As benevolentes

As benevolentes Jonathan Littell
Jonathan Littell




Resenhas - As Benevolentes


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 27/05/2010

Jonathan Littell - As Benevolentes
Editora Objetiva - Selo Alfaguara - 905 páginas - Publicação 2007 - Tradução da edição francesa por André Telles.

Vencedor do prêmio Gouncort de 2006, este é um livro difícil de ler e ainda mais difícil de se resenhar. Jonathan Littel escreveu um romance histórico sobre a Segunda Guerra com foco na campanha alemã do leste europeu e o extermínio sistemático de judeus e outros grupos étnicos, utilizando como recurso ficcional as memórias do protagonista Maximilien Aue, oficial da SS nazista que participou dos eventos principais ocorridos na Polônia, Rússia, Hungria e a derrota final do exército alemão com a tomada de Berlim pelos aliados. A crítica especializada se dividiu entre a adoração irrestrita, comparando Littell a Tolstoi em um novo "Guerra e Paz" (crítica do jornal Le Monde) a acusações sobre excesso de violência e pornografia (ver resenhas da tradução para o inglês dos jornais Times, Guardian e The Independent).

Ao colocar o seu protagonista na pele do carrasco, Littell tenta nos fazer entender o absurdo da guerra e do destino que faz com que um homem inteligente e culto como Maximilien Aue se veja envolvido em ações de extermínio em massa como o massacre de Babi Yar no front do Cáucaso, a batalha sangrenta entre russos e alemães pela posse de Stalingrado e o funcionamento dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau. Surpreende neste romance o nível de pesquisa e detalhamento do autor que utilizou personagens históricos como Heinrich Himmler, Adolf Eichmann, Albert Speer, Rudolf Hess e Adolf Hitler, além de descrever todo o mecanismo burocrático do exército alemão. A seguinte declaração de Jonathan Littell explica a sua opção pelo protagonista nazista: "Eu jamais poderia avançar se ficasse no registro da recriação ficcional clássica, com o autor onisciente, como Tolstoi, que arbitra entre o bem e o mal. A única maneira era me colocar na pele do carrasco".

Ao longo da narrativa de 900 páginas, enquanto o mal é exercido em toda a sua plenitude pelos homens e os fatos históricos demonstram não haver esperança possível, Maximilien Aue é atormentado por seus próprios fantasmas, uma paixão impossível pela irmã gêmea que o faz assumir o homosexualismo como opção de vida e a participação no assassinato da mãe e do padrasto na França. O autor por vezes parece querer realmente nos chocar com detalhes das ações de extermínio praticadas pelos nazistas, mas não tenho dúvidas do valor literário do texto que tem passagens inesquecíveis nos monólogos de Maximilien Aue. A introdução do romance deixa claro o que vem pela frente:

"Irmãos humanos, permitam-me contar como tudo aconteceu. Não somos seus irmãos, vocês responderão, e não queremos saber. É bem verdade que se trata de uma história sombria, mas também edificante, um verdadeiro conto moral, garanto a vocês. Corre o risco de ser um pouco longa, afinal aconteceram muitas coisas, mas, se calhar de não estarem com muita pressa, com um pouco de sorte arranjarão tempo".

Fico imaginando por que Jonathan Littell escolheu um tema tão difícil e desagradável para escrever, ele próprio nascido em Nova York, numa família judia. O mal, sempre presente, é o maior protagonista do romance que, apesar de tudo, é brilhantemente escrito em todos os momentos. Literatura pura, apesar da dor que provoca.
Érika dos Anjos 28/05/2010minha estante
Nossa... fiquei arrepiada com a sua resenha. Muito boa mesmo. Acredito piamente no que vc disse sobre ser difícil escrever algo em cima de uma obra complexa como essa. Parabéns pela resenha e, principalmente, pela leitura.


Felipe 04/01/2012minha estante
Com a sua resenha, economizo a minha. Avalizo integralmente as suas percepções e confesso o mesmo entusiasmo pelo livro; de fato a introdução se justifica: se calhar de não estar com muita pressa, é uma bela imersão na realidade infernal do personagem.


Michel 25/04/2012minha estante
Tua resenha, junto com a de Moacir Scliar (não sei se o nome está correto) já dizem tudo sobre o livro. Apesar de ter mais de 800 páginas , e ser recheada de diálogos complexos, sua leitura fluiu de tal forma que nem vi o fim do livro chegar. Não posso dizer que já foi o melhor livro que li, pois já me deparei com muita coisa boa mas, com certeza, está entre aqueles que me marcaram...


Lucia 14/11/2012minha estante
Fui adicionar o livro na minha lista e topei com a sua resenha. Excelente, Motivou-me a inciar uma releitura, pois como foi comentado por outros leitores não é um livro fácil e certamente vale uma segunda leitura, apesar do tamanho e da dor...


Regina 21/03/2017minha estante
Levei três meses para ler, parei várias vezes. Senti muita tristeza em alguns momentos e, em outros, muita repugnância mas consegui ir até o fim. Restou-me grande admiração pelo autor por escrever uma história tão detalhada. Recomendo a leitura porém alerto que não é um livro fácil.


AnaCris 31/12/2020minha estante
Excelente resenha. Um livro magnífico e perturbador. Dispensou-me de fazer minha própria resenha, pois nada teria a acrescentar.




Bertizola 24/08/2012

Livro publicado em 2006 recebeu a mais importante premiação francesa,o Prêmio Goncourt e vendeu mais de 700 mil exemplares naquele ano.

O autor Jonathan Littell tem em seu currículo todos os ingredientes necessários para compor uma história de ficção baseado num fato tão marcante com a Segunda Guerra Mundial, pois nascido numa família judia, foi educado na França e trabalhou em grupos humanitários contra a fome na Bósnia, Tchetchênia, congo e Afeganistão.

Normalmente lemos histórias de guerras baseadas nas vidas das vítimas. Este conta a história da segunda guerra pela ótica do carrasco de uma oficial nazista do alto escalão, Dr. Maximilien Aue. Essa visão do carrasco é interessante, pois coloca em evidência os atos atrozes, segue um diálogo ocorrido em Stalingrado a caminho da câmara de gás:
....Um homem de certa idade, vestido com distinção,...aproximou-se de mim. Carregava um bebê nos braços. Tirou o chapéu e dirigiu-se a mim num alemão perfeito: "Herr Offizier, posso lhe dizer uma palavrinha? - "Fala muito bem o alemão", respondi -"Fiz meus estudos na Alemanha", disse, com uma dignidade um tanto rígida. "Era um grande país antigamente". Devia ser um dos professores em Leningrado. "Que tem a me dizer, perguntei secamente. O garotinho,, que se prendia ao pescoço do homem, fitava-me com grandes olhos azuis. Devia ter uns dois anos. "Sei o que faz aqui", disse serenamente o homem. "É uma abominação. Queria simplesmente que o senhor sobrevivesse a essa guerra para, daqui a vinte anos, acordar todas as noites aos berros. Espero que não consiga olhar nos olhos de seus filhos sem ver os nossos que vocês assassinaram"....

Chama a atenção também as estratégias de combate, promoções e corrupção dentro do partido nazista.

Como ressalva, penso que o autor podia ter omitido passagens da opção sexual do personagem Dr. Aue.

Enfim, que são As Benevolentes? Seriam as bondosas, complacentes e tolerantes almas vitimas desse terrível massacre?

Cinai Machado 24/08/2012minha estante
Puxa tem de se estar preparada p/ esse livro...
Tenho certeza de que vou gostar, todo livro sobre a guerra que me cai as mãos aprecio muito.
Deve ser muito boa a experiência de se ler o autor, pois o que ele não deve ter presenciado em: Bósnia, Tchetchênia, Congo...
Verdade quem seria As Benevolentes? O titulo é traduzido do original??
Valeu a dica!!
Abç


Bertizola 25/08/2012minha estante
Olá Orquidea,
Gostei muito da leitura, aprendi muito sobre a segunda guerra, pois a cada fato novo ocorrido eu ia na internet para me aprofundar....apesar das 912 páginas valeu a pena. Tanto que deu 4 estrelas para o livro. Abç.


LuliFiedler 29/09/2014minha estante
"As Benevolentes" era um eufemismo para as Erínias gregas (as Fúrias na mitologia romana). Chamavam-nas assim para evitar dizer seu verdadeiro nome. Elas eram personificações da vingança que puniam os mortais pelos seus crimes. Eram Castigo, Rancor e Interminável (não lembro os nomes originais). Viviam no Tártaro, com a função de torturar as almas pecadoras. No caso do livro, As Benevolentes representam os demônios que perseguem Aue. Sua punição com crises de vômitos, alucinações e etc. Nenhuma dessas conclusões são minhas, li em blogs de crítica literária depois que li o livro. Tive essa mesma dúvida. rss




Andreia Santana 15/07/2022

Anatomia de um crime contra a humanidade
Os piores castigos impostos pelas Erínias bastariam para apagar da memória coletiva os horrores da II Guerra Mundial e do nazismo? Maximilien Aue, protagonista de As Benevolentes (Alfaguara, 2007) se faz essa pergunta enquanto desfia um rosário de misérias diante do leitor atônito. Com quase mil páginas, essa é leitura árdua tanto pelo volume do livro quanto pela complexidade, crueza e opressão do tema.

Protagonista desse inquietante e premiado romance histórico do escritor franco-americano Jonathan Littell, Max Aue é um oficial nazista que décadas depois do fim da guerra e tendo escapado do expurgo (os julgamentos e as execuções de ex-servidores do III Reich), vive uma pacata vida de comerciante de peças de renda na França.

Idoso e com um problema de saúde constrangedor no intestino, ele oferece um relato que oscila entre a crueldade e o delírio, da campanha alemã na Rússia e no Leste Europeu. De certa forma, ler esse livro no meio da guerra provocada após a invasão da Rússia à Ucrânia, em fevereiro de 2022, facilita o entendimento das rivalidades entre esses dois países vizinhos e da complexa geopolítica do pós-guerra.

Além da história muito bem contada, o livro de Littell também traz uma riqueza de informações históricas e um providencial glossário com as patentes dos militares do Reich e as expressões típicas da caserna ou da cultura alemã, para ajudar o leitor a entender melhor a quantidade exorbitante de dados que compõem o romance. Dados esses que mesmo armazenados na frieza dos números – ele divulga as estatísticas de mortos entre judeus, ciganos, soldados russos, soldados alemães e civis, por exemplo, – revelam a dimensão apocalíptica dessa guerra.

As situações de abuso moral, psicológico e físico – principalmente sexual – da população civil dos países invadidos e das vítimas de extermínio reviram o estômago até de quem é acostumado com as histórias mais cruéis que a literatura já engendrou. Essa narrativa, em muitas passagens bastante escatológica, enfatiza o lugar do estupro como um crime de poder e humilhação. E isso causa repulsa e um desconforto que grita na alma do leitor.

Acredito que o autor desceu tão fundo na lama com a intenção menos de chocar ou de fetichizar esse tipo de violência visceral [e é importante ressalvar que no caso da guerra, é uma violência acima de identidades de gênero, faixa etária ou país de origem das vítimas]; e mais no intuito de advertir, de botar o dedo acusador na ferida.

Ao mesmo tempo em que narra as situações mais escabrosas e humilhantes vividas pela população dos países ocupados, demonstra que quem cometeu tanta atrocidade era gente comum, mediana, do tipo que se encontra em uma esquina, na padaria, no piquenique no parque. Ainda assim, gente que se habituou ao racismo e à xenofobia quase como se fossem traços culturais. O que é triste e revoltante.

Esse livro árido e sufocante tem ainda suas armadilhas, já que o leitor é apresentado aos fatos pelo olhar subjetivo e bastante contaminado de Max Aue. É o carrasco sem remorsos na velhice, praticamente indiferente e resignado a essa indiferença, quem revela os pavores de sua juventude como um autoconsolo para a própria consciência. E sem muito desejo de arrependimento.

Max Aue é esquizofrênico [ele já tinha alucinações antes de ir para o front e a guerra só piora sua condição] e nutre, desde criança, uma paixão incestuosa pela irmã gêmea, ao mesmo tempo em que coleciona jovens soldados como amantes. Ele se esconde em um armário com portas de vidro, como muitos outros oficiais da época, porque as pessoas LGBTQIA+ também pereceram nos campos de concentração, é importante não esquecer dessas vítimas do nazismo.

No alto oficialato nazista, a pena para relações homossexuais era o fuzilamento ou o envio aos campos de concentração. No entanto, ao criar um personagem gay que precisa demonstrar a todo tempo uma masculinidade exacerbada de forma tão selvagem e tóxica para preservar a própria vida, Littell toca em um ponto sensível e importantíssimo da cartilha das ditaduras e dos regimes totalitários: o controle extremo e total do indivíduo, de sua identidade, dos seus desejos e até da personalidade.

No caso das mulheres cis e heterossexuais, por exemplo, o Reich não punia comportamentos que aos olhos da cultura dos anos 1930/1940 seriam considerados escandalosos. Ao contrário, estimulava que elas se envolvessem com o máximo de homens possíveis e engravidassem para gerar ‘muitas crianças arianas’. Desde que esses civis, soldados ou oficiais estivessem dentro do ideal de perfeição física e mental ditada pela ótica racista do regime, lógico. Ao contrário da violência praticada contra as pessoas nas zonas ocupadas, aqui o sexo e a procriação eram vistos como um dever de Estado.

Ao final da leitura de As Benevolentes e, ao traçar paralelos com o mundo atual, o leitor constata sem nenhuma surpresa, mas ainda assim com bastante pesar, que na história da humanidade, o horror nunca dorme, só cochila. E sempre com um dos olhos abertos, à espreita...

O exemplar que eu li:

Foi emprestado por um amigo do trabalho que sabe que eu tenho obsessão pela II Guerra Mundial como objeto de estudo. Ele me falou do livro em uma conversa motivada por outro livro sobre as relações de Hitler e Stálin durante o conflito, que ainda está na minha lista de leituras futuras. Esse amigo fez uma breve sinopse d´As benevolentes para mim e eu pedi emprestado quando ele terminasse de ler. Acontece que esse amigo não conseguiu avançar na leitura porque se sentiu bastante incomodado com a narrativa crua, cáustica e assustadora do personagem principal. Ele abandonou o livro e o levou para mim. Demorei quase seis meses lendo, foi um dos livros que levei mais tempo – aqueles que abandonei e retomei não contam – para concluir, porque em alguns dias, quando estava de baixo-astral (e como não estar de baixo-astral no Brasil de 2022?), só conseguia ler uma ou duas páginas. Persisti porque o livro é instigante, extremamente rico de conteúdo histórico e absurdamente bem escrito, embora doloroso em um nível impensável em muitas passagens...

Um pouco de mitologia grega:

‘Benevolentes’ é uma das formas que os antigos gregos usavam para se referir às Erínias, as entidades que personificam a vingança e castigam os mortais pecadores. Elas são as responsáveis pelas tormentas sofridas no Hades [o mundo inferior que recebe as almas dos mortos, dividido em Campos de Punição (Inferno), Campos de Asfódelos (Purgatório) e Campos Elísios (Paraíso)]. Eram chamadas de ‘benevolentes’ ou ‘bondosas’ por ironia e superstição, pois acreditava-se que pronunciar seus nomes as atrairia. Eram três: Alecto, Tisífone e Megera. Os romanos as chamavam de Fúrias.

Uma peculiaridade:

O livro As Benevolentes ganhou tanto o Goncourt, um equivalente ao Oscar francês da literatura, no ano de lançamento, 2006; quanto o Bad Sex Awards, o que seria um tipo de Framboesa de Ouro literário dado às descrições de sexo consideradas muito ruins ou toscas em romances, no mesmo ano.

Outra particularidade:

Quando estava escrevendo essa resenha, o New York Times publicou uma reportagem sobre o documentário The Devil’s Confession: The Lost Eichmann Tapes (Confissões do Diabo: as gravações perdidas de Eichmann, em tradução livre). O filme, produção para a MGM de dois descendentes de sobreviventes de campos de concentração, revela um achado histórico valioso, as fitas gravadas por Adolf Eichmann para um simpatizante holandês do nazismo, anos após o fim da guerra e antes dele ser executado depois do julgamento em Jerusalém. No que sobreviveu dessa gravação e que por décadas esteve sob a guarda do governo alemão, com acesso apenas para pesquisadores acadêmicos, Eichmann narra as atrocidades da ‘Solução Final’ com uma frieza e indiferença inacreditáveis. O filme, até a publicação dessa resenha, só havia sido exibido em Israel e a MGM buscava parceiros para fazer a distribuição mundial. Também não estava disponível ainda em nenhum streaming acessado no Brasil.

Uma dica de material complementar:

Sobre a ‘Solução Final’, assisti recentemente ao filme Conspiração (EUA, Frank Pierson, 2001), que mostra os bastidores da reunião que teria engendrado o extermínio dos judeus. Vale prestar muita atenção a Stanley Tucci, que vive Eichmann no filme. O ator dá um show de interpretação ao incorporar a personalidade subserviente, asquerosa e burocrática do nazista. A sensação é que ele estava mesmo possuído pelo espírito do ‘demônio’. Esse tem no HBO Max

Ficha Técnica:
As benevolentes
Autor: Jonathan Littell
Tradutor: André Telles
Editora: Alfaguara (2007)
912 páginas
R$ 81,70 (novo no site da Magalu), R$ 71,67 (novo na Amazon e site Americanas) e a partir de R$ 19,90 (usado na Estante Virtual)

site: https://mardehistorias.wordpress.com/
Demes0 11/10/2022minha estante
Que resenha completíssima! Adorei! Iniciei esse livro ano passado e terminei pausando! Como não lembro de detalhes, devo reiniciá-lo! E com sua resenha, tudo ficou mais claro e curioso! Vou singrá-lo logo!

Obrigado por contribuir aqui! Parabéns pela bela resenha!


Moratori 20/09/2023minha estante
Sua resenha ficou muito boa!




pradomacedo 09/08/2010

Eliminando pessoas
Abandonei lá pela página 250. Estava me sentindo como um sujeito que vai a uma biblioteca para ler monografias. Enumerações e extensas descrições sufocam as boas passagens que há no livro. Uma demonstração disso são as várias páginas em que um oficial especializado em línguas balcânicas e eslavas despeja imoderadamente seu saber, que a rigor interessaria apenas ao leitor interessado em lingüística.
A cena das primeiras execuções na Ucrânia são boas, mas o autor passa a impressão de que quer se livrar rapidamente desse tipo de narrativa para voltar às enumerações e às citações sobre a estrutura burocrática dos exércitos, como se pretendesse justificar o tempo empregado na longa pesquisa que fez para escrever o livro.
Entre um verbete enciclopédico e outro, ele insere histórias de pessoas, como a do garoto judeu pianista. Mas vê-se claramente que é apenas uma pausa no manual sobre a burocracia nacional-socialista. A história do garoto fica meio descolada e seu desfecho é tão previsível quanto trivial, quase um cliché pronto para Spielberg filmar. O mesmo ocorre com a cena do oficial nazista que é morto pelo colega depois de assassinar um recém-nascido (ainda que o final desta cena seja menos previsível que a do garoto pianista). Tais cenas são exceções porque são cenas em que as pessoas estão no centro. Na maior parte das vezes as pessoas são elementos periféricos (nesse sentido, o autor fez uma bela alegoria da guerra), são apenas componentes menores da grande engrenagem que o autor desmontou e cujas peças pretende exibir com o zelo e o ardor de um exegeta.
O livro torna-se chato porque o autor, tanto quanto os nazistas, parece querer continuamente se livrar das pessoas que estão ali atrapalhando seu projeto de demonstrar um vasto conhecimento sobre a máquina de guerra engendrada pelos nazistas.
Em As Benevolentes, infelizmente, há entre o leitor e o drama uma floresta densa, habitada pelo siberiano espírito das máquinas e por onde se imiscui um quê de furor enciclopédico.
Abandonei o livro no momento em que percebi que dificilmente a narrativa mudaria o foco. Se muda, deve ser lá pelo quarto final do livro, quando uma outra personagem importante da guerra já tiver entrado em cena: o inverno de Stalingrado. Porém, assim como os soldados alemães que penavam sob a indiferença do comando do exército a esse respeito, achei que a travessia até lá seria muito penosa.
É um bom livro de guerra, mas não é um bom romance sobre pessoas.
Felipe 04/01/2012minha estante
O legal é que achei justamente a passagem com o linguista um dos pontos bem interessantes do livro. Gostei do detalhismo e das extensas digressões 'burocráticas' pois - pela primeira vez - pude ter uma percepção emocional mais detalhada das falácias que sustentaram o nazismo. Esta foi a primeira obra de ficção que li sobre a Segunda Guerra e, como obra de ficção, achei sensacional - em todos os detalhes (e haja deles!).


aluizjara 25/06/2014minha estante
Olá, estou na parte em que você diz ter parado. Sim, no livro há passagens muito boas como as que você citou; a da morte do recém-nascido me deixou eufórico. Mas tenho também que concordar que todo esse arrolar sobre o contexto burocrático do exército alemão, conceitos e palavras estrangeiras que não estão no glossário, e a enorme quantidade de personágens cansam um pouco a leitura, pra não dizer que confundem. O primeiro capitulo é fantástico, e chega a dar a impressão que o livro vai seguir no mesmo patamar, até que o próximo te pega pelas pernas com uma leitura super truncada. Depois até que acostuma. Pra um livro de memórias, esse Auê tem uma memória por demais detalhista, não é mesmo? Mas penso também que todo esse detalhismo e etc. faz com que o romance não seja mais do mesmo. É por nos escancarar toda essa complexidade que, no fundo, o livro se torna especial. Portanto, por enquanto, está me cativando, se tornando um pouco mais flúido e vou arriscar a travessia. Até.




Lista de Livros 23/12/2013

Lista de Livros: As Benevolentes, de Jonathan Littell
“Rastejamos por muito tempo nesta terra como uma lagarta, à espera da borboleta esplêndida e diáfana que carregamos dentro de nós. O tempo passa, a ninfose não chega, permanecemos larva, constatação aflitiva, o que fazer? O suicídio, naturalmente, continua sendo uma opção. Mas, para falar a verdade, o suicídio não me atrai muito. Pensei nisso, claro, durante muito tempo, e se tivesse de recorrer a ele, eis como agiria: apertaria uma granada contra o peito e partiria numa viva explosão de alegria. Uma granadinha redonda da qual eu removeria o pino com delicadeza antes de soltar a trava, sorrindo ao barulhinho metálico da mola, o último que eu ouviria, afora os batimentos do coração nos ouvidos. E depois finalmente a felicidade, ou, em todo caso, a paz, e as paredes do meu escritório enfeitadas com retalhos de carne. A limpeza caberá às faxineiras, são pagas para isso, o problema é delas.”
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“Apesar dos meus defeitos, e eles são muitos, ainda sou dos que acham que as únicas coisas indispensáveis à vida humana são o ar, a comida, a bebida e a excreção, além da busca pela verdade. O resto é facultativo.”
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““Em todo caso”, acrescentava sentenciosamente Vogt, “Deus está com a nação e o Volk alemães. Não podemos perder esta guerra.” – “Deus?”, cuspia Blobel. “Deus é comunista. E se eu o encontrar pela frente, ele terminará como seus comissários”.”
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site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/04/as-benevolentes-jonathan-littell_30.html
zeppelin - TRICOLOR PAULISTA 22/10/2015minha estante
É um dos melhores livros já escritos sobre o tema.
Já li muito sobre a segunda guerra e o nazismo, mas sob essa ótica é inédito a visão e a perspectiva.


Edméia 17/08/2023minha estante
*Nossa ! Pesado esse livro; hein ?!




Demes0 19/03/2023

Eu levei mais de 6 meses para concluir essa obra! Talvez pelo calhamaço que é, talvez pelas histórias intragáveis tanto de Aue como do cenário e situação em que ocorrem. Toda a história é contada por ele no transcorrer do início ao fim da segunda guerra! O narrador singra por diversos episódios dantescos do (mau) nazista. E vemos tanto o início avassalado e cruel do nazismo como sua queda.

A despeito de tudo, Aue consegue sobreviver no final. Talvez tenha como uma parábola. E tal como são denso é complexo as circunstancia pelas quais ele passa, seus fantasmas pessoais os cercam do início ao fim: problemas de relacionamento e identidade, incesto com a irmã e outros graves problemas pessoais!

Como eu disse, é um livro forte, com descrições cruas e sem filtros de muitas cenas que impactam profundamente! Leia o livro esperando que pode acontecer de tudo! E saiba que você vai ter que parar em algum momento por acontecimentos horripilantes como de fato foi a segunda guerra!

Além disso, o livro é uma fantástica e bruta jornada de história da segunda guerra mundial, narrando os principais diversos acontecimentos: invasões nazistas, batalhas (stalingrado), campos de concentração, tentativas de golpes a Hitler entre outras.

Posso reiterar que As benevolentes não são apenas um livro. É uma biblioteca de várias histórias contadas por um narrador embebido de muito questões pessoais não resolvidas que o afligem igualmente as estórias narradas!
Ana Carol 19/03/2023minha estante
Gostei da resenha! Apesar da observação inicial do tempo de leitura e do "calhamaço", instigou a curiosidade!




everlod 29/05/2010

É preciso um pouco de benevolência
O livro é bom. Não consegui entrar na história como o autor teria desejado, imagino. Parece uma obra inacabada, onde o criador não teve o tempo ou a paciência necessária para cortar detalhes fúteis, repetições irritantes e cenas perdidas. Se apenas as patentes militares tivessem sido substituídas pelos seus equivalentes mais próximos em português, acredito na redução de pelo menos umas 50 páginas de texto.

Há algumas passagens excelentes, como as discussões linguísticas, as tentativas de entender o que o mundo até hoje não conseguiu equacionar, porém há os trechos medíocres, não poucos, onde reverberam clichês, dados resultantes das pesquisas do autor, etc. Dizem que ele leu mais de 200 livros sobre a Alemanha nazista, isso tudo parece ter truncado um pouco a criatividade literária e ser responsável pelo exagero das 900 páginas.

Algum alucinado por aí, chegou a declarar que trata-se de um novo Guerra e Paz! Impossível. Por mais que o Dr. Aue tenha ensaiado confissões, mea culpas e delírios, não consegue sensibilizar, convencer-nos da sua existência. O autor escolheu um tema controverso e polêmico, fatos e personagens históricos da 2 guerra mais diversos tabus, jogou tudo num liquidificador.

Enfim, um livro bom, longe de ser excelente. Bem cansativo e confuso, tanto quanto o seu narrador.
Fael 01/04/2014minha estante
Concordo em genero, número e grau.

Bom livro, talvez um leitor com profundo conhecimento sobre os meandros do 3° Reich e as forças armadas alemães possa ter uma leitura mais prazerosa.




Igor 26/06/2015

Um ótimo livro.
Livro super interessante. São as memórias de um alemão dos Sudetos que, apesar de jurista, acabou se envolvendo no massacre dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Demonstra claramente a mentalidade dos alemães que participaram do massacre, onde depois tentaram justificar o que tinham feito como "cumprir ordens".
Cleuzita 29/02/2020minha estante
Faltou só dá as estrelinhas ?




luizfelipedds 14/09/2021

No lugar dele, você faria diferente?
Maximilien Aue tem um recado para você, leitor de As Benevolentes: se você tivesse vivido na Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial (e no período pré-Guerra), muito provavelmente você teria concordado com tudo o que estava sendo feito em nome do Reich. Se não o fizesse, o máximo que poderia ter ocorrido seria uma discordância silenciosa, que, no final das contas, se reveste das características da cumplicidade. Oposição? Ele duvida. Você, como ele, e como todos os outros, faria o que tinha de ser feito. Era esse o trabalho. Era essa a Lei.

Eu diria que a primeira grande reflexão que o livro nos leva a fazer é até que ponto temos poder de autodeterminação suficiente pra entender o que é certo e o que é errado e, após identificar o que é errado, lutar pelo certo. Se o leitor vivesse naquele contexto social, político, econômico e cultural, o que teria feito de diferente?

Mas seria Aue tão somente um burocrata que "se obrigou" a fazer coisas, ou ele sentia certa inclinação pras funções designadas ou, até mesmo, prazer em pertencer à raça superior?

Eu poderia dizer que esse livro é um monumento literário, do estilo de monumento que fascina e aterroriza. O autor já começa trazendo conceito no título, "As Benevolentes", que remete à mitologia e faz muito sentido dentro da narrativa, sendo citado de forma específica somente ao final. A divisão da obra traz mais conceito, pois os nomes das sessões se referem às peças ou danças de uma suíte barroca, onde cada uma delas possui um movimento específico (tempos curtos, tempos longos, etc), num ritmo que literalmente é utilizado na narrativa, que em certos momentos é mais densa, lenta e árida, enquanto noutros é ágil e resolutiva.

Aue convida o leitor para acompanhar a escrita das suas memórias. A guerra acabou e ele se salvou, vive a sua velhice na França onde construiu família e seguiu a vida trabalhando com tecelagem. No entanto, ele está com vontade de contar o que aconteceu, sendo que apesar de rechaçar o leitor num primeiro momento, ele demonstra, durante a obra, que se preocupa com a nossa percepção dos fatos. Não é um pedido de perdão, é tão somente um relato, relato este pelo qual ele reiteradamente tenta te convencer que: você não faria nada de diferente.

Max Aue, em linhas gerais, foi um oficial da SS, que ao longo da guerra foi galgando posições dentro desse órgão pertencente ao grande e complicado aparelhamento político-militar do Partido Nazista (nesse ponto, as especificidades e o trabalho de pesquisa do autor se mostram brilhantes, sendo que na edição da Alfaguara existe um apêndice que serve para consulta). Fazem parte de sua história personagens conhecidos da nossa História, como Eichmann, Himmler, Heydrich, Kaltenbrunner e, até mesmo, o próprio Hitler. Jonathan Littell desenha as personalidades dessas figuras através do que se conhecia delas, e as insere na vida do seu carrasco-narrador. Aue vai participar ativamente de diversos momentos decisivos da Segunda Guerra Mundial, e ele quer te contar tudo, com detalhes. Desse modo, as descrições dos fuzilamentos, das marchas, do front, dos campos de concentração, são exaustivas e literalmente deixam o leitor aterrorizado e cansado. Na minha experiência pessoal, as descrições dos fuzilamentos pelos Einsatzgruppen foram as mais difíceis de ler (e aparecem logo no início do livro).

Para além da guerra, Aue possui uma vida em família. E aqui Jonathan Littell demonstra que não está pra brincadeira. Descobrir as vivências do Aue em família é um dos "deleites" do livro, então não mencionarei nada, só que, talvez, as descrições dos desejos sexuais e das efetivas relações sexuais do personagem podem incomodar leitores desavisados. E elas aparecem do nada. Às vezes você tá lendo uma frase que parece linda e ele coloca um "arrombad*" no meio (é sério). Apesar de toda a disfuncionalidade da vida pessoal do Aue, entendo que ela não existe somente para ser um elemento de choque (já que literalmente o choque é inevitável pelas intensas e inúmeras descrições de mortes de judeus), há coerência com tudo o que está sendo contado.

Para os que pretendem se aventurar por esse livro, desejo muita sorte, muita firmeza de convicções e cuidado, o Aue é traiçoeiro, ele faz você gostar dele, e quando você menos percebe você está torcendo pra que ele se dê bem em ações que no fundo tem uma única finalidade, com a qual eu espero que você não concorde (ainda que ele seja convicente). Por fim, a intertextualidade com o "Eichmann em Jerusalém" é grande, valendo com certeza a leitura de ambas as obras pra tentar entender melhor todo o contexto.
Demes0 11/10/2022minha estante
Que beleza de resenha (e análise crítica)! Fez-me retomar a obra! Tinha pausado. Agora vou recomeçá-la! Obrigado por contribuir com essa excelente resenha!




Carlos Nunes 29/04/2019

As Benevolentes
Leitura longa, cansativa e soberba! A linguagem em si não é difícil, mas a manutenção das patentes militares alemãs no idioma original cansa a leitura. O glossário no final ajuda, mas a partir de certo momento a consulta constante acaba por incomodar. Mas, além disso, outras coisas incomodam mais ainda nesse livro: a crueza da narrativa, a banalização da violência a níveis nunca vistos, o desprezo total pelo ser humano, a ausência total de humanidade... Situações que nos levam a ler pausadamente. E, pairando acima disso tudo, o mal-estar de ser confrontado a todo instante com a possibilidade de agirmos da mesma forma. Novo "Guerra e Paz"? Não posso opinar, pois ainda não o li, mas duvido. O livro tem situações interessantes e assustadoras, digressões pertinentes, mas algo nele não "fechou", pelo menos para mim. Não entendi a necessidade da situação esdrúxula quase no final, para mim totalmente desnecessária, e que quebrou o impacto que a narrativa vinha causando desde então. Só por isso a nota não foi máxima. No geral, uma leitura absorvente e emocionante. Mais detalhes no video que fiz a respeito.

site: https://youtu.be/3DpiqTNH3zl
Frankcimarks 29/04/2019minha estante
Ótima resenha.




Claudio.Berlin 16/08/2024

Realismo impressionante
Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras.
Aqui , numa linguagem vívida , o autor nos traz um nível de detalhamento que praticamente transforma o texto em realidade .
Maximilien Aue , , o principal personagem do livro um oficial SS, nos conduz desde a invasão da Rússia na segunda guerra mundial , até a queda do Reich alemão.
A filósofa Hannah Arendt , no julgamento do nazista Adolf Eichmann, descreveu os acontecimentos nos campos de concentração, como "A banalidade do mal " . ( Foi pessimamente traduzido como o "mal banal " nesse livro )
O livro do início ao fim mostra as atitudes exército alemão , e da SS exatamente por esse ângulo.
A naturalização do absurdo .
A história tem basicamente três "tempos"
1-Uma matança indiscriminada de judeus no front russo , com os grupos de "limpeza" da SS atuando de forma sádica e cruel .
2- A organização por trás dos assassinatos em massa nos campos de concentração
3- A queda do Reich .

Max Aue , um jurista que acabou na SS , é o fio condutor que nos leva a passear na loucura coletiva que acometeu as tropas alemãs .
Embora inteligente, não consegue perceber a insanidade.
Somatiza a vontade, mas persevera.
Max , tem um complicado caso de amor mal resolvido com a irmã que chega a ser doentio .
É um oficial homossexual, que tem um casamento de conveniência, que lhe é repulsivo.
Enfim , um sujeito complicado, que merece ser estudado por um psiquiatra.
Eu acho que essa leitura não é fácil .
É um livro longo e pesado, com um grande número de termos em alemão que dificultam a leitura .
( Comprei um dicionário de alemão para kindle ) .
Dá para ler sem o dicionário.
Eu quis ter uma experiência mais ampla .
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Danielli 09/06/2009

O livro é incrível, a história tão densa e violenta quanto o tema da obra. Imperdível!
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IvaldoRocha 30/06/2009

Impressionante,
Impressionante, realmente trata-se de um ponto fora da curva, embora não seja um livro que se possa dizer "para todos os gostos", principalmente pela crueza com que trata os assuntos, quase sempre delicados, que desnudam a natureza humana.
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Fimbrethil Call 08/01/2010

Bom!
Livro bom, que narra uma parte da Segunda Guerr que, pra mim pelo menos, foi pouco explorada. A maioria dos livros que eu li sobre esse assunto conta da frente ocidental; esse, cita muito por cima, e narra mais sobre os eventos da frente oriental.

Começa com a invasão da Ucrânia, uma parte que eu já conhecia através de outro livro, chamado Bábi Iar, mas pela visão da vítima. Impressionante e chocante o ponto de vista do alemão, do invasor.

Depois da Ucrânia, ele vai pra Stalingrado, que atualmente chama Volvogrado, e descreve o inferno que foi aquilo. Tem até uma frase do próprio livro que descreve bem: "É o inferno de Dante!" (isso em referência a uma outra passagem, mas que se aplica aqui).

Ele é ferido em Stalingrado e volta para Berlim, onde narra todo o bombardeamento feito pelos aliados.

A trabalho, ele vai visitar os campos de concentração na Polônia, e lá é descrita uma idéia que os nazistas tinham que eu não conhecia, de um zoológico humano, com os povos que seriam dizimados pelos nazistas e ficariam a exposição.

O único problema do livro é quando o personagem principal, Maximilian Aue, fica doente ou por algum motivo não trabalha, então fica pensando na sua vida particular. Ele é muuuito chato, e essas partes são descartáveis. Sem elas o livro mereceria 5 estrelas.

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