vdevinicius 15/11/2022
A ciência é a heroína
Existe uma certa vantagem em reler um livro, que é estar acostumado com algumas características e passar por cima delas, aproveitar a leitura pelo que ela é e não pela expectativa de ser. Acho que por isso, por saber do caráter grandioso, de séculos, da trilogia da Fundação e do pouco tempo destinado a personagens, pude aproveitar melhor a história. Não existe um grande desenvolvimento doa personagens e nem muito tempo para se apegar. E, mesmo assim, me apeguei a vários, me emocionava, torcia. Por saber que a historia seria de um jeito, pude aproveitar ela melhor, pude me treinar para captar os detalhes, especular o maior.
Fundação é uma série de muitos detalhes. É uma trilogia megalomaníaca, de muitos planetas. A potencialidade disso, sozinha, já me explode a cabeça. Só de imaginar todas as questões políticas e sociais, históricas e atuais, da Terra, aplicadas a milhares de planetas conectados em um grande Império Galáctico, que por sua vez está caindo e levando a barbárie... As possibilidades de enredo e história são infinitas! Ainda assim, os livros são sucintos. O autor, o gênio Asimov, não se estende muito nos detalhes. E entrega todos eles nos detalhes mesmos. É uma frase que entrega a situação política. Outra frase revela o clima social. É um trabalho minucioso que não tenta entregar tudo fácil - apesar de que está tudo ali. Saber essas questões me facilitou entender e captar a história.
Mesmo assim, existem ainda outras vantagens em reler um livro, em especial um que eu lembro bem pouco. Reler essa trilogia foi uma montanha russa de emoção e surpresa: eu não lembrava de nada. Essa trilogia é uma obra prima de ficção científica sociológica. É uma das provas de que "soft science fiction" não tem nada de soft. Existe muita cabeça e muita criatividade pra pensar nisso tudo. A história, sozinha, é surpreendente.
No fim, é uma ode, um hino à ciência. E é nisso que a história mais me capturou: quando eu percebia que no fundo eu não me apegava a nenhum personagem específico, nenhuma PESSOA, que vive seus setenta, oitenta anos. No fundo, eu me apegava à Fundação, que vive séculos, e torcia para que ela desse certo. Me angustiavam os perigos pelos quais a Fundação passava, os momentos tortuosos, e eu ficava feliz e aliviado pelas soluções. Fui completamente capturado pela trilogia.
A Fundação (ou As Fundações) é a representação física e simbólica da ciência, e é a verdadeira protagonista dessa história. Apenas pela ciência existe a salvação da barbárie.