Bernardoo 30/07/2024
Esconderijos do Tempo - Mário Quintana
O que me encanta em Quintana é a sua simplicidade equilibrada com a transcendentalidade; seus versos são claros e diretos - o que me faz lembrar de uma frase em que ele disso sobre a sua escrita não ser classista, sendo, assim, o movimento do cotidiano do brasileiro -, mas, ao mesmo tempo, a sua poesia é uma linha no horizonte que supera o óbvio, justamente por tanto enfatizá-lo: Mario Quintana utiliza das coisas mais simples e belas da vida - tão acomodadas à nossa rotina que fazem-se despercebidas da nossa atenção - como algo transcendente, mágico, coisa de outro mundo!
"Nossos gestos eram simples e transcendentais."
- Poemas que coloquei na minha bagagem:
"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."
"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."
"[...] se levares apenas as visões deste lado, nada te será confiscado:
todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho
? a sua única felicidade!"
"A vida é uns deveres que nós trouxemos
para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo... Quando se vê, já é 6ª-feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado... E se me dessem ? um dia ? uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas."
"[...] morrer é simplesmente esquecer as palavras.
E conhecermos Deus, talvez,
sem o terror da palavra DEUS!"
"Porque tudo aquilo que jamais é visto ? não existe..."