhido para desempenhar esta missão devido a sua capacidade física e facilidade em adaptação, mas não previra o que poderia lhe acontecer psico e emocionalmente. Tanto tempo vivendo como humano, passou a se sentir como um.
Depois de anos agindo como tal, falando sua língua com um sotaque exaustivamente ensaiado, é possível perceber que ao mesmo tempo que se sente deslocado, Newton sente que começa a perder a sua essência. Quando se depara com sua imagem nua e crua refletida no espelho, Newton não sabe mais quem ele de fato é. Pronuncia algumas palavras em antheano, e as palavras saem com dificuldade. E isso é triste, pois depois de todo esse tempo, Newton aprendera a pensar como humano: havia se tornado um homem muito ambicioso e se deixado levar até mesmo pelo vício; mas estava aprisionado em um corpo completamente diferente daquilo que (penso eu) gostaria de ter. Além do mais, sua desolação era algo muito maior do que sua sanidade conseguiria suportar.
Mesmo com toda a riqueza que tanto almejava e seu plano em andamento, Newton ainda se sente extremamente solitário e então, longas ondas de uma crise existencial começam a fazer parte de sua vida de forma cada vez mais contínua. Quando chegou de Anthea, sentia que podia salvar não só seus conterrâneos, mas também a nossa Terra do perigo iminente que a assolava. Sentia um apreço muito grande pelos humanos, mas depois de ter vivido uma experiência não muito agradável, seu mundo desmorona. Não sente raiva dos humanos, tampouco mágoa, mas sim, decepção. Ao mesmo tempo, uma angústia porque sabia que mais cedo ou mais tarde, eles acabariam destruindo este mundo tão lindo e com água tão abundante. E talvez agora seja isso mesmo o que ele deseja. Talvez a única maneira de acabar com a sua tristeza e solidão seja deixar se levar e morrer junto com os outros. Talvez aqueles da sua espécie estejam a salvo longe da Terra. Talvez...
É um livro bastante profundo e nos remete não só à solidão e a tristeza de um alienígena deslocado, mas também, à crise existencial de um homem prestes a perder a sua verdadeira identidade, devido a insanidade que um pesado fardo lhe proporcionara.
É um ótimo livro. Recomendo.