Opala 19/12/2022
Um dedo de prosa sobre O Livro do Chá de Kakuzo Okakura
Na língua japonesa, na média antiguidade, temos duas palavras que significam humor, okashi e oko.
Okashi é utilizado em dois sentidos: algo que embora alegre, de percepção perspicaz e engenhosa, encontra-se muito próximo à elegância, e em outra, para indicar um sorriso ou chiste.
Oko, mais falados entre os homens comuns, têm, por sua vez, sentido tolo ou engraçado.
A noção de sutileza que é imposta - e de obrigação - é impossível de ignorar.
No português brasileiro, quando queremos dizer que algo foi engraçado, dizemos, simplesmente e certamente, "Foi engraçado!". Não há a percepção de que aquilo foi engraçado de forma requintada ou não, simplesmente o fez rir.
Com isso em mente, me diga, o porquê, então, de que um de corrimento sobre chanoyu - cerimônia do chá - não seria de tamanha sutileza quanto a conversação ?
Não pense errado, obviamente, chanoyu ou chado - ou para os mais íntimos do livro que vos falo, "chaísmo" - pode parecer a nós um intenso floreio de algo tão simples como uma cerimônia do chá.
A qual já brincamos quando crianças, fazendo nossos pais ou mães - ou ambos - pedirem licença ao entrarem na área do chá, e ainda, se quiser causar mais estranheza aos observadores, dizer a eles que devem reverenciar a princesa, normalmente nós - ou um bicho de pelúcia.
Então ao perceber que tal brincadeira é, na verdade, um mantra regrado e disciplinado sobre sutileza e vida, terá quatro reações comuns: interesse, descaso, dar de ombros ou epifania.
Okakura faz um paralelo da cerimônia do chá com o Budismo e o Zen - os três andando de mãos dadas entre as poucas páginas do livro.
Aos leitores ocidentais, fica a critério da recusa ou do adoecimento. Seria estranho de todo modo se todos se sentissem atraídos por um título como O Livro do Chá, afinal, pelo menos alguma vez na vida já queimou ou irá queimar a língua com o líquido quente.
Seja qual for a sua ideia, é impossível dizer que adorará este livro, ou se arrependerá de ter pago por este pedaço de papel - talvez se interessar a ti a cultura e a história japonesa, não lhe seja de tão desagrado.
Harmonia, respeito, pureza e tranquilidade - sendo muito jovem para afirmar - é o segredo da vida e da morte. Os dois se fazendo juntos, 'só quem viveu uma bela vida, pode morrer belamente'.