Beatriz Lima 18/10/2024
Vida loka, Capão, de fé, sou guerreiro!
"Capão Redondo era um nome muito estranho, e o que lhe tinham explicado era que o nome era tirado de um artefato indígena, pois os índios faziam um cestão de palha que tinha o nome de Capão, e vendo essa área de longe se tinha a impressão de ser uma cesta. Colocaram o nome de Capão Redondo, ou seja, uma grande cesta redonda."
Ler Capão Pecado trouxe a tona uma angústia que eu não lembrava que tinha. Ferréz narra com fidelidade a vivência de nós que saímos do extremo sul para ganhar (ou tentar) a vida todos os dias.
É cruel, doloroso, revoltante, repugnante. Mas é a nossa vida diária, o local que chamamos de casa, que dividimos com nossos amigos e familiares.
O sonho em ser mais, em sair daqui, em ter um destino diferente dos nossos semelhantes são ceifados quando somos todos considerados iguais e reduzidos a mão de obra barata que por sua vez é substituível.
A vida no Capão não tem valor.
Acompanhar a leitura e se identificar com as histórias, os locais narrados, ponto de ônibus, os bailes. Não existe nada que diverge da realidade dos anos 80', 90' e 00'.
Reféns de um sistema que rouba nossas vidas, força, esperança e sanidade, onde nos jogam em uma vala sem saneamento básico e lazer e pelo mínimo levamos bala.
Um lugar onde o sonho é ter o básico, conseguir sobreviver, voltar vivo pra casa e ter uma vida digna.
Um lugar onde o preço de querer, ser, ter e viver é alto.
Um lugar onde "a lei da sobrevivência é regida pelo pecado".