Anderson Tiago 22/06/2014[RESENHA] O Império Final - Brandon SandersonÉ possível se tornar fã de um autor após ler apenas dois livros dele? Se sim, posso me considerar, definitivamente, fã do trabalho de Brandon Sanderson, tanto pelo que ele fez em Elantris, como agora em Mistborn: O Império Final. Tenho indicado seus trabalhos frequentemente em eventos de literatura fantástica ou para amigos pessoais e, caso mantenha o nível dos lançamentos que tivemos até aqui no Brasil, o autor em breve ganhará aqui o prestígio que tem nos EUA.
O sucesso de Sanderson vem da qualidade de seu texto aliado à rapidez com que escreve. São cerca de 19 livros e mais alguns contos desde o lançamento de Elantris em 2005, além de, no momento, estar trabalhando em 4 projetos diferentes. O Império Final, primeiro livro da trilogia Mistborn, rebatizada de Mistborn - Nascidos da Bruma, chegou ao Brasil este ano através da editora Leya e causou alvoroço entre os leitores mais fanáticos de fantasia, uma vez que essa trilogia era considerada a "magnum opus" do autor (pelo menos até o lançamento de Stormlight Archive). O enredo chama a atenção, primeiramente, por quebrar um dos maiores clichês das histórias de fantasia. Num passado distante havia uma profecia sobre um herói improvável que surgiria e salvaria o mundo do mal. Nada mais comum, certo? No entanto, o herói falhou e o mal venceu.
A partir dessa premissa, Sanderson criou um mudo dividido entre duas classes, os nobres e os skaas, classe inferior oprimida e usada como escravos pelos próprios nobres e pelo Senhor Soberano, o imperador e deus que controla o mundo tiranicamente pelos últimos mil anos. Ninguém consegue resistir aos poderes do Senhor Soberano e todas as tentativas de revolta contra o seu governo foram impiedosamente massacradas. Nesse contexto, aparece Kelsier, o ex-líder de uma gangue de ladrões skaa, disposto a desafiar o poder do imperador. Kelsier é irreverente, cativante e sorridente, mas um pouco arrogante e cheio de si; mesmo assim, sua personalidade magnética faz com que seja adorado por todos aqueles com quem cruza. A sua atitude despreocupada, porém, esconde uma terrível mágoa do passado. Uma mágoa tão forte que foi capaz de despertar os seus poderes de Nascido das Brumas.
O sistema de magia criado por Sanderson em Mistborn é, de longe, uma das coisas mais originais e geniais que já vi em toda a minha vida. A Alomancia, como é conhecida, é a capacidade de metabolizar metais e, a partir deles, adquirir certas habilidades mágicas. Cada metal é responsável por um poder distinto, embora cada metal tenha o seu par, com poderes diametralmente opostos. Os alomânticos, usuários de Alomancia, são divididos em dois grupos: os brumosos, capazes de usar os poderes concedidos por apenas um tipo de metal; e os Nascidos das Brumas, capazes de usar todos os poderes alomânticos.
Os Nascidos das Brumas são extremamente raros e, mesmo assim, a maioria é pertencente à alta nobreza, porém mestiços de nobres com skaa podem vir a ser alomânticos. Por isso, o Senhor Soberano proíbe e pune com a morte qualquer nobre que se relacione com uma skaa e gere filhos. Vin é uma mestiça que conseguiu se manter a salvo, mesmo tendo vivido quase toda a sua vida nas ruas, nas piores condições possíveis. Vin foi ensinada por seu irmão, Reen, a desconfiar de tudo e de todos e a sempre esperar a traição, mais cedo ou mais tarde. Esses ensinamentos são confrontados quando ela conhece Kelsier e sua personalidade atraente. Kelsier, por sua vez, vê Vin como uma esperança porque ela também é uma Nascida da Bruma.
Os personagens secundários também são um show à parte, principalmente o mordomo Sazed, que guarda grandes segredos. Os outros integrantes da gangue de Kelsier, como Dockson, Brisa, Ham, Trevo e Marsh, além do nobre Elend Venture, são bem explorados e contribuem para que a narrativa não fique demasiadamente focada nos dois protagonistas. Como já foi dito, a narrativa em terceira pessoa vem principalmente dos pontos de vistas de Kelsier e Vin, porém alguns personagens coadjuvantes assumem a frente da narração em alguns momentos. No começo de cada capítulo, há um trecho em primeira pessoa, como parte de um diário, que dá vislumbres da época em que o grande herói da profecia falhou e o Senhor Soberano ascendeu como poder dominante.
Para finalizar, O Império Final é uma obra excelente, apesar de ser apenas o primeiro volume da trilogia, e vem para afirmar a entrada de Brandon Sanderson no hall dos grandes escritores de fantasia de todos os tempos. Foi após ler Mistborn que a viúva do autor Robert Jordan resolveu convidar o jovem Sanderson para finalizar A Roda do Tempo, uma das maiores sagas fantásticas da história. Espero que o lançamento da trilogia no Brasil seja concluído de forma rápida para que possamos ter acesso a outros trabalhos do autor, especialmente The Stormlight Archive, que, segundo os leitores americanos, rivaliza com Mistborn pelo posto de melhor obra da sua extensa bibliografia.
Resenha assinada por mim para o site INtocados
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