Acho que não me encanto com um livro assim desde... Bem , não faz tanto tempo assim, mas desde o Auto Da Barca Do Inferno. A literatura brasileira (ou, em outras palavras, os livros antigos que a gente estuda em Literatura) não me atrai muito, mas alguns realmente me surpreendem.
Então, vamos começar logo essa resenha com bastante classe...
Era no tempo do rei. Uma época totalmente diferente, com costumes diferentes, gostos diferentes, e uma cultura muito mais voltada à vida diária da burguesia portuguesa... Mas parece que aquela bendita pessoinha que decide se uma pessoa vai ter sorte na vida ou não é a mesma. De modo que, no meio de tudo isso, dos costumes antigos, da sociedade parcialmente nobre que então vivia no Brasil, nasce Leonardo – só que, sabe aquela pessoa que eu falei antes? Aquela que decide a sorte das pessoas? Parece que ela não está muito do lado dele, não. Filho de um meirinho (que hoje seria o tal do oficial de justiça) português com fortes inclinações a romances nada prudentes, e uma saloia (aldeã das imediações de Lisboa) muito das safadas, nada mais podia dar errado na vida dele. É claro que, incrivelmente, podia sim! O moleque era uma peste! Sempre a fazer diabruras pela vizinhança, atormentando de tal modo a vida das pessoas dali que ninguém lhe gostava.
Logo no começo do livro, já vemos a coisa ficar feia. A mãe do garoto, das mais levianas, entra de caso com tantos quanto se pode contar, e, numa última “escapada”, é pega em flagrante pelo marido. Tiro e queda: ele fica verde de cólera e avança para cima dela. O padrinho tenta intervir, mas o caso é que ele quase apanha, e o homem, Leonardo-Pataca, sai de casa soltando fogo pelas ventas. Quando ele volta, na maior pompa, se fazendo de difícil, descobre o inesperado: a mulher fugiu com o capitão do navio que os trouxe ao Brasil, abandonando tudo. Deu no que deu: decidiu ele que também abandonaria tudo, e o filho ficou aos cuidados do padrinho.
A partir daí, começa a narração das trapalhadas de Leonardo-Pataca e seus amores descabidos, das peripécias do pequeno Leonardo e seus próprios amores quando jovem.
O livro é incrível! O início é bem difícil, tenho que admitir, e eu tive que começar a ler tudo de novo porque, além das palavras difíceis que não ajudavam em nada, não estava prestando lá muita atenção. Em Literatura a professora costuma falar que ele escreveu tudo numa linguagem fácil e leve, só que, vamos lá, naquele tempo “fácil e leve” não tinha a mesma conotação que tem hoje. Entretanto, depois dos primeiros capítulos, a leitura se torna extremamente agradável e divertida, com direito a gargalhadas bizarras (no meu caso). Esse foi o único romance de Manoel Antônio de Almeida, mas ele o fez com graça. Apesar de só ter lido o livro porque a escola nos obriga a ler um livro 'específico' por bimestre, não me arrependi nem um pouco, e recomendo totalmente. Literatura brasileira ganhou mais um ponto comigo.