Psychobooks 21/07/2012
Resenha dupla
(Alba)E se seu legado à humanidade foi ter dado à luz a um monstro?
Essa é a culpa que Eva Khatchadourian carrega durante todo o livro e a desnuda sem restrições por meio de cartas escritas a seu marido. Kevin assassinou 9 pessoas e feriu duas em um massacre em sua escola; Eva, agora vivendo sozinha em circunstâncias pouco esclarecidas, resolve tirar do seu peito todas as dúvidas que a assolavam desde antes da concepção de seu filho primogênito até a quinta-feira que marcou sua vida de forma tão contundente.
(Mari)As cartas são escritas de forma verdadeira, sem nenhum tipo de censura, nua e crua. Eva destrincha seus pensamentos mais sombrios, seus temores e certezas que estavam bem guardados em sua mente.
(Alba)A narradora da história é um pouco confusa e tende à divagação, então já aviso de início: o começo do enredo é moroso e demora a engatar. O que parecem ser informações desconectadas, são, na verdade, de suma importância para o bom entendimento de como Eva vivia com seu marido antes da decisão da gravidez e tudo o que essa decisão acarretou em sua vida. Dona de um livro com recomendações de albergues e afins na Europa, a protagonista vive uma vida de luxo. Já viajou praticamente o mundo todo e costuma passar 5 meses do ano em viagens. Os anos chegam, ela se cansa e em um momento de epifania resolve que a solução para suas dúvidas é criar raízes, conhecer um novo país – de forma figurativa -; Eva engravida.
(Mari)O começo da leitura é difícil e lento, fiquei me perguntando o porquê de todos aqueles detalhes, mas depois do nascimento do Kevin, a narrativa ganha velocidade, mas nem por isso se torna fácil e tranquila. E sim, aqueles detalhes do início da leitura são importantes para entender quem é Eva.
(Alba)A partir daí a leitura realmente engata e começamos a conhecer as peculiaridades da relação entre mãe e filho.
Quando falo que Eva não poupou em nenhum momento seus sentimentos e dúvidas em relação à maternidade, espero que me levem a sério: durante toda a narrativa ela não tem vergonha de contar todo o asco que sente do filho, a falta de conexão que permeia a relação dos dois; o ciúmes que sente de seu marido devido à atenção despendida ao menino; e principalmente o medo que sente do menino, a certeza de que há algo muito errado com ele, e a impotência por ser a única a enxergar.
(Mari)A princípio, Eva se sente horrível por desconfiar de um bebê (que a rejeitou instantes após seu nascimento), um garotinho (que usou fralda até os 6 anos), mas conforme seu filho vai crescendo, ela enxerga toda maldade que seu olhar carrega, toda a inteligência que ele se esforça para esconder e o fato de Franklin achar o filho perfeitamente normal e sua família feliz, acaba desgastando a relação do casal e a sanidade de Eva.
(Alba)O ataque cometido por Kevin é diferente do que eu imaginava. Ele mata as pessoas simplesmente porque pode, não há uma perseguição por parte dos colegas, não há o bullying usado como desculpa para todo o mal que ele causou.
(Alba)A relação de Kevin e sua mãe só pode ser descrita como doentia. Algumas cenas protagonizadas pelos dois são difíceis de ler, pesadas, carregadas de ódio, culpa, falsidade… Há em Kevin uma monstruosidade asquerosa. O jogo de manipulação que ele orquestra durante todo o tempo é doentio: ele tem todos em seu tabuleiro e os incita de modo que cada peça faça exatamente a sua vontade.
(Mari)Acho que Kevin é o personagem mais cruel que já me deparei na literatura, a ponto de deixar o Sr. Hannibal um degrau abaixo. Kevin tem uma apatia pelo mundo, onde tudo é um saco, nada lhe proporciona prazer, não há nenhuma atividade que ele queira fazer sem que tenha um propósito cruelmente calculado.
(Alba)O enredo é divido em três partes, mas todas elas estão mescladas entre si, com a Eva no presente recontando sua história e discorrendo sobre sua atual vida. Há o livro antes de Kevin, o com Kevin e finalmente os fatos que se desenrolaram após o massacre.
(Alba)A escrita é verdadeira e crua – o que é característica de Lionel. Não houve em nenhum momento o desejo de esconder do leitor alguma fato ou não mostrar algum sentimento. É um romance adulto; acredito que seja necessário uma mente madura para processar todas as informações contidas no enredo. Eva não é a personagem mais atraente que conheci, mas seus comentários sarcásticos em relação à sua vida atual e sua firmeza com sua postura são altamente envolventes. É uma personagem extremamente cônscia de tudo o que teve e tudo o que perdeu. A causa de suas perdas tem nome: Kevin. Resta a ela se culpar ou se eximir por ter criado um monstro.
(Mari)Precisamos falar sobre o Kevin entrou para minha lista de favoritos, mas temo não ser uma leitura para qualquer público, já que ele é denso, duro e machuca o leitor sem piedade. Você tem que estar preparada para o que vai ler e, como disse a Alba, maturidade para digerir o que foi escrito. É como a gente sempre diz, precisa estar no momento certo para esse tipo de leitura. Se você quer ler alguma coisa leve e despretenciosa, nem pense em pegar esse livro, mas se você quer um desafio, vá em frente!
(Alba)Assisti ao filme porque durante toda a leitura imaginava a atriz – Tilda Swinton – como Eva. A escolha dela para viver a protagonista foi perfeita, desde a aparência física até a retidão em deixar transparecer seus sentimentos. Claro que o filme não é exatamente igual ao livro, alguns fatos não ficam tão claros como durante a leitura e outros são deixados de lado, mas a forma que o diretor escolheu transparecer a névoa em que Eva vive após o massacre, quase como se estivesse apoplética é divina. São cenas cortadas, imagens ou sons distorcidos. Os focos no presente ou passado são bem demarcados e as atuações estão fantásticas. Recomendo o filme como um complemento da história; uma forma de os personagens criarem vida.
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