O queijo e os vermes

O queijo e os vermes Carlo Ginzburg




Resenhas - O Queijo e os Vermes


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Sally.Rosalin 10/09/2015

O quijo e os vermes
Pesquisando em 1962 sobre os julgamentos de uma estranha seita de Friuli, o autor Carlo Ginzburg, encontrou uma sentença curiosa. O réu, Menocchio, sustentava que o mundo tinha sua origem na putrefação. O livro, O queijo e os vermes, narra sobre sua história apoiado em farta documentação. Mas, a intenção não é apenas biográfica, também tenta analisar a cultura camponesa da Europa pré-industrial, numa era marcada pela difusão da imprensa e a Reforma Protestante (bem como a repressão a esta última nos países católicos). O livro também é o estudo da cultura imposta às classes populares e não apenas a apresentação da cultura produzida pelas classes populares.
Chamava-se Domenico Sandella, conhecido por Menocchio. Nascido em 1532, em Montereale, foi casado e pai de sete filhos. Segundo afirmou a um padre era carpinteiro, marceneiro, pedreiro, mas sua principal profissão era moleiro. Se vestia como tal, capa e capuz de lã branca. Foi magistrado da aldeia e administrador da paróquia local. Sabia ler, escrever e somar. Em 28 de setembro de 1583 foi denunciado ao Santo Ofício, sob a acusação de ter pronunciado palavras heréticas. De fato ele debatia sua opinião em praças e tabernas. Para alguns, seu debate se assemelhava às opiniões de Lutero. O clero era hostil a ele, e esse fato era explicado, pois Menocchio não reconhecia na hierarquia eclesiástica, nenhuma autoridade especial. Para ele, Deus estava em tudo e Maria após o nascimento de Jesus, não permaneceu mais virgem. Tinha uma Bíblia em vulgar em sua casa, livro proibido pela Igreja. Se apresentou à convocação do tribunal eclesiástico, mas no dia seguinte foi levado ao cárcere do Santo Ofício de Concórdia. Em 07 de fevereiro de 1584 foi submetido a um primeiro interrogatório.
Durante o inquérito preliminar, diante das estranhas opiniões referidas pelas testemunhas, o vigário-geral perguntara se Menocchio era sã de mente. Esse afirmou que sim, que estava dentro da sua razão. Um dos seus filhos ainda tentou espalhar o boato pela cidade que o pai era louco, mas o vigário deu continuidade ao processo mesmo assim. Se fosse hoje, Menocchio seria sim considerado um lunático religioso, mas em plena Contra-Reforma, as modalidades de exclusão eram outras, a identificação e a repressão da heresia. No caso de Menocchio em especial, havia um apanhado de ideias subversivas, inclusive sua cosmogonia: "que tudo era um caos, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo movimento junto se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos...
Por volta do fim de abril, os priores venezianos convidaram o inquisidor de Aquileia e Concordia, a agir de acordo com os hábitos vigentes nos territórios da República, que impunham, nas causas do Santo Ofício, a presença de um magistrado secular ao lado dos juízes eclesiásticos. O conflitos entre os dois poderes era tradicional. No passado, Menoccho tinha dito estar pronto e desejoso de declarar suas opiniões às autoridades e seculares. Incentivado a falar, Menocchio abandonou qualquer reticências e: denunciou a opressão dos ricos contra os pobres através do uso do latim nos tribunais; achava que na lei vigente o papa, os cardeais, os padres eram grandes e ricos e que esses arruinavam os pobres arrendando terras; recusava todos os sacramentos por serem invenções humanas, mercadorias, instrumentos de exploração e opressão por parte do clero; a hóstia era apenas um pedaço de massa; que a Sagrada Escritura tinha sido dada por Deus, mas, em seguida, foi adaptada pelos homens; que a santidade era um modelo de vida; criticou as relíquias ... implorou a piedade aos inquisidores, mas na verdade o processo estava longe de terminar. Dias depois desejavam ouvi-lo novamente.
O livro também relata sobre Friuli da segunda metade do século XVI: uma sociedade arcaica e ainda dominada pelas grandes famílias da nobreza feudal. Essas famílias estavam em dois partidos, a favor ou contra Veneza, que começou a dominar em 1420. Essa disputa política iniciou um violento conflito de classes, e em várias localidades do Friuli os camponeses faziam reuniões secretas. Após a efêmera revolta camponesa de 1511, acentuou-se a tendência veneziana de apoiar os camponeses do Friuli contra a nobreza feudal. Entre meados do século XVI e meados do XVII, ou por causa das frequentes epidemias ou pela intensificação da imigração, a população total do Friuli diminuiu. Veneza estava decadente e a economia friulana já se encontrava em estado de avançada desagregação.
O movimento anabatista, depois de ter se alastrado por grande parte da Itália foi desmantelado na segunda metade do século XVI pela perseguição religiosa e política. De forma geral negavam as imagens sacras, as cerimônias, os sacramentos, negavam a divindade de Cristo, insistiam na adesão à uma religião prática baseada nas obras, pobreza versus a pompa da Igreja. A princípio poderíamos vincular as ideias de Menocchio aos anabatistas, mas entre outras coisas, ele discordava que a inspiração divina viesse apenas apenas do Evangelho. Para Menocchio, entretanto, a inspiração poderia vir de livros os mais variados: tanto do Fioretto della Bibbia quanto de Decameron.
Parece que Menocchio afirmava manter contatos com grupos luteranos, mas quando o inquisidor perguntou-lhe sobre o seu entendimento pela justificação, ele não compreendeu a pergunta. Após a explicação, Menocchio negou e afirmou "se alguém pecou, é preciso fazer penitência". O mesmo ocorreu com o termo predestinação, que após explicação ele disse não acreditar que Deus predestinava alguém à vida eterna. Justificação e predestinação, os dois temas sobre os quais a discussão religiosa na Itália se acirrava no período da Reforma, que não significavam nada para o moleiro. Mesmo com a profunda separação da Itália entre cidade e campo, o último não ignorava por inteiro as formas de inquietação religiosa. Por trás dessas discussões contemporâneas percebe-se a presença maciça de tradições diversas. A reforma rompendo com a crosta da unidade religiosa, trouxe à tona, de forma indireta o substrato de tais tradições. Assim sendo, não é possível remeter as afirmações de tom radical feitas por Menocchio ao anabatismo e nem a um genérico luteranismo. Talvez elas faziam parte de um novo autônomo de radicalismo camponês que o tumulto da Reforma contribuíra para que emergisse.
A obra contém muitas citações dos livros aos quais Menocchio teve contato e o contexto histórico que os autores estavam inseridos. De forma geral, percebe-se a cultura popular misturada com o conhecimento cristão, e a Inquisição que usou do tribunal para aniquilar qualquer coisa que não coincidisse com os ensinamentos da Igreja. Indico.

site: http://sallybarroso.blogspot.com.br/2015/09/o-queijo-e-os-vermes.html
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Jaqueline.Schmitt 05/07/2015

História maravilhosa sobre a cultura popular na Idade Média.
Priscilla Akao 15/01/2016minha estante
Achei maravilhoso também como a leitura pode ampliar os horizontes e fazer uma pessoa questionar o mundo. Jamais pensei que isso pudesse ter acontecido numa aldeia do interior da Itália na Idade Média.




Carmem 29/12/2014

Inquietação e inquisição
Creio que livros de não ficção, para serem mais palatáveis, necessitam de uma contextualização histórica ou sobre o autor, ou ambos. Nesse caso, falarei um pouco sobre o autor.

Carlo Ginzburg (1939-) é um historiador italiano, precursor da micro-história. O que é isso? É a história de pessoas comuns, sem grandes feitos, gente que normalmente passa incólume pela vida. Ele é especialista em mitos, religião, crenças e outros que tais. Dentre seus livros mais famosos são Mitos, emblemas e sinais, Olhos de madeira, Os queijos e os vermes e Relações de força. No caso do livro tratado neste post, o autor teve interesse em analisar de perto um processo de inquisição que encontrou num arquivo em que fazia pesquisa. Acho que já é o suficiente para começarmos. Vamos ao...

Os queijos e os vermes

O enredo

Durante o século XVI, um moleiro, Menocchio, foi acusado pela Inquisição italiano por heresia. As acusações giram em torno de suas afirmações sobre a Virgem Maria, Cristo e a concepção do universo. A história gira em torno do processo de inquisição de Menocchio.

A narrativa

Acho que a forma narrativa foi do que mais gostei neste livro. É ela que torna o livro interessante e instigante, pois além de extrair trechos dos diálogos do processo, Ginzburg faz vários questionamentos visando entender melhor o contexto histórico do processo. Assim, ele interrompe as transcrições do processo para responder as perguntas que faz ao texto ao mesmo tempo em que apresenta a probabilidade histórica de ser verdade ou não o que Menocchio afirma ou nega.

São buscadas as fontes de influência de Menocchio, pois, em pleno século XVI afirmar que era impossível a Virgem Maria ser virgem e que Jesus era um homem como outro qualquer não era comum na época.

Minhas impressões e expressões

Não escondo de ninguém que sou louca por história e por literatura, logo, a possibilidade de entender melhor alguns contextos realmente me fascina. Principalmente se for uma situação como essa, em que a história de uma pessoa comum para a época e relatada com tanto interesse. É a micro-história de Ginzburg. Não é raro encontrarmos textos sobre a inquisição, mas sobre uma micro-história na época da inquisição é, sim.

Também é muito interessante a cosmogonia de Menocchio, uma pessoa que em pleno século XVI sabia ler e escrever, o que o possibilitou duvidar das Escrituras e desenvolver concepções próprias. Interessantíssimo!

Ah... Se alguém ficou curioso sobre o título (eu tinha ficado!), aí vai a origem dele: na cosmogonia de Menocchio os homens são vermes que saem do queijo.

Se alguém ficou curioso sobre as penas/castigos/punições da inquisição, leia o fabuloso conto de Edgar Allan Poe, O poço e o pêndulo.



site: www.oquevidomundo.com
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Edy Marques 29/11/2013

Excelente livro, delícia de leitura, agora entendo porque " O queijo e os Vermes" é um clássico da Microhistória.Como disse anteriormente, impossível não se emocionar com o Menocchio.

Um camponês que lia bastante para sua época, e como ele lia? Como elaborava suas ideias, a partir de suas leituras, e informava que era apenas coisas de sua cabeça, não tinha aprendido com ninguém, era algo sensacional.
A vontade de falar, pregar, explicar suas ideias para o seu próximo em primeiro momento em Montereale, onde muitos não ligavam pra o que ele falava, até o ponto dele afirmar: " Se me fosse permitida a graça de falar diante do papa [...] se depois me matassem, não me incomodaria".
Menocchio estava disposto a morrer pelo que acreditava, queria mesmo era expor sua visão de mundo novo, ideias que só foram permitidas formular graças a invenção da impressa, no qual recebeu emprestados vários livros, no qual leio de uma forma extraordinária que decorava boa parte dos trechos e a liberdade de falar diante do Papa concedida pela reforma protestante.

Tal leitura, levou-me a mergulhar é um processo inquisitório, e perceber através da visão de mundo de Menocchio que é preciso respeitar as diversas crenças e religiões presente nesse mundo.
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Volnei 17/02/2013

O queijo e os vermes
O autor conta nesta obra apenas um dos muitos julgamentos realizados pela Inquisição promovida pela igreja na idade media.
Um homem, um simples moleiro, resolve desafiar os credos que a igreja defende.
O moleiro mostra por meio de argumentos que muitos conceitos como o caso do casamento são feitos só como uma forma de controle e que este não vem de Deus como diz a igreja.
Esta é uma obra que vale a pena ser lida pra se ter uma ideia de como os conceitos e opiniões são manipuláveis e o quanto a igreja tentou fazer a cabeça das pessoas na idade média de forma a ter um maior controle sobre aquilo que o homem pensava.

site: http://toninhofotografopedagogo.blogspot.com.br/
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Joachin 01/12/2012

Trata-se de uma importante obra porque obrigou os próprios historiadores a repensarem a escrita da história. Até então, no Brasil, a maioria das publicações, na década de 1980, de história eram repletas de jargões economicistas. Quando esse livro apareceu no mercado, o próprio título possuía uma dimensão literária, poética, pouco comum em estudos tidos como sérios. É importante atentar para esse detalhe. Já a trajetória do moleiro Menocchio; a sua defesa apaixonada pelas ideias que regiam sua cosmovisão da formação do universo e da vida diante da Inquisição e os desfechos dessa história são sempre fascinantes. Uma obra para ser lida e re-lida.
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William 19/07/2012

Análise do Livro O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg (www.paginadowll.com)
O Autor.
Carlo Ginzburg nasceu em Turim na Itália em 1939, filho do professor e tradutor Leone Ginzburg e da romancista Natalia Ginzburg. Iniciou sua formação na Escola Normal Superior de Pisa, concluindo os estudos no Instituto Warburg em Londres...
Ginzburg formou-se em História e passou a lecionar na Universidade de Bolonha. Mas logo se mudou para os EUA onde passou a lecionar nas Universidades de Harvard, Yale, Princeton e da Califórnia, ocupando por duas décadas a cadeira de Renascimento Italiano. Em 2006 retornou a Itália e agora leciona na mesma Escola Normal Superior de Pise onde iniciou sua formação.
Carlo Ginzburg está entre os intelectuais mais notáveis da Itália e seus livros já foram traduzidos para mais de 15 línguas. Estando entre os pioneiros e principal nome da Micro-história.
Micro-história.
Segundo Giovanni Levi a Micro-história surgiu durante os anos 1970, e deriva da crise do marxismo como metodologia e interpretação. Essa falência dos sistemas e paradigmas existentes requeria não tanto a construção de uma nova teoria social geral, mas uma completa revisão dos instrumentos de pesquisas atuais e a micro-história foi apenas mais uma das diversas respostas que surgiram a essa crise.
A micro-história como uma prática é essencialmente baseada na redução da escala da observação em uma análise microscópica e em um estudo intensivo do material documental. Entretanto, não basta somente chamar atenção para causas e efeitos em escalas diferentes. Para a micro-história, a redução da escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado. O que é alvo de criticas de diversos historiadores.
O principio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados.
Ainda segundo Levi, apesar das diversas interpretações errôneas sobre à micro-história, ela deve ser entendida como um “zoom” em uma fotografia. O pesquisador observa um pequeno espaço bastante ampliado, mas ao mesmo tempo, tendo em conta o restante da paisagem, apesar de não estar ampliada.

A obra: O Queijo e os Vermes.
Esta pesquisa surgiu por acaso, enquanto Carlo Ginzburg pesquisava sobre uma seita italiana de curandeiros e bruxos, o historiador se deparou com um julgamento excepcionalmente detalhado. Tratava-se do depoimento de Domenico Scandella, dito Menocchio, um moleiro[1] do norte da Itália, que no século XVI ousara afirmar que o mundo tinha origem na putrefação. Segundo ele: “Tudo era um casos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo que o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos”. Graças ao fascínio dos inquisidores pelas crenças desse moleiro, Ginzburg encontrou farta documentação a partir da qual pôde reconstruir a trajetória de Menocchio num texto claro e atraente, tanto para especialistas quanto para leigos, e desembocar em uma hipótese geral sobre a cultura popular da Europa pré-industrial.
Ginzburg busca neste livro, não apenas reconstruir a vida e o julgamento de Menocchio, mas principalmente entender como essas idéias se manifestaram em sua mente, como surgiram, quais foram seus influenciadores, quais livros leu, como leu, como absorveu o conhecimento contido nesses livros, com quem conversou e assim por diante.
Resumo:
Domenico Scandella, vulgo Menocchio, nasceu em 1532 em Montereale na Itália. Casado e pai de 7 filhos, sustenta a família através de sua profissão de moleiro. Outro dado importante sobre Menocchio é que este sabia ler, escrever e somar.
O moleiro era bastante conhecido na cidade e costuma já há muito tempo blasfemar durante conversas informais pela cidade. Todos escutavam aquilo e não levavam em consideração pelo fato de ele ser considerado uma “boa pessoa”. Entretanto, após algumas divergências com o pároco local, Menocchio começou a se confessar com na cidade vizinha, sendo então denunciado no dia 28 de setembro de 1583 ao tribunal do Santo Oficio por suas diversas heresias.
Em suas conversas Menocchio sempre dizia ter vontade de falar a um rei, papa ou príncipe tudo o que achava que estava errado na religião e esta foi a sua chance. Criticou a igreja, a missa em latim, a santíssima trindade, os evangelhos, o poder da igreja, e apresentou aos inquisidores sua teoria de criação do mundo.
Após meses de interrogatório, Menocchio foi condenado à prisão perpétua e a usar pelo resto de sua vida uma túnica com uma cruz no peito. Ficou então encarcerado por três anos, até que seu filho conseguiu por meios diversos uma espécie de segunda chance para seu pai. Onde este poderia sair da prisão, mas jamais tirar a túnica, sair da cidade ou voltar a blasfemar.
E foi tudo o que Menocchio não fez saiu da cidade várias vezes para trabalhar, tirava a túnica, pois com esta não conseguia serviço, e aos poucos voltou a dizer heresias. Logo foi novamente denunciado,torturado, julgado, condenado e desta vez executado.
Análise.
Este livro narra então à história de Menocchio e busca nela suas leituras, discussões, pensamentos e sentimentos, além de sua cultura e o contexto social em que ela se moldou. Como é possível que um moleiro do interior da Itália do século XVI tenha desenvolvido uma teoria tão complexa e crítica contra os mais diversos dogmas da igreja católica.
Menocchio viveu em uma época conturbada com a invenção da imprensa que possibilitou a rápida impressão e circulação de livros em língua vulgar, a Reforma Protestante de Lutero e a Contrarreforma da Igreja Católica da qual foi vitima.
Para Ginzburg, Menocchio já possuía uma cultura oral camponesa que moldara sua visão de mundo e quando ele entrou em contato com a cultura escrita houve um choque que o induziu a formular opiniões singulares. Um exemplo disso são os mais diversos exemplos de que ele se utiliza para explicar suas teses aos inquisidores, repletos de analogias ao seu trabalho.
Apesar de ler os livros, parece que Menocchio se valia apenas do que lhe dizia respeito, ou seja, suas leituras eram deformadas, mas de forma inconsciente. O autor acredita que o que ocorria era que o moleiro se servia de trechos de diversos livros para validar suas opiniões já formadas pela cultura oral.
Isso mostra como sua reflexão é bem pessoal, apesar de receber estímulos dos livros e das conversas com viajantes. Todas as diversas idéias que ele recebe são processadas em seu cérebro formando assim sua visão única de mundo.
Fechando assim com a idéia de que Menocchio, como diz Carlo Ginzburg logo no inicio do livro é um personagem singular e não representativo, recusando a delimitá-lo respeitando assim sua originalidade, que tanto causou espanto entre os inquisidores.
Esta é a história de Menocchio, um homem simples de uma cidade pequena do interior da Itália, que impressionado pelo que sabia e pelo que lera, teve coragem de blasfemar contra a igreja católica durante o peírodo Contrarreforma. E que graças a Ginzburg e a, se assim podemos dizer, igreja Católica (que guardou toda a documentação deste período) conseguimos conhecê-lo.

Sites consultados:
http://www.infoescola.com/biografias/carlo-ginzburg/ acessado em 04/01/2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/Microhist%C3%B3ria acessado em 04/01/2012

Bibliografia:
BURKE, Peter (org.): A Escrita da História. São Paulo: Editora UNESP, 1992, 360pp.
GINZBURG, Carlo: O Queijo e os Vermes; o cotidiano de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo, Companhia das Letras, 2006. 255pp.
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Silvia 15/07/2012

Acho que Carlo Ginzburg deve ter dado pulos de alegria quando encontrou os documentos referentes ao caso do moleiro cheio de idéias próprias a respeito de deus,dos anjos e da criação. O Queijo e os vermes e um livro gostoso de ler, um caso singular que apresenta a cultura popular em confronto com a cultura erudita.
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Coruja 04/05/2011

E começamos mais um mês e mais um tema do Desafio Literário 2011. Os livros que escolhi dessa vez passam todos pelo mesmo tema e, claro, não se trata de uma coincidência: investigações históricas.

Iniciamos então com o pé direito, com o absolutamente delicioso O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg. Esse livro está na minha lista de leituras desde a época do colégio, continuou lá durante a faculdade e esperou ainda mais um pouco até que um belo dia chega um pacote da Régis com ele no meio. Ia começá-lo no final do ano passado, mas aí apareceu a lista de temas do DL e me segurei até agora. Quando finalmente comecei, não consegui mais largá-lo, emendei com a leitura do Os Andarilhos do Bem do mesmo autor e estou neste exato instante pesquisando o preço de outros livros dele.

O Queijo e os Vermes é um livro curioso, sobre um personagem mais curioso ainda. O moleiro Menocchio é um indivíduo do povo que sabe ler, escrever e interpretar - o que era algo quase impensável numa região rural da Itália em plena Idade Média.

Não estou sendo preconceituosa ou elitista. Tenho plena consciência de que a Idade Média não foi a Era de Trevas e Ignorância que nos foi impingida no colégio isso foi intriga da oposição, digo, dos renascentistas. Mas viver nesse tempo também não era nenhum passeio no parque, e se educação não era uma coisa comum nem mesmo entre a elite, que dirá de um moleiro numa aldeia minúscula de uma região inteiramente agrícola.

É difícil, assim, de entender como Menocchio teve acesso aos livros e idéias que o levaram a criar uma cosmogonia própria, que ecoa panteísmo, mitologia hindu, princípios filosóficos, tolerância religiosa e morais e sociais totalmente deslocados numa sociedade feudal.

É pela capacidade de usar um arcabouço principiológico muito além de sua posição social que Menocchio chamou a atenção do Tribunal do Santo Ofício em 1583 e, quatro séculos depois, o porquê desse processo ter chamado a atenção de Ginzburg.

Tenho uma amiga que é estudante de História. Um belo dia, estávamos conversando não sei bem sobre o quê quando surgiu o assunto desse livro. Ela observou que não entendia porque O Queijo e os Vermes fazia tanto sucesso fora do círculo de iniciados estudantes e historiadores de uma forma geral. Afinal, trata-se de uma investigação histórica que analisa dois processos jurídicos realizados pela Inquisição, não sobre sabás demoníacos, mas simplesmente sobre o caráter herético ou não de uma série de afirmações feitas por um moleiro.

À época, não o tinha lido ainda, de forma que nada pude argumentar. Agora, contudo, tenho uma boa razão para esse gosto que de certa forma me foi inspirado pela própria investigação feita no livro -: a história de Menocchio se conforma a muitas leituras, da mesma forma que Menocchio conformava tudo o que lia à sua visão, ultrapassando inclusive todos os limites de interpretação destes textos.

Aliás, é uma referência cruzada interessante relacionar esse livro ao Superinterpretação e Interpretação de Eco, porque essa questão dos limites interpretativos e até onde Menocchio vai para fazer com que os livros a que teve acesso a Bíblia em vulgata, ou seja, no vernáculo local e não em latim; o Decamerão numa edição não censurada, as viagens de sir John Mandeville, uma coletânea de evangelhos apócrifos, tratados teológico-filosóficos e até, acredita-se, um Alcorão se adaptem a um conjunto de crenças pré-cristãs que permeia ainda a cultura e a sociedade da qual faz parte, junto às suas próprias deduções.

A bem da verdade, houve momentos em que quase rolei de rir com a obstinação de Menocchio, que simplesmente descarta aquilo que não interessa à sua doutrina, não importa quão óbvio ou quão necessário aquele detalhe seja para a completude das teorias apresentadas nesses livros. É quase como se ele brincasse de cortar palavras a esmo de uma página escrita, de forma a montar frases que sejam o exato oposto do sentido geral da folha de onde foram tiradas.

No meio dessa confusão hermenêutica, contudo, a grande verdade é que não importa tanto assim como Menocchio chegou às suas conclusões que é o objetivo confesso do livro e o interesse dos historiadores. O que importa é que a despeito de seu isolamento professar idéias diferentes daquelas da maioria, especialmente numa época em que você pode virar churrasquinho se o fizer, não é exatamente a melhor maneira de se tornar popular em sua vila e do risco que corria frente às acusações pelas quais foi investigado, Menocchio teve coragem de expor suas idéias.

Mais que isso: ele ansiava quase desesperadamente por uma oportunidade como essa, em que poderia falar diante de pessoas que pudessem ouvi-lo e compreendê-lo.

Lemos amplamente O Queijo e os Vermes não para compreender e interpretar uma determinada época, mas porque seu protagonista tem traços de uma verdadeiro herói. Porque ele faz algo impensável, difícil mesmo nos dias de hoje: eleva-se acima de seu status e daquilo que era esperado dele para chocar e quebrar dogmas. Porque ele questiona. E porque é um dos homens mais corajosos ou loucos com que você já cruzou.

Ginzburg, a despeito de estar escrevendo um estudo profundo para um público específico, jamais cai na armadilha dos tecnicismos. Pelo contrário, ele acha que essa é uma história que vale à pena ser contada, e deixa óbvio ao longo de todo o livro sua surpresa, seu prazer, sua curiosidade em relação à figura do nosso bom moleiro.

Ele compartilha conosco sua admiração.

Eis porque O Queijo e os Vermes não é um livro exclusivamente para iniciados, porque vale à pena ler a história de Menocchio frente aos seus consternados inquisidores.
Victor 06/03/2015minha estante
A resenha ficou ótima! Realmente a história de Menocchio é muito gostosa de se ler. Só um detalhe: ele não viveu na Idade Média, e sim na atualmente denominada Idade Moderna. O século XVI foi o século das grandes navegações, e dos grandes descobrimentos. A Inquisição ocorreu na Idade Moderna, e não na Idade Média. Essa confusão, no entanto, é comum. Fora isso, a resenha está ótima, parabéns!


Alipio 12/10/2020minha estante
o livro pode sim mostrar que pelo menos dois fatores determinaram uma nova dinâmica no campo ao longo do período do Renascimento:


Alipio 12/10/2020minha estante
precisa " ver" onde sua amiga esta aprendendo história. Se não compreende o porque da importancia desse livro na historiografia, algo está errado


Coruja 13/10/2020minha estante
Alípio, minha amiga não se surpreendia com a importância desse livro para historiografia. A surpresa dela era com o sucesso que esse livro tem fora dos círculos daqueles que estudam história, com os leigos. Gente que normalmente não tem um interesse óbvio em estudar História, mas que fica fascinado com a leitura desse livro.




Nameless 30/04/2011

O conhecimento cria...
Grande obra que prioriza mostrar o choque entre cultura oral ou popular contra os ditos da Santa Igreja. Forma de mostrar como a busca por conhecimento nos torna questionadores e de alguma forma cria repulsa por parte das classes dominantes, que tentam manter a classe mais probre em seu devido lugar garantindo seus privilégios.
Vale ressaltar que isso é visto até hoje na religião, política, economia, etc.
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Wenceslau_Teixeira 21/02/2011

Bruxas e a vida na idade média
O livro do Ginzburg recria numa ficção mas baseado em pesquisa histórica e fatos verídicos a realidade nos tempos da inquisição na idade média. Uma historia dos tribunais, bruxas e dos rituais de colheita.
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*-* 21/10/2010

Menocchio, o moleiro
Durante o século XVI no Friuli (Itália), viveu um curioso personagem: Domenico scandella, masi conhecido como Mennocchio, o moleiro mais blasfemador que poderia existir (ao menos de sua pequena localidade). Menocchio foi microbiografado por Carlo Ginzburg, embasado em documentos do Santo Ofício. Ginzburg fez diversas análises em torno do moleiro friulano, mostrando que um personagem aparentemente isolado do mundo, recebia diversas influencias do mesmo (sobretudo no que tange a invenção da imprensa e a Reforma). Mas o que fez de Menocchio um sujeito excentrico? Ele adorava discutir sobre coisas de fé, com os padres, com os vizinhos, enfim, atacava os sacramentos da Igreja, criou até mesmo um cosmologia, da qual Deus e os anjos, assim, como os homens teriam uma origem comum, assim como os vermes que nascem do queijo... O mais interessante desta obra é a maneira como Ginzburg explana um termo que ele mesmo cunhou: a circularidade cultural. A mesma indica que tanto uma cultura considerada subalterna,quanto uma cultura de elite, podem se entrecruzar, trocar informações, refiltrarssem^^; um choque entra a cultura oral (camponesa) com a cultura erudita (escrita); pois Menocchio era um raro moleiro letrado, e uma vez que teve acesso a leitura, passou ler e ruminar suas leituras, ao seu modo, reinterpretava, selecionava tudo!
*-*
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