Os Sertões

Os Sertões Euclides da Cunha
Walnice Galvão




Resenhas - Os Sertões


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Regis2020 05/09/2024

Uma obra grandiosa e importante
"Os Sertões" representa um marco da literatura brasileira e fez de Euclides da Cunha parte da geração de autores considerados precursores das Ciências Sociais no Brasil. Dito isso, o livro possui uma linguagem estilizada, uma voz grandiloquente e um discurso enciclopédico extremamente reprovada por críticos de sua época e vários leitores antigos e atuais, principalmente na primeira parte intitulada "A terra", onde o autor discorre sobre aspectos da paisagem, como o relevo, a fauna, a flora e o clima árido do sertão, fazendo uso excessivo de termos científicos que tornam esse início de leitura bem mais denso. Eu percebi uma diminuição dessa densidade na metade e principalmente no trecho final do livro, mas devo ressaltar que eu apreciei imensamente as descrições dessa primeira parte. E, no geral, a escrita do autor não foi um elemento que tenha me incomodado em demasia. Reservo isso para a segunda parte, intitulada "O homem", onde fica bem claro que o autor tentou tratar os combatentes de Canudos como objetos de estudo das teses do determinismo racial. Essa parte do livro, sim, me incomodou. Apesar de saber e reconhecer que essa teoria, em especial, é fruto de sua época, ainda assim, é impossível ler e não sentir nada diante de tamanho absurdo que já foi amplamente defendido no passado. Ela se concentra em uma análise de Euclides sobre os sertanejos como portadores de desequilíbrios típicos do cruzamento de raças, resultando, segundo ele, em uma situação mental deplorável. Euclides classifica o sertanejo, um mestiço, como pertencente a uma sub-raça "instável", "efêmera", "retardatária" e "próxima da extinção", descrevendo o povo do sertão como uma "raça inferior". Esse termo é utilizado até o final do livro, o que me causou um enorme incômodo durante a leitura. No entanto, ao longo da narrativa, vai ficando evidente que o autor se vê dividido entre as conclusões científicas de sua época e a força e determinação que ele presenciou nos sertanejos durante a resistência contra o exército republicano. Isso fica mais evidente nos trechos finais, onde parece que as opiniões de Euclides sobre os sertanejos evoluíram, mesmo que pouco.

A terceira parte, intitulada "A luta", possui um aspecto muito valioso: nela se concentra um trabalho jornalístico detalhado realizado pelo autor ao denunciar o massacre de Canudos, condenando o exército pelos excessos cometidos e recriminando o nacionalismo exagerado da época ao mostrar a vida cotidiana e realista de uma parte marginalizada do país, onde o povo era tido como fraco e involuído pela elite intelectual e pelos políticos da nova república. Essa foi minha parte favorita de toda a obra. A forma como o autor relata os detalhes do quarto e definitivo embate entre o restante da comunidade de Canudos e o exército é um trabalho jornalístico magistral que ficou como relato histórico de um massacre.

"Os Sertões" é um livro importante, um documento histórico mesclado com a literatura, que, ao longo dos anos, foi continuamente revisitado e analisado por outras áreas, como Antropologia, Sociologia, Geografia e História.

Minha experiência de leitura foi muito boa, por conhecer um pouco mais sobre o caráter crítico e realista da obra. No entanto, senti também um misto de revolta e repugnância pelos pensamentos racistas e xenófobos utilizados por Euclides para descrever e classificar o povo do sertão nordestino.

Recomendo "Os Sertões" como um livro que todos devem conhecer por sua grandiosidade e importância, mesmo que a teoria do determinismo racial, que tanto entusiasmou o autor no momento da concepção da obra, tenha envelhecido como leite.
HenryClerval 06/09/2024minha estante
Régis, adoro como se expressa e expõe seus pensamentos. Sua resenha está magnífica, minha linda! ??????


mpettrus 06/09/2024minha estante
Resenha incrivelmente bem elucidativa ????

Gosto quando o leitor pontua de forma objetiva seus pós e contra com relação a obra citada. Admiro quem tem essa habilidade de mesclar dentro do texto a objetividade e ao mesmo tempo a subjetividade, porque nos traz o panorama mais geral do livro.

Eu confesso que não tenho essa habilidade porque me deixo leva pelas emoções ?? e em parte, isso pode atrapalhar um pouco a percepção.

Adorei que você pontuou a questão do autor ser adepto da teoria do ?determinismo social?. Esclareceu que isso foi fruto do seu tempo, da sua época e as coisas de lá para cá evoluíram eliminar essa repugnância ?científica?.

Quando eu li esse livro para os meus idos tempos de vestibular, a turma foi guiada pelas explicações de um professor na época. E, claro que eu muito novo ainda, fui sumariamente influenciado pelas ideias negativas do professor.

Eu tenho um ?ranço? desse livro por conta disso. Mas, isso não me impede de reconhecer que a obra tem seu inestimável valor para a literatura brasileira, bem como para outras áreas do conhecimento. Apesar de antipatizar com essa obra, lembro que o professor na época nos ensinou que devemos ser honestos e reconhecer as partes boas que determinadas obras tem.

Essa infelizmente, como você bem falou, o entusiasmo do autor pela teoria do determinismo racial? que impregnou boa tarde de sua obra, a teoria envelheceu como leite.

Parabéns pela resenha!!! ?????


Dona Erica 06/09/2024minha estante
Que resenha maravilhosa Régis!


Craotchky 06/09/2024minha estante
Mais uma resenha, como sempre, incrível, minha Gizzita. Uma frase segue a outra de forma tão natural e espontânea que faz parecer fácil escrever dessa forma clara e direta. Texto sensacional!


Regis2020 06/09/2024minha estante
Muito obrigada, Filipe! Vou esperar para saber o que acha de "Os Sertões" quando for ler. ??


Regis2020 06/09/2024minha estante
Muitíssimo obrigada, querida Érica! ??


Regis2020 06/09/2024minha estante
Que comentário maravilhoso, Pettrus! ??

É uma pena que sua experiência com esse livro tenha sido tão traumática. No entanto, eu adoro suas resenhas e acho que você tem uma ótima percepção sobre as leituras que faz, mesmo nas que você se deixa levar pelas emoções. ??


Regis2020 06/09/2024minha estante
Que comentário fofo, meu querido Leandro!???

Nossas conversa sobre esse livro, me ajudaram muito a processar os pensamentos e sentimentos que essa leitura me despertou, obrigada por ser esse amigo querido que está sempre presente contribuindo em todas minhas leituras e em minha vida. ??


leiturasdeana 06/09/2024minha estante
Já iniciei esse por três vezes e parei! Dessa vez eu concluo. Excelente resenha!


Max 06/09/2024minha estante
Regis, não é uma resenha, é um tratado!?
Vou colocar no prelo!??


Cleber 06/09/2024minha estante
Ótima resenha, Régis! Adoro como vc aponta os pontos críticos da obra??????


Regis2020 06/09/2024minha estante
Muito obrigada, Cleber! ???


Regis2020 06/09/2024minha estante
Ah, Max, que fofo! ??
Se imprimir me mande. Rsrsr


Regis2020 06/09/2024minha estante
Desejo que a quarta vez seja a da sorte, Ana. ??


debora-leao 06/09/2024minha estante
Nossa, não sabia disso! Agora é que não tenho coragem de começar tão cedo, mesmo. Da forma que você descreveu parece que será necessária muita maturidade para separar o contexto histórico do discurso.


HenryClerval 06/09/2024minha estante
Régis, eu que agradeço a oportunidade de fazer parte de suas leituras e da sua vida. ???


Leandro 07/09/2024minha estante
Com essa resenha, fiquei mais motivado para continuar a leitura depois que desisti na primeira vez. Mais uma brilhante resenha Regis ??


Regis2020 07/09/2024minha estante
É um pouco necessário sim, Débora, no entanto, o livro vale muito a pena. ?


Regis2020 07/09/2024minha estante
Obrigada, Leandro, e espero que continue e que a motivação não diminua. ?


.pachequinha 07/09/2024minha estante
Oi, Regis. Muito boa sua resenha!

Ainda não li a obra, mas tenho vontade. Há um tempo atrás eu assisti à uma peça do Tea(t)ro Oficina, Mutação de Apoteose, que usava trechos do escrito. Vários eram declamados por um dos atores que interpretada o Euclides da Cunha. A peça me forneceu uma boa ideia da grandiosidade, profundidade e criticidade de Os Sertões, da qual eu só tinha uma noção por cima, dado o fato de que escutamos sobre na escola, faculdade, etc.

Sempre é muito interessante ver o pensador se confrontando com suas próprias percepções, não é? Ver o pensamento em conflito e se desenvolvendo. Euclides tinha uma escrita sagaz e sensível, mas com uma formação fruto de seu tempo. Muitas ideias reacionárias, à época, se faziam estabelecidas. No entanto, ele era um republicano, algo progressista em tempos de monarquia - claro, sem deixar de ponderar os erros da ideologia do progresso, que até hoje tende a diminuir a importância do campo. Porém, é interessante pensar que são trabalhos como o dele que ajudaram a cair por terra a primazia de teorias que ele mesmo acreditava. Mas isso levou anos. Contudo, o relato cru das crueldades que presenciou, mesmo que revestido de determinismo racial, tem sido importante para compreender de maneira profunda as cicatrizes da nossa história.

É impressionante a contradição de uma obra que reflete o seu tempo, ao passo que também está à frente dele.

No mais, valeu demais pela resenha. Parabéns! Muito bem escrita e super completa.


.pachequinha 07/09/2024minha estante
Oi, Regis. Muito boa sua resenha!

Ainda não li a obra, mas tenho muita vontade. Há um tempo, assisti a uma peça do Teat(r)o Oficina, Mutação de Apoteose, que utilizava trechos de Os Sertões. Vários deles foram declamados por um dos atores que interpretava Euclides da Cunha. A peça me deu uma boa ideia da grandiosidade, profundidade e criticidade da obra, da qual eu só tinha uma noção superficial, por conta do que aprendemos na escola, faculdade, etc.

É sempre interessante ver um pensador confrontando suas próprias percepções, não é? Ver o pensamento em conflito e se desenvolvendo. Euclides tinha uma escrita sagaz e sensível, mas também era fruto de sua época. Muitas ideias reacionárias estavam estabelecidas naquele tempo. No entanto, ele era republicano, o que já era algo progressista em tempos de monarquia. Claro, sem deixar de considerar os erros da ideologia do progresso, que até hoje tende a diminuir a importância do campo. É interessante pensar que trabalhos como o dele ajudaram a derrubar algumas das teorias que ele próprio acreditava. Mas isso levou anos. Ainda assim, o relato cru das crueldades que ele presenciou, mesmo que revestido de determinismo racial, tem sido crucial para compreender as cicatrizes da nossa história.

É impressionante como uma obra pode refletir tanto seu tempo quanto estar à frente dele.

No mais, muito obrigado pela resenha! Parabéns, ficou muito bem escrita e super completa.


Regis2020 07/09/2024minha estante
Agradeço imensamente seu comentário, Raíssa!
Quando tiver lido, "Os Sertões", vou adorar que comente comigo suas percepções. ??


CPF1964 07/09/2024minha estante
Primorosa sua resenha, Regis. ???


Regis2020 07/09/2024minha estante
Obrigada, Cassius! ??


Vania.Cristina 08/09/2024minha estante
Obrigada Regis, por pontuar com tanta clareza o lado feio e o bonito do livro, e reconhecer sua importância. Faz tempo que quero ler mas fico intimidada pela exigência que imagino. Sua resenha me faz pensar que talvez eu possa gostar da leitura. Principalmente pelo lado jornalístico.


Regis2020 08/09/2024minha estante
Tomara que você goste do livro, Vânia, e principalmente possa apreciar o teor jornalístico na terceira parte entitulada "A Luta". Eu gostei principalmente dos momentos que ele fala sobre o final do quarto embate entre o Exército e Canudos. A crueza e a atrocidade de alguns relatos mexeram muito comigo. ??




Arsenio Meira 06/01/2013

Minha opinião: indispensável a leitura de "Os Sertões". É culto, mas não é modelo de estilo, pois Euclides viveu a Belle Époque, e escrevia tal qual Olavo Bilac desfiava os seus sonetos. Mas o livro é de gênio.

Nos deu de bandeja, há mais de cem anos, a realidade do sertão, do sertanejo, e da omissão do Estado. Prenunciou e denunciou a triste realidade, ao que parece, perene: o nosso atraso como civilização. A ausência da cidadania, o descaso do poder Público e etc.

Tenho a impressão que Euclides começou o livro tentando detonar Antônio Conselheiro e a Revolta de Canudos, mas terminou emocionado pela coragem e a persistência dos revoltosos e escreveu um grande épico.

Importante observar que Robert Lowell, poeta americano de excelente cepa, só leu a tradução, mas chancelou definitivamente a obra do grande escritor brasileiro. Lowell considerava o épico de Euclides superior a "Guerra e Paz", de Tolstoi. Não é pouco.
Cardoso 16/10/2015minha estante
Você apagou mas eu comento mais uma vez: seu comentário é um plágio de uma opinião do Paulo Francis.


Phelipe Guilherme Maciel 04/12/2019minha estante
Verdade. Este comentário é um plágio de Paulo Francis, que pode ser evidenciado:
https://garimpoliterario.wordpress.com/2015/07/23/artigo-um-guia-para-ter-cultura-paulo-francis/

Não é um problema citar as idéias de outras pessoas, desde que isso seja devidamente creditado.


Margô 28/04/2022minha estante
Vixe Maria... plágio de resenha aqui no Scoob? Qual necessidade? Eu já estava aprimorando aqui um comentário à altura da resenha tão comedida, acertada, e ia parabenizar o autor, Arsênio Meira...rsss. Só que com certeza Paulo Francis já sabia, que Euclides da Cunha mudou de opinião em relação ao sertanejo, na labuta da guerra, já que esta informação é pública e notória...
Valeu Cardoso pela atenção ao texto, e à Arsenio por nos presentear com uma pérola do saudoso Paulo Francis.??


Rezendeneto 26/05/2023minha estante
Só podia ser rubro negro pra plagear uma resenha.


Margô 29/05/2023minha estante
?????


ffgss 13/07/2023minha estante
Coronel Moreira Cesar manda lembranças


Margô 27/07/2023minha estante
Kkkkkk...


JosA225 28/12/2023minha estante
Assim começa uma revolta popular. É só misturar governo que não sabe resolver os problemas do povo e juntar uma pitadinha de messianismo e teremos uma grande revolta. Ninguém dos moradores de canudos sobreviveu para contar história. Um grande livro.




caio.lobo. 15/01/2022

Quem é herói? Quem é vilão?
É certo, esta é uma das melhores obras de minha vida. A Guerra de Canudos é um episódio muito triste na história sertaneja e vergonhosa para o exército e a República. Um ambiente inóspito, povo miserável, muito sangue, gente estropiada e mutilada, atitudes vergonhosas da recém-inaugurada República e o seu exército ineficiente; como poderia surgir algo belo de coisa tão feia? Euclides da Cunha consegue extrair uma bela flor do meio de uma tragédia com suas obras “Os Sertões”.

A primeira parte, “A Terra”, é uma verdadeira aula de geologia/geografia. É a parte que as pessoas menos gostam, mas uma das que mais gostei. Euclides começa dando o panorama geográfico do sertão onde se situa o vilarejo de Canudos. É um prelúdio. Se explica os relevos, nomes de rios e características, mostra a escassa vegetação sertaneja do semi-árido, também o clima que castiga, e o solo, “um sonho de geólogo”, com seus quartzitos, calcários, gnaisses... Logo se percebe a beleza desta terra seca, uma escultura natural. Até aqui tudo é silêncio, serenidade, imobilidade, admiração pelo natural. Assim como a Criação estava em calmaria e deslumbre no livro de Gênesis, assim também é o sertão no seu vazio, até que esse paraíso acaba, tanto o do Gênesis como do sertão, quando surge aquele que tira a paz: o homem.

“O Homem”, segunda parte da obra, mostra aqueles que moram no sertão, o sertanejo, mostrando suas características, físicas e psíquicas. É uma mistura de raças, três raças: preto, branco e índio. Pela ótica do tempo de Euclides da Cunha essa é uma mistura que não pode dar certo. A mistura faz com que as características boas de cada raça desapareçam, sobrando no indivíduo apenas o pior de cada tipo (interessante notar que este é exato oposto ao Integralismo que surge anos depois, sendo para estes a miscigenação o que gera as características nobres de cada raça num indivíduo). O ambiente de miséria, escassez, extremo calor, seca, solo arredio e sendo o sertanejo um joguete desse meio também influencia no estado psicológico de seus habitantes, mas pode gerar, antes de tudo, um forte. A aula de geografia que o autor dá fica por conta da descrição de costumes, trajes e aspecto físico do sertanejo. O ambiente hostil gera um sujeito maltrapilho, todo torto, mas esse aspecto ruim é recompensado com uma destreza física e força que só um ambiente pedregoso, acidentado e grosseiro pode gerar. Digno de nota é a comparação com o gaúcho, um cavaleiro das estepes do pampa sulino, um ambiente agradável e fácil de se cavalgar. O gaúcho vai para a luta como que para uma festa, com bombacha, chapéu e lenço no pescoço, mas é desajeitado em batalha; o sertanejo com vestes remendadas, em trapos e sem pose é um ótimo guerreiro. Na mente desajustada dos cientistas deterministas e materialistas e de escritores naturalistas, a “mente desajustada” de Antônio Conselheiro é fruto dessa mistura de raças e a vida no ambiente hostil do sertão.

Uma nota aqui, Euclides da Cunha é genial, sua escrita insuperável, certamente um dos melhores escritores do Brasil. Sua escrita tem um nível de detalhe que impressiona. Ele parte do silêncio do ambiente geológico deslumbrante, passando pela efervescência do homem rústico preenchendo o “vazio geográfico”, até que a luta frenética toma conta do cenário; a monodia geológica se transforma em polifonia da multidão de sertanejos, e enfim, na cacofonia da guerra. Euclides da Cunha é tão importante que influenciou escritores internacionais de primeiro quilate, como Jorge Luis Borges e Mario Vargas Llosa. Porém da Cunha tem dois únicos defeitos. O primeiro é acreditar na ciência determinista evolutiva da época, que via o homem apenas como reflexo de seu ambiente, mas até aí não tinha muito o que fazer, este era o Zeitgeist de seu século. O outro defeito é ele ser defensor da República, mesmo depois da chacina que permitiu ocorrer contra os sertanejos, como veremos. A República, que já nasceu num golpe traiçoeiro, nunca deu certo, não dá certo desde que nasci e nem dará certo no futuro. Pena que Euclides da Cunha não pode ver toda a história de nossa República para ver que nenhum de seus representantes era digno, pois só assim para acabar com sua cegueira. O autor acaba, em poucos momentos, ser um tanto ideólogo a favor da República, mas diferente de autores de nossos tempos, que só sabem fazer literatura como ato político, sem se abrir para outras visões de mundo além da porca visão política, Euclides da Cunha vê o valor do inimigo, sua valentia, seu poder e se valor nesta luta.

“A Luta” enfim, esta é a última e mais longa e densa parte do livro. É a descrição literária da Guerra de Canudos. O vilarejo se torna numa cidade com a chegada dos seguidores de Antônio Conselheiro, um gnóstico moderno e sertanejo, como o autor o chama. Conselheiro era místico que pregava o ascetismo, a renúncia aos prazeres, prática devocional, vida profana e religiosa em comunidade e ensinava que a República era o anticristo na terra, pois a República era demasiada materialista, secular e anti-tradicional. Antônio Conselheiro não tinha pretensões de poder temporal, suas pretensões eram místicas, da mesma forma que seus seguidores que queriam viver em oração, mesmo assim a República os via como ameaça, agentes dos monarquistas, e até mesmo financiados por agentes internacionais em um complô contra a recém República. Podemos ver que já havia teoria da conspiração há mais de cem anos atrás, e muitos caíram nestas notícias falsas, incluindo jornais, cientistas e até escritores como Olavo Bilac e o nosso Euclides da Cunha. Então o exército brasileiro é enviado para interromper o crescimento de Canudos. A primeira expedição crê que será extremamente fácil a destruição dos jagunços, porém sofrem uma derrota humilhante e são enxotados do sertão. Fora os mortos e feridos, o resto do contingente teve de voltar com o rabo entre as pernas para sua terra. Vem a segunda expedição, maior, mas os combatentes de Canudos os enfrentam com bravura e violência. As armas de última geração do exército não foram capazes contra as armas rústicas dos jagunços, pois estes conheciam a terra e essa mesma terra que trouxe tanto sofrimento em suas vidas agora os defendia. Os sertanejos atacavam de surpresa, e não só os homens lutavam contra a República, mas também mulheres, velhos e crianças. A hecatombe era brutal, o exército perdia soldados e sargentos; a seca e más condições do ambiente minavam suas forças e os sertanejos aniquilavam as tropas. Nesse interim, durante o pôr-do-sol, acontecia o fato mais humilhante para o exército brasileiro, os moradores de Canudos iam para a igreja, esta construída pelos próprio sertanejos e Antônio Conselheiro, e lá rezavam a missa com todo o vigor e se ouvia seu louvor até fora da cidade. Os sertanejos pareciam nem ter lutado pelo ânimo que demonstravam, enquanto os soldados lá fora estavam no limite das forças. Isso era ao mesmo tempo impressionante e humilhante. Os guerreiros de Antônio Conselheiro vencem mais uma vez.

A terceira Expedição do exército contra Canudos foi mais preparada, levando até enormes canhões apelidados de “matadeira”. Detalhe: estes canhões não foram feitos para solo acidentado como do sertão, além disso, necessitavam de dois engenheiros para operá-los, então, na maior parte do tempo, eram enormes trambolhos que mais atrapalhavam. Aqui Euclides chega no ápice de seu talento, onde a guerra fica mais intensa. O sertanejo é realmente um forte, quanto maior o combate, mais se destaca em sua destreza. A descrição de armas, movimentos do exército, artimanhas dos jagunços, nomes dos “altas patentes” e suas características, defeitos e até mesmo seus podres. Aqui vemos carnificina, muito sangue, amputações, sujeitos alvejados, fogo consumindo parte da cidade, doenças causadas pelo meio, morte por inanição e a crueldade dos soldados, deixando companheiros ao relento e sem auxílio algum morrerem no sertão. A guerra é cruel, mas a escrita é linda. A guerra se prolonga demais, e mesmo com a quantidade grade de soldados vindos de toda a região, o exército enfraquece por conta do cansaço. Mais uma vez Canudos vence, é um milagre.

Muito se fala que a Guerra de Canudos ocorreu por conta das desigualdades, pela pouca assistência do governo, pela vida sofrida daqueles sertanejos. Isso tudo pode ter tido influência em alguns indivíduos, mas foi a fé e crença nas palavras arrebatadoras de Antônio Conselheiro que trouxeram uma nova visão a estas almas. Se fosse só por conta de uma melhoria das condições materiais não haveria sentido, pois os seguidores de Conselheiro abandonavam a vida mundana e prazeres materiais, trabalhando em prol de sua fé apenas. Eles buscavam acima de tudo melhores condições espirituais. Antônio Conselheiro continua aquela tradição da fé poderosa dos povos do deserto, seguindo os passos de Abraão, Moisés, Jesus Cristo, os padres do deserto e de Maomé. A religiosidade do deserto é sempre mais poderosa.

Mas como todos sabem, Canudos caiu. A quarta expedição militar foi fulminante, pois se descobriu o erro que os prejudicava em batalha, que era a falta de uma logística adequada. Então foram implantados hospitais de campanha e levados mantimentos de reserva. Os soldados revigorados começam a vencer, mas os jagunços não se entregam, lutam bravamente sem balbuciar. Isso causa a mais terrível das carnificinas, com muitos inocentes destroçados, como crianças compartes do rosto destruído e mães e avós correndo com crianças ensanguentadas no colo. Há prisioneiros, mas estes não traem a sua fé. Com o aumento dos prisioneiros ocorre uma das cenas mais tristes da história brasileira: o verdadeiro genocídio da nossa história. Não havia lugar para tantos prisioneiros, pois eram dezenas de milhares, então se toma a atitude mais prática e covarde da guerra, que é matar a sangue frio. Aqui as cenas são fortes, pois se degolava aos montes, morte apelida de “gravata vermelha”. E não era só homens que morriam de forma tão cruel, mulheres, idosos, doentes e até crianças morreram assim. Além dos estupros. Aqui o coração de Euclides da Cunha balança e sente vergonha do seu país, pois esta era uma atitude bárbara. Alvim Martins Horcades, médico e testemunha ocular diz o seguinte: “em Canudos foram degolados quase todos os prisioneiros. (…) Assassinar-se uma mulher (…) é o auge da miséria! Arrancar-se a vida a criancinhas (…) é o maior dos barbarismos e dos crimes monstruosos que o homem pode praticar!". Os estudantes da faculdade de direito da Bahia fizeram o seguinte manifesto: “cruel massacre que, como toda a população desta capital já sabe, foi exercido sobre prisioneiros indefesos manietados em Canudos e até na cidade de Queimadas; e (…) vêm declarar perante os seus compatriotas - que consideram um crime a jugulação dos míseros "conselheiristas" aprisionados, e francamente a reprovam e condenam como uma aberração monstruosa. (…) Urge que estigmatizemos as iníquas degolações de Canudos." Até Rui Barbosa foi em defesa de Canudos por conta desse crime hediondo. E claro, Euclides também se escandaliza com essa chacina descrevendo no livro: “A campanha de Canudos lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo."

Enfim Canudos é derrotado logo após a morte de Antônio Conselheiro, que parecia ser a verdadeira força espiritual desse povo. Derrotados, mas não rendidos, não se entregaram, preferindo morrer. O final é triste e desanimador, me dando a impressão que o mal vence. Mas a culpa não é de Euclides da Cunha, que é fenomenal e mostra a beleza do terrível, mas é culpa da nossa história.

Os Sertões é obra tão poderosa e influente que sua visão de sertão é a que seguimos até hoje. Antigamente sertão era todo lugar pouco habitado no interior do país, seja na floresta, na zona seca, no norte, sul, sudeste; com Euclides da Cunha ficou caracterizado o sertão apenas como a área semi-árida do nordeste brasileiro, e isso está profundamente enraizado em nossa cultura. Curiosidades: o termo “favela” surgiu em Canudos, sendo um dos locais de batalha chamado de Morro da Favela, pois neste lugar havia muitas árvores chamadas de favelas por conta de seus favos. Como no Morro da Favela foram construídas muitas casas desordenadamente e amontoadas, os soldados que viram e voltaram para o Rio de Janeiro, com a promessa não cumprida de ganharem casas do governo, tiveram que construir casas precárias nos morros do Rio e chamaram essas regiões de favelas, em lembrança de Canudos. Isso mesmo, a República prometeu casas para os soldados se vencessem a batalha e venceram, mas ganharam em troca uma “banana” do governo. Canudos foi totalmente destruída, mas logo outra Canudos foi construída sobre os escombros da antiga. Getúlio Vargas querendo apagar da história a humilhação que o exército sofreu no passado e tirar da memória qualquer lembrança da revolta contra a República, mandou construir um açude onde foi a principal zona da guerra, sendo este açude de pouca utilidade para a região. Getúlio afundou a história sob as águas. Enfim, além do crime de guerra da “gravata vermelha”, condenado internacionalmente pela Convenção de Haia, o exército profanou o corpo de Antônio Conselheiro, o desenterrando e cortando sua cabeça com um facão. Sua cabeça foi enviada ao Rio de Janeiro para estudo, onde foram verificar se havia algo em seu cérebro que demonstrava alguma loucura. Não foi encontrada nenhuma anormalidade em seu cérebro.

Deixo agora um outro texto que fiz há dias sobre a relação de Os Sertões de Euclides da Cunha e o estudo dos sertões brasileiros na historiografia:

Euclides da Cunha é um caso interessante da literatura brasileira, polímata, com conhecimento profundo na geologia e geografia, tendo apenas uma obra conhecida pelo grande público, mas que tem influência notável na nossa cultura, principalmente no Nordeste onde até existe uma cidade com seu nome. Euclides da Cunha foi quem moldou a nossa visão de “sertão” como sendo a região árida nordestina e o “sertanejo” nordestino com seus típicos trejeitos caracterizados. Euclides da Cunha em “Os Sertões”, principalmente nos trechos em destaque do capítulo 1, é a contraposição do texto “O Sertão - um ‘outro’ geográfico” de Antonio Carlos Robert Moraes (2003); enquanto Antonio Carlos Robert Moraes diz que “o sertão não é uma materialidade da superfície terrestre, mas uma realidade simbólica”, Euclides faz justamente o contrário, dá todas as características físicas, geográficas, geológicas, de vegetação, sociais e até culturais do sertão. Essas características “sertanejas” de Euclides da Cunha inclui o clima árido, desertificação, predominância de quartzitos, pouca vegetação com predominância de mandacarus e outras plantas suculentas, povo sofrido e maltrapilho, mas também muito forte e resistente.
Destaco que no capítulo “Terra Ignota” fala da cartografia do sertão baiano: “As nossas melhores cartas, enfeixando informes escassos, lá têm um claro expressivo, um hiato, Terra ignota (...)”, ou seja, essa região nem era considerada geograficamente, sendo um vazio territorial repleto de gente, como a obra vai demonstrar com o grande fluxo de pessoas indo a Canudos por causa das pregações de Antônio Conselheiro. Este esquecimento do sertão nordestino em relação aos outros sertões do país demonstra muitas vezes a estratégia da Coroa Portuguesa, como o uso dos Tratados de Sesmarias, que não conseguiam cultivar todas as partes do que seria o Brasil, permanecendo o “sertão ideológico” a ser conquistado, sob o ponto de vista de Antonio Carlos Robert Moraes; o sertão nordestino é um caso claro que falha de governos em dominar eficazmente o local, sendo ocupada de forma irregular pelos mais diversos tipos de gente que não puderam construir suas vidas nas áreas urbanas e litorâneas, e o grupo formado em volta de Antônio Conselheiro demonstra forças paralelas aos governo ocupando não-oficialmente estes sertões.

Este vasto sertão natural descrito em pormenores por Euclides da Cunha é realmente uma área bastante considerável de terras, e ao mesmo tempo tem pequena importância para o poder vigente, como também pela vasta maioria da população que não vive ali. Da mesma maneira o magistral escritor Guimarães Rosa, com forte ligação com o sertão, diz em Sagarana (1946): “comprimiam-se os flancos dos mestiços de todas as meias-raças plebeias dos campos-gerais, do Urucuia, dos tombadores do Rio Verde, das reservas baianas, das pradarias de Goiás, das estepes do Jequitinhonha, dos pastos soltos do sertão sem fim” (ROSA, Sagarana, p. 33, grifo nosso); e em outro conto da mesma obra diz: “Mas, como tudo é mesmo muito pequeno, e o sertão ainda é menor (...)” (ROSA, Sagarana, p. 342, grifo nosso). O sertão é grande e é pequeno, isso dependerá de quem o observa e de seus interesses. Aliás, Guimarães Rosa, que descreve muito bem outro tipo de sertão, consegue mostrar o esquecimento e vida sofrida nos sertões de mata fechada, mesmo sendo uma natureza oposta à do sertão, porém o sertão de Guimarães apresenta momentos de alegria, paz e maravilhamento e o sertão de Euclides é só sofrimento. Entretanto há a diferença de que Guimarães Rosa é um homem do sertão e Euclides da Cunha não.
O sertão Euclidiano tem a peculiar característica de não ter história: “o estranho território, a menos de quarenta léguas da antiga metrópole, predestinava-se a atravessar absolutamente esquecido os quatrocentos anos da nossa história”; o “salvador” da perpetuação deste esquecimento é justamente Antônio Conselheiro, junto a seus seguidores. Outras figuras históricas surgiram nesse sertão nordestino onde as forças da natureza parecem ser mais agressivas com o homem, e este ao mesmo tempo se torna um forte por meio dessas dificuldades. Padre Cícero, Lampião, Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, entre outros são figuras que trazem o sertão nordestino como figura de importância nacional, além de obras importantes da nossa literatura como “Morte e Vida Severina”, “Auto da Compadecida” e a literatura de cordel. Mas é difícil para a população em geral pensar na história do sertão nordestino nos primórdios da colonização, em saber como surgiram povoados no meio do “nada”, mais custoso é para o cidadão comum imaginar como famílias que vivem naquelas moradias isoladas de taipa em ambiente tão hostil. Felizmente temos recursos que a historiografia nos fornece para saber como foi a colonização e povoamento de áreas que aparentemente eram “isoladas”. Estes recursos não estavam disponíveis quando Euclides da Cunha escreveu sua obra, se estivessem disponíveis provavelmente alteraria um pouco o desenvolvimento de “Os Sertões”.
E o que a historiografia diz sobre os “esquecidos quatrocentos anos” da história do sertão? NUNES (2016, p. 88-89) nos explica que a bibliografia clássica diz que a ocupação do território se deu através da criação de animais, sendo o sertão um pasto para estes animais que produziram carne, leite, queijo e couro. Porém o autor também nos fala que não apenas a criação de animais possibilitou essa movimentação do litoral ao sertão, sendo a outra força que causou essa movimentação foi a cultura do algodão que disseminou um “corrida pelo algodão” naquela região. Mas essa região não era um deserto no sentido de ser vazio de população, havia indígenas. Segundo SILVA (2017, P. 261):
“Os brejos são áreas úmidas existentes no Semiárido com cobertura vegetal densa de espécies endêmicas e também da Mata Atlântica. Foram chamados de “áreas de exceção” ou “ilhas de umidades” em meio ao típico clima seco e quente da Caatinga no Agreste e Sertão nordestino. Nessas regiões, há milênios densamente povoada por seres humanos e animais, na parte montanhosa estão os denominados brejos de altitude, concentrando um maior índice anual de chuvas e fontes de água que possibilitam a lavoura de subsistência e para o comércio.”

Deste modo fica claro que a história do sertão foi relembrada pela historiografia e que não é história de apenas quatrocentos ou quinhentos anos, e sim de milênios.
Destaco aqui dois pontos do pensamento de Euclides da Cunha. O primeiro é seu naturalismo mesclado com positivismo; naturalismo por conta de crer que o ambiente é o único elemento da formação de caráter, sem considerar a história, características inatas de alguns indivíduos, alguma tendência metafísica da alma ou qualquer outra fator além do ambiente; o positivismo por conta de uma tendência evolutiva e crença numa história linear que tem como objetivo o progresso e com isso algumas nações e povos teriam progredido mais que outros. Dessa tendência do autor surge sua crítica à espiritualidade de Canudos, não entende a razão do ascetismo e da renúncia ao mundo, chamando Antônio Conselheiro de “gnóstico moderno”. Aqui há um conflito de ideais, da crença no progresso de Euclides da Cunha contra a crença de Antônio Conselheiro na decadência do mundo. Sendo assim, o autor vê o sertão que gerou uma figura com “problemas psíquicos” como Conselheiro, isso sob seu ponto de vista, como uma região problemática, um caldeirão de dificuldades, espiritualidade exótica e mistura de raças, e Antônio Conselheiro é o fruto natural desse ambiente, um ambiente que tende a gerar tipos com exagerada exaltação psicológica. Quando Euclides da Cunha diz que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte” se refere a sua força física e resistência ao ambiente hostil, não é um forte de caráter, pois como foi dito acima, para Euclides, o sertanejo tem muitas fraquezas psicológicas. Do ponto de vista atual, essa visão preconceituosa, espírito de uma época, é devida ao naturalismo, positivismo, materialismo e cientificismo.

O segundo ponto é que Euclides da Cunha era um fervoroso republicano, mas Antônio Conselheiro era monarquista. Como Euclides crê que a república é a “evolução natural” e objetivamente melhor que a monarquia, logo quem segue alguém que defende o oposto é um retrógrado. Essa visão logicamente vai desembocar no pensamento de que uma região onde pessoas defendem algo “antiquado” é uma região atrasada. Este é outro pensamento que se perpetua: o sertão nordestino é uma região atrasada.
Concluindo esta análise e parecer, observo a tamanha importância da obra “Os Sertões” de Euclides da Cunha, pois nota-se que a escrita eloquente do autor moldou o sertão como conhecemos hoje, como a região semiárida do Nordeste. A historiografia busca relembrar que o termo “sertão” era utilizado para toda região interiorana do Brasil que se buscava explorar. Muitas vezes o sertão era visto como inabitado, mas é claro que isso é um erro relativo, pois havia indígenas; já o sertão de Euclides é habitado e às vezes com grandes populações. O sertão pode ser região do Nordeste, mas o termo já foi utilizado para a região amazônica (apesar de hoje não mais) e até mesmo no Paraná havia sertões; a “busca” pelo sertão era o intuito dos Tratados de Sesmarias, as expedições dos Bandeirantes e as expedições filosóficas; os sertões aparecem em escritos e obras de escritores como Padre Antônio Vieira, Ariano Suassuna, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, entre outros; o sertanejo é figura popular através de Tonico e Tinoco, Luiz Gonzaga, Mazzaropi e até mesmo com a atual música pseudo-sertaneja, lembrança corrompida e turvada do sertanejo raiz e do caipira. O sertão aparece de diversas formas e em vários momentos da história do Brasil, mas é a visão de Euclides da Cunha que sai vitoriosa. Ainda se pode dizer que “Os Sertões” de Euclides da Cunha tem uma força de atração cativante aos geógrafos e geólogos, pois suas minúcias de detalhes do ambiente é uma verdadeira aula. Será tarefa difícil ao historiador ir contra a visão euclidiana de sertão, pois além de se opor a um grande escritor, tem de ir contra a maré da visão popular moldada pelo escritor. A historiografia, assim como a filosofia e as ciências, traz conhecimentos sólidos, mas a literatura e a arte são as que geralmente formam o imaginário popular e causam mudanças sociais profundas, seja para o bem ou para o mal. Enfim, os historiadores e geógrafos tem uma difícil e gigante tarefa pela frente, assim como é gigante a criação de Euclides. Se Homero criou os deuses e Dante gerou o céu, o inferno e o purgatório, Euclides da Cunha inventou o nosso sertão.


REFERÊNCIAS

DA CUNHA, Euclides. Os sertões. Principis, 2021.

MORAES, Antonio Carlos Roberto, O Sertão – um “outro” geográfico, Terra Brasilis [Online], 4 - 5 | 2003, posto online no dia 05 novembro 2012, consultado o 04 dezembro 2021. URL: http://journals.openedition.org/terrabrasilis/341; DOI: https://doi.org/10.4000/terrabrasilis.341

NUNES, A. M. B. Currais, cangalhas e vapores: dinâmicas de fronteira e conformação das estruturas social e fundiária nos “Sertões da Borborema” (1780-1920). 2016. 248 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais), Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba, Brasil, 2016, consultado em 06 de dezembro de 2021. URL: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/1357

ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
SILVA, Edson. Índios no semiárido nordestino: (re) conhecendo sociodiversidades. CLIO: Revista Pesquisa Histórica, v. 35, n. 1, p. 254-272, 2017, consultado em 07 de dezembro de 2021. URL: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/article/view/24540/19827#

Victor.Oliveira 16/01/2022minha estante
Rapaz, que resenha gigante


caio.lobo. 16/01/2022minha estante
Exagerei um pouco??


Criadordej 02/04/2022minha estante
Que resenha sensacional!


caio.lobo. 02/04/2022minha estante
Fico realmente muito feliz que tenha lido minha resenha, mesmo que meio grande.


Ewerton76 07/02/2024minha estante
essa resenha foi magnifica, estou lendo o livro, ma sjá li algumas partes dele na faculdade. sensacional .




Lucas Lobo 12/09/2022

Uns dos mais difíceis
É um ótimo livro, que fala sobre a guerra de canudos, sobre Antônio conselheiro. Porém, é um livro bem difícil de se ler. Espero ter uma leitura melhor na segunda vez que eu for ler.
Orlando 10/10/2022minha estante
Boa noite,tudo bem? Sou novo aqui no app,e não estou conseguindo ler,podem me auxiliar por favor?


Lucas Lobo 10/10/2022minha estante
Amigo, é pq o app não é feito para ler os livros, e sim para fazer anotações sobre o livro, para ver comentários a respeito do livro. Entende?


Orlando 10/10/2022minha estante
Kkkk, há entende, obrigado,me indique um para ler por favor?


Lucas Lobo 11/10/2022minha estante
O pequeno príncipe




Nara 15/01/2018

Surpreendente!!! <3
Logo que iniciei "Os Sertões", tinha quase certeza de que ia desistir facilmente. Demorei um pouco para me acostumar com a escrita. A primeira parte (A terra) foi um pouco difícil e confusa, eu tive que voltar a leitura em alguns momentos para me situar. Mas após algumas páginas e um pouco de dedicação, a narrativa me pegou de um jeito que eu não conseguia mais parar de pensar sobre os acontecimentos. A leitura ficou deliciosa e interessante, apesar das dificuldades pelas minhas limitações em alguns trechos do livro. Foi uma leitura que exigiu muito de mim... muita disciplina, atenção e dedicação! Mas valeu a pena DEMAIS! Quando finalizei, tive vontade de voltar ao iníciou e ler tudo novamente. Foi surpreendente, pois eu tinha quase certeza de que ia odiar essa leitura.
"Os Sertões" é um livro verdadeiramente INCRÍVEL!
Sem dúvida, um dos meus favoritos da vida!
Carina Tavares 15/02/2018minha estante
Será que devo tentar novamente? Pq eu odiei. Abandonei e até agora nem pensei nesse livro outra vez


Nara 17/02/2018minha estante
Carina, eu achei que ia desistir logo, mas após a primeira parte, que é super cansativa e de difícil compreensão, a história ficou interessante demais.
Eu aconselho você a tentar novamente. Espera ele "te chamar" e vai sem medo. O começo vai ser bastante confuso e até chato, mas não desiste! Se você é curiosa sobre essa história, vai valer muito a pena!


Araceli 06/01/2019minha estante
Estou lendo e realmente a primeira parte foi bem cansativa. Ainda estou me adaptando com a narrativa e a linguagem difícil de Euclides, mas estou gostando do livro.


Nara 09/01/2019minha estante
Que bom que está gostando, Araceli!
Segue lendo com calma. Vai chegar um momento que você não vai mais conseguir largar. Vale muito a pena!




suellensouza 22/07/2021

Eu não consegui me conectar com o livro, apesar de ser uma obra importante, eu encontrei a leitura cansativa e infelizmente tenho que dizer que terminei empurrada. Talvez se eu um dia o ler novamente, eu possa entender a importância que ele é para nossa história.
Dio 08/08/2021minha estante
Tenta ler a guerra do fim do mundo


Júlio Oliveira 17/08/2021minha estante
Estou sentindo o mesmo! Tá complicado de continuar?


Dio 25/08/2021minha estante
O livro é chato, o autor é claramente preconceituoso e tem um ideal étnico eurocenteico. Mas até mesmo alguém como ele notou o horto que foi canudos.

Acho que a guerra do fim do mundo é uma boa leitura de introdução por trazer um olha idealizado dos guerreiros de Belo Monte e não uma perspectiva de desprezo.




juju queen 10/10/2022

os sertoes
o livro mais chato que eu ja li na minha vida. nao é um livro ruim, é um livro CHATO. tem uma linguagem dificil e relata um fato historico, é um livro importante e só perdeu uma estrela pq é muito dificil de ler.
natzzzi 12/10/2022minha estante
admiro sua coragem, venceu neisnwknsksns


juju queen 13/10/2022minha estante
venci dms


Lelê 14/10/2022minha estante
Parabéns filha você conseguiu ler isso é o que importa!!!




Naa 07/09/2021

Os sertões I
Eu ouvi o audiobook, mas vou considerar como leitura pq o skoob é meu e eu faço o que eu quiser.

Enfim, só estou me torturando com esse livro pq a escola está me obrigando. Essa primeira parte foi chata demais. Analise geográfica do sertão? super importante para geógrafos e historiadores, não para mim. Realmente não é o tipo de coisa que eu leria por espontânea vontade.
Atenasis 07/09/2021minha estante
?O skoob é meu e eu faço o que eu quiser? KKKKK AMEI


oviajantedasestrelas 11/11/2021minha estante
"...o skoob é meu e eu faço o que eu quiser."

A-D-O-R-E-I

hahahahaha


Liu 30/12/2021minha estante
O Enem mandou lembranças hehe




Fernando1602 05/01/2021

Nunca gostei de ler livros ?literários?, aqueles que nos são passados na escola porque são cobrados no vestibular. À exceção de Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor Cony, sempre achei esse tipo de livro muito fora de realidade, uma leitura cansativa e pouco interessante.
Resolvi dar uma chance a Os Sertões basicamente por dois motivos: o primeiro, por ter sido escrito por Euclides da Cunha, um engenheiro como eu; o segundo, por retratar a Guerra de Canudos, assunto pelo qual sempre tive um grande interesse e gostaria de me aprofundar.
Porém, logo no início, me lembrei do porquê das ressalvas que eu tinha para com este tipo de livro. O português utilizado pelo autor é de um formalismo deveras exagerado. Mesmo considerando que o texto foi escrito no início do século XX, me parece que o autor buscou sinônimos que tornassem suas frases mais cultas de maneira não natural, já que outros livros da época não utilizam do mesmo tipo de linguagem. O resultado disso é uma leitura lenta, cansativa ao extremo e pouquíssimo atrativa.
Além disso, o autor passa boa parte do início do livro retratando fielmente os aspectos naturais do sertão (talvez por isso engenheiros não devem ser bons escritores kkkk) e a constituição do sertanejo (incluindo alguns pontos em que se pode observar um racismo inerente à época), o que apenas contribui para deixar o livro ainda mais massante.
De todo o modo, resolvi continuar a leitura pois ainda havia a Guerra de Canudos em si como atração. Quando o texto enfim começa a explorar o conflito, a leitura melhora um pouco. Entretanto, as escolhas lexicais do autor continuam prejudicando a fluidez, que também é afetada pelo detalhismo de Euclides da Cunha em diversos trechos, como por exemplo quando ele lista todos os batalhões que formavam as brigadas que atacaram o vilarejo de Conselheiro.
Minha conclusão em relação à obra como um todo é que ela ficou antiga. Diferentemente de outros clássicos que são atemporais, Os Sertões não envelheceu bem. Seu português ficou antigo, seu racismo ficou antigo e, talvez, até mesmo sua relevância tenha ficado antiga. Dei uma nota 2 mais em respeito ao que este livro já representou em algum momento de nossa história e porque, mesmo que aos trancos e barrancos, conseguiu cumprir minimamente o segundo objetivo de minha leitura que era conhecer mais sobre a Guerra de Canudos.
Jessie 05/01/2021minha estante
Acho que mesmo sendo engenheiro escreve bem hehehe


Fernando1602 05/01/2021minha estante
Ehhehehe obrigado ?


Fenelondasneves 10/05/2021minha estante
Cara, é isso. Também comecei a leitura por ser um "clássico" e muitas pessoas recomendarem ( a maioria talvez, nem tenha lido realmente). Desisti no meio do caminho. Igual você descreveu, o autor usa muitas palavras rebuscadas, que, já na época, não eram usuais, abusa de "conceitos" racistas, aliás, uma das poucas partes que é possível entender é essa. Pretendo tentar lê-lo novamente. Já abandonei três vezes.




David 29/04/2018

Os sertões narrado de forma simples.
Essa coleção é interessante principalmente para o público adolescente e para incentivar a leitura dos clássicos.
Linguagem fácil que pode ajudar até os jovens antes dos vestibulares.
Os Sertões, mostra a vida dura do sertanejo de ontem que difere muito pouco nos dias atuais, e olha que já se foi mais de um século. As injustiças no Brasil e as desigualdades permanecem inalteradas.
gabis 12/06/2018minha estante
Narrado de forma simples talvez em edições mais atuais. Tive a infortunidade de começar a ler uma edição da década de 70! Kkkkk


David 23/06/2018minha estante
sim. é realmente maçante.kkkk




EvaíOliveira 05/06/2022

A obra trata da Guerra de Canudos que aconteceu no interior da Bahia. O autor, que era correspondente do jornal O Estado de São Paulo, presenciou parte dos acontecimentos na região e os descreveu de forma fiel.
Achei a parte sobre a terra um pouco cansativa.
Mas a parte sobre a guerra é bem detalhada.
roberta | @robertabooks 08/06/2022minha estante
Eu comecei a ler e abandonei no meio da parte sobre a Terra, de tão cansativo que eu achei a leitura. Já me falaram que depois fica muito bom, mas não sei se quero voltar prum livro que meu deu um cansaço daqueles


EvaíOliveira 08/06/2022minha estante
Essa parte da Terra é cansativa mesmo. Quando começa a falar da guerra, melhora.




Tamiris 15/02/2021

Uma história trágica!
O livro é estruturado em três partes a terra, o homem e a luta

A primeira parte Euclides irá explicar a geologia do Sertão como é o clima, a vegetação, o solo, o relevo e etc... Detalhadamente o que acontece em todo o livro é bem minucioso, por se tratar também de uma obra jornalística e historiográfica.

A segunda parte fala sobre o homem, como era o sertanejo, o jagunço, a cultura, raça, religião e inicia a história do Antônio Vicente Mendes Maciel vulgo (Antônio Conselheiro) sua infância, sua juventude até o ponto em que se torne esse ícone.

A terceira parte entra a luta, as expedições enviadas para destruir canudos.

Para mim a primeira parte foi maçante foram 14% sem entender direito o que ele escrevia, adoro geografia, mas não tive conhecimento suficiente para entender os detalhes minuciosos do solo, da vegetação, do ar e etc. Uma coisa que me chamou atenção nessa primeira parte e a mumificação de cadáveres pelo clima, vi isso também na morte vida Severina. Não conheço pessoalmente o clima do nordeste (sertão), mas fiquei imaginando.

Quando finalizou a primeira parte pensei pronto agora vou entender, mas Euclides tem uma linguagem muito difícil. Diversas vezes me peguei divagando era bem complicado me concentrar e para ler esse livro precisar estar concentradíssimo na leitura. Mas foi interessante conhecer as características do povo que a habita o sertão e toda sua cultura. Gostei de conhecer a história da Antônio Conselheiro e deu vontade de ler outros livros, mas fáceis sobre ele.

Na terceira parte foi assustador ver Canudos sendo destruído e cadáveres e mais cadáveres amontoados. Algumas histórias me chamaram a atenção, diante de tantas trágicas uma delas de um moço que qualquer pergunta que faziam para ele respondia “Sei NÃO!” Ai perguntam como quer morrer “de tiro”. Pois há de ser a faca!”e quando a faca enfia no seu pescoço com o sangue borbulhando, gargarejando com o sangue anda grita “Viva o bom Jesus!.”

Esse trecho resume um pouco a força desse povo “Aqueles homens que chegam dilacerados pelas garras do jagunço e pelos espinhos da terra eram o vigor de um povo posto à prova do ferro, à prova de fogo e à prova de fome.”

Lutaram até todos morrerem.

Foi uma leitura longa, acho que foram uns 3 meses.

Pela sua importância a obra vale 5 estrelas, mas dei três pela minha experiência com a leitura.
Pedro Moreira 15/02/2021minha estante
Excelente resenha!


Tamiris 15/02/2021minha estante
Obrigada ?




JosA225 29/12/2023

Os Sertões
Obra magistral. Conta a luta dos moradores de Canudos contra as forças mandadas pelo governo federal. Canudos, comandado por Antônio Conselheiro, cai somente com a exaustão total de seus habitantes, não sobrou ninguém para contar história
Clark 23/01/2024minha estante
Spoiler: sobraram mulheres, idosos e crianças.


JosA225 15/02/2024minha estante
Todos foram mortos. Não essa de proteger crianças, mulheres e idosos.




Valeria 18/11/2012

muito ruim
Esse livro é muito ruim , longo chato , euclides da cunha não soube escrever ,massante e cansativo , não gostei mesmo terminei por ser trabalho de escola .
Victor 29/03/2013minha estante
Um dia quando você tiver mais maturidade você tenta lê de novo.


lili20 10/09/2020minha estante
Maturidade é respeitar as opiniões e gostos alheios!
Se o colega Victor gostou tanto do livro, seria mais produtivo fazer sua própria resenha, se ainda não o fez.

Quanto a colega Valeria, creio que Euclides sabia escrever sim, pelo menos gramaticalmente.
Creio que ele jamais escreveria maçante com dois 'ss'...




Henrique_ 08/08/2022

Demanda esforço
Diante da curiosidade em saber o que torna "Os Sertões" um clássico da literatura dos mais difíceis de serem lidos, resolvi não mais postergar sua leitura, não sem antes avaliar meu ótimo estado de motivação. Então, já vai aí uma dica se pretende lê-lo: esteja bem motivado. Há outras dicas práticas, como iniciar pela terceira e última parte do livro, que vai tratar do conflito de Canudos em si, mas eu mesmo preferi seguir a ordem normal do livro e não me arrependi, pois assim pude apreciar toda a complexidade da obra. Bem, mas o que a torna tão complexa? Longe de mim esmiuçar essa complexidade. Mas posso dizer que a erudição é o fator que mais contribui para deixá-la difícil. E não é nem tanto pelo uso do vernáculo culto, mas pela apresentação de conhecimento extremamente técnico em geografia, geologia, antropologia, história, política, estratégia de guerra, etc. É preciso compreender o contexto de estudos racistas em que a obra está inserida.
Chama a atenção que boa parte desse esforço em ler o livro tem a ver com o longo processo de resistência de uma minúscula e crescente comunidade no interior da Bahia, cujo maior trunfo foi saber usar a caatinga a seu favor.
A despeito das dificuldades, é uma obra que ensina muito e vale muito a pena conhecer a resistência em Canudos.
Eduardo 08/08/2022minha estante
Ótima resenha, Rique (como sempre)! Você escreve tão maravilhosamente bem. Faz tempo também que esse livro tá na minha lista.


Betega 08/08/2022minha estante
Eu fiquei com vontade de ler esse Livro depois de ter lido A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, e me apaixonado pelo livro. Mas em geral as críticas a "Os Sertões" são bastante negativas, então ainda to receoso. De qualquer modo, recomendo o livro gringo, incrivelmente bem escrito.




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