Capão Pecado

Capão Pecado Ferréz




Resenhas - Capão Pecado


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Ví Koga 14/08/2018

Todos nascem marcados
O livro conta diversas histórias de moradores do "Capão Redondo", que são unidas na trajetória individual do personagem Rael. Trata-se de histórias marcadas pela ausência do Estado, violência e muito sofrimento devido à correria que é necessária para se virar com o mínimo que consegue e que se tem. A princípio fique com receio da história, pois sabemos que a vida na periferia é dura e que romper essa condição quase que "determinista" do lugar é um ato de luta e resistência, mas achei que o livro cumpre papéis importantes socialmente e dentro do sistema literário.

1. Os personagens são o que são, ou seja são fiéis as condições sociais daquele lugar, e manter a fidelidade em tempos que é necessário manter o seu espaço no mercado editorial é ter propósito;

2. Dá protagonismo a vozes que são esquecidas e apagadas socialmente;

3. Promove uma renovação no uso da linguagem, pois demostra como a linguagem é dinâmica em seu uso, isso não quer dizer que achei "bom e nem correto", mas permite acalorar o debate da linguagem e seu uso;

4. Não é possível salvar todos, mas assim como ele, Ferréz, sempre há um ou dois, de muitos, que consegue, com muita esforço, sair dessa cerca que limita sua trajetória de vida, então, ainda é necessário muita luta;

5. Não é planetária!
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Andrea 14/09/2014

Resenha Capão Pecado - Ferréz
Um grito vindo de um canto esquecido da terceira maior cidade do planeta. Assim é Capão Pecado, primeiro romance ficcional de Ferréz, lançado em 2000 pela Labortexto Editorial e reeditado pela Editora Objetiva (2005, 149p). Esta versão da obra não é ilustrada por fotos e apresenta capa remodelada, nova introdução e participações inéditas.



De forma dura e crua, o narrador passeia pela região do Capão Redondo, na periferia de São Paulo - onde o autor nasceu, criou-se e vive até hoje - descrevendo vivências de seres humanos tentando sobreviver em meio a um contexto de violência e exclusão social. O jovem Rael, personagem central, é o fio condutor da história. Em torno dele, os enredos desenrolam-se, os demais personagens são apresentados e o bairro - verdadeiro protagonista da obra - revela-se ao leitor.

Rael dá voz a tantos outros jovens que seguem percursos semelhantes: pai alcoólatra, poucos recursos, quase nenhuma oportunidade, final trágico. Muda-se para o Capão ainda criança. Desde cedo, conhece as agruras de uma vida sem recursos. Trabalha em uma padaria, posteriormente em uma metalúrgica. À noite, costuma ler. Apaixona-se pela namorada de um amigo, casa, tem um filho. Enquanto sua vida caminha, Rael assiste de perto a queda de muitos colegas e vizinhos. Apesar da vontade de trilhar um percurso diferente, ele não consegue escapar. A violência é a resposta para quase tudo no Capão Redondo. Rael não foge à regra.

As dificuldades características dos grupos sociais de baixa renda são explicitadas de forma seca, sem conotações ou meias-palavras. A violência está presente em quase todas as páginas do livro. Sangue, revolta e desesperança preenchem os capítulos que se sucedem para construir, através das palavras, um retrato do Capão Redondo, retrato este que pode também ilustrar a realidade de quase todas as favelas e comunidades periféricas das grandes cidades brasileiras.

Ferréz expõe, de dentro para fora, um mundo em que o convívio com as drogas (do uso ao tráfico), o abuso de álcool, o desemprego, o sexo bruto e a violência constroem cada parede, cada calçada e cada degrau a ser galgado na luta pela sobrevivência diária. Sendo ele próprio um sobrevivente do Capão Redondo, enfrentou cada um desses obstáculos. Assim, incumbe-se da missão de, sem ponderações, trazer à tona esse universo que poucos buscam olhar.

Na ânsia por clamar por este olhar, contudo, o autor faz algumas escolhas contestáveis. Ao optar pela narração em terceira pessoa, de imediato, perde em subjetividade e emoção. Faltam diálogos internos e questionamentos aprofundados. Além disso, a narração em primeira pessoa poderia aproximar e criar empatia maior em um leitor alheio à realidade das periferias. Em alguns momentos, a sensação é a de que o livro busca validar atitudes e saídas que, em uma situação de miséria e desesperança, podem ser as mais óbvias, mas que, definitivamente, não são as únicas.

A construção do texto também foge do convencional, aproximando-se muito de uma transcrição da linguagem oral. O encadeamento das ideias não segue o padrão usual (técnicas de coesão/coerência), e existem algumas mudanças inadequadas de parágrafo - alteração de parágrafo sem novo assunto. A divisão sem lógica dos capítulos - em alguns momentos, o autor introduz o próximo assunto ao final de um capítulo; em outros pontos, pula para outra situação ou personagem sem utilizar qualquer gancho - por vezes atrapalha a compreensão do enredo. A variante lingüística utilizada - a gíria da periferia paulistana - nem sempre é respeitada, o que pode levar à sensação de estranheza e desconforto. Tais aspectos formais tendem a dificultar a leitura ou afastar leitores acostumados a textos mais coesos.

Em contraponto, essas opções da chamada Literatura Marginal atraem o jovem em situação de risco social e pouco habituado à leitura, que, ao identificar-se com a obra tem a oportunidade de construir um vínculo com a literatura e de visualizar-se como ator social, e não como mera vítima do sistema sócio-econômico-cultural. A antropóloga Érica Peçanha do Nascimento, pesquisadora da produção cultural da periferia define: "Interessada nos leitores de diferentes perfis, a literatura marginal-periférica sempre teve as populações marginalizadas como público-alvo definido". Este, talvez, seja o maior mérito da obra. Faltam oportunidades nas periferias. Faltam personagens como Rael nos livros, filmes, novelas. Ao trazer o excluído para o papel de protagonista, ao levar a realidade negada pelos meios de entretenimento ao primeiro plano de sua história, Ferréz abre portas e expande horizontes àqueles que pouco são lembrados.

O próprio autor é exemplo das possibilidades abertas pelo mergulho nas artes. Ferréz - ou Reginaldo Ferreira da Silva, seu nome real - já publicou seis obras, sendo dois romances (Capão Pecado, 2000 e Manual Prático do Ódio, 2003), um livro de poemas (Fortaleza da Desilusão, 1997), um de contos (Ninguém é Inocente em São Paulo, 2006), um livro infantil (Amanhecer Esmeralda, 2005) e uma história em quadrinhos (Inimigos não Levam Flores, 2006). É, ainda, colaborador da revista Caros Amigos desde 2000 e conselheiro editorial do jornal Le Mond Diplomatic Brasil.

A análise de textos do autor, posteriores à Capão Pecado, leva à percepção de que Ferréz lapidou seu estilo, enxugando excessos e fazendo melhor uso das entrelinhas para sua militância. Recebeu, em 2002, o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) pelo Melhor Projeto de Literatura para a revista Literatura Marginal; em 2005, o Prêmio Hútuz pelo livro Manual Prático do Ódio e o Prêmio Cooperifa pelo conjunto da obra e pelo projeto Literatura Marginal e em 2006 o Prêmio Zumbi dos Palmares. Isso demonstra que a ascensão e a visibilidade adquiridas com o primeiro romance, abriram portas e possibilitaram a Ferréz transpor as barreiras da periferia para desenvolver e viver de sua Literatura.

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Ana 26/09/2020

Vale a pena ler. Me emocionei em várias partes, linguagem informal que facilita a leitura dos jovens.
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mateuspy 12/01/2021

Capão Pecado é paulada...
Dá pra sentir a ânsia do cara em registrar aquele mundo. Confesso que, apesar de estar gostando da leitura desde o começo, foi na segunda metade que senti um "pulso firme" do Ferréz. Como uma segurança no como ele queria tratar a história dali pra frente.

As tramas são densas, mas se desenrolam de formas simples e fluidos, com um ar de inevitabilidade em muitas delas, quebrando a "narrativa principal" de Rael para contar crônicas das várias personagens que orbitam esse mundo.

Algumas das situações e crônicas de personagens ficarão comigo.

"Escritor marginal mata escritor imortal. Neste caso, foi em legítima defesa", escreve Marcelino Freire em homenagem a Ferréz.

Espero passar esse livro para meus alunos um dia.
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GH 21/11/2014

Em casa...

Eis que finalmente faço minha primeira resenha pro site e nada melhor que começar ''em casa''.
Há tempos tenho em mente de ler a chamada ''literatura marginal'', já que ouço Rap há pelo menos 4 anos e cultivo uma grande admiração por toda cultura Hip Hop.

Férrez me surpreendeu positivamente, pois eu gosto de livros um pouco mais longos, não que quantidade seja qualidade, é que normalmente com livros acima de 350 ou 400 páginas, mais ou menos, o autor consegue desenvolver melhor psicologicamente todos seus personagens, fora que, dependendo de sua criatividade, da pra criar vários ''semi-clímax'', tornando uma leitura envolvente e mais instigante. Mas ok, esse não é o caso, o livro é bem curto, comecei ontem de madrugada e terminei hoje. Muito feliz, por sinal. Apesar de não vir de periferia, me senti totalmente em casa e no clima do livro. O livro é um tiro rápido; é cru, é insensível, é, como costumam dizer, um ''tapa na cara'', uma crítica pesada à todo sistema, que cria seus monstros em seus labirintos cheios de armadilha e os veem, em sua grande maioria, se tornarem o que eles querem: assassinos, assaltantes, drogados... O que e mais fácil: ''desperdiçar'' dinheiro e, no mínimo, 10 ou 20 anos em educação, em escolas, em equipamentos escolares, ou ter uma solução rápida, que é exterminar o quanto antes os menos favorecidos? A segunda opção é mais prática, é mais comum, já é de costume, mudança causa medo, não da lucro, ter pessoas críticas não da lucro e nem é bom futuramente, então deixa tudo como está, é melhor, é mais fácil... Inércia, manos, inércia.
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Bu 31/01/2021

Visceral...
Mesmo não conhecendo a região o autor nós joga elementos mesclados na história que nos faz se encontra dentro dela, mesmo algumas vezes dando vários detalhes de ruas e tudo mais.

Um gênio dos diálogos, sacadas rápidas, envolventes e mostrando a realidade nua e crua, e como é crua viu, bem explícito em todas ações correntes na passagens, vocabulário pesado, é denso o bastante pra você sentir mau estar quando é necessário, se sentir feliz, se é que tem como ter esse sentimento vendo tudo que ocorre, é um tapa na cara de muitos neginhos sim, toca na ferida sim, incomoda pra caraí e comovente no mesmo tom.

Altamente indicado, mas com ressalvas para quem é sensível, tem vários gatilhos. Essa edição está muito boa.
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DTK 01/02/2021

Livro excelente no seu propósito de literatura marginal, muitoo bom.
No entanto, por vezes a crueza com que assuntos tão pesados são abordados fez com que eu ficasse me sentindo mal, portanto fica a dica de evitar em caso de pessoas em momentos ruins ou jovens demais
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Yasmin.Cupertino 10/02/2021

Sem dúvidas vai entrar nas melhores leituras do ano mesmo que ainda seja só o começo de fevereiro. A história se passa em Capão Redondo, periferia de São Paulo, e apesar de ter um protagonista óbvio, o livro ainda segue outros personagens e suas próprias vidas, que se emaranham na amizade, no amor e nos laços familiares.
Não é uma leitura feliz, mas é importante e grandiosa, qualquer um que cresceu na periferia ou bem próximo consegue relacionar cenas do livro com coisas que já viveu ou viu, principalmente no que tange uma violência tão casual. Livrasso.
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Rafael.Prearo 16/03/2021

Soco no estômago
Excelente livro, li em um tiro só.
O Livro me remeteu a muitas pasagens da infância e adolescência. Gírias, apelidos, amigos se reuniando antes da era digital.
Infelizmente o cotidiano dos personagens é de muita violência e miséria e mesmo o livro se passando 20 anos atrás a critica social continua atualissima.
O livro é um soco no estômago.
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Nathalie.Murcia 21/03/2021

Realidade nua e crua da periferia
Trata-se de um clássico da "literatura marginal". É um retrato fidedigno da vida na periferia, um local repleto de humanidade e desumanidade. O Capão Redondo, segundo a crença popular, já era um local predestinado às desgraças, mas, na verdade, os problemas vivenciados são fruto do descaso social, político, e de um ciclo vicioso marcado por violência e exploração, difícil de ser quebrado.

O autor, que foi um morador de lá, conseguiu escapar desse destino por intermédio da literatura, e usou o seu dia à dia na periferia como base das histórias relatadas, por intermédio do protagonista e narrador, Rael.

É um livro difícil de ser digerido, permeado de violência e infortúnios, potencializados pelo uso imoderado de drogas e bebidas. Não há hipérboles nem fantasia, mas somente a realidade nua e crua.

Recomendo a leitura para quem quiser saber mais sobre essa realidade e sair de dentro da bolha.
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Milena 15/04/2021

Capão Pecado
É um ?Bom dia, Vietnã? todos os dias, em todas as páginas da obra de Ferréz! É dura a realidade onde a vida de nada - ou quase nada- vale.
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Yasmim 14/11/2024

Esse estilo de livro não faz muito o meu gosto, mas eu tive que ler para um trabalho da escola e não achei muito ruim. É um livro triste que infelizmente trata da realidade do nosso país, e a proposta do livro é muito boa, mas eu achei umas partes do livro muito confusas, não conseguia entender o contexto e nem qual era o personagem que estava narrando, e também senti que no final o autor apressou a narrativa para o livro acabar logo. Mas ao todo o livro é muito bom e me fez aprender bastante de como é a realidade que não está presente no meu cotidiano.
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Fernandinha 26/04/2021

De Marcelino Freire para Ferréz,
"(...) A nova edição de Capão Pecado chega (...) em uma época atravessada por uma pandemia mundial.

Entre tantas notícias devastadoras.

Mortes que só aumentam entre negros de dentro e de fora do país. Vírus e virulentos policiais.

Ninguém parece escapar.

Os personagens de Capão Pecado não escapam. Dentro do livro vivem enredados, há muito tempo, até antes de o livro ser escrito. Tentam dar um rumo mais digno às suas trajetórias.

Ferréz, no meio deles, escapou.

Capão, por mais que queiram, ninguém dizimou."
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Lucas1429 06/05/2021

Ferrez é genial
O cotidiano da periferia expresso de forma clara e realistas, a leitura é fluída e prazerosa você termina querendo mais. E as referências musicas são maravilhosas.

Um prato cheio para pessoas que gostam de cultura urbana,realidade e rap.
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