Luciano 11/04/2021
Um livro sobre o tempo e oportunidades perdidas
"Do deserto do Norte devia chegar a sorte, a aventura, a hora milagrosa, que, pelo menos uma vez, cabe a cada um. Para essa vaga eventualidade, que parecia tornar-se cada vez mais incerta com o tempo, os homens consumiam ali a melhor parte de suas vidas."
Escrito por Dino Buzzati, jornalista, escritor e artista plástico, o Deserto dos Tártaros publicado em 1940, é uma das obras mais influentes na literatura italiana contemporânea. No livro somos apresentados a um jovem militar, Giovanni Drogo, que ganhou a incumbência de fazer parte do posto de vigilância no forte Bastiani, uma fortaleza construída no coração das montanhas para proteger as fronteiras do país dos inimigos do Norte, os Tártaros.
Na história, os anos se passam, consomem-se os dias e as vidas dos militares, que nutrem a ambição, o desejo não confesso, mas evidente no coração de todos, de participar de uma guerra contra os tais inimigos. Contudo, não houveram indícios de uma luta iminente, o que não impediu que continuassem sonhando, aguardando seu momento de glória, olhando para o Norte através das montanhas, alimentando as altas expectativas que os consolavam e abrilhantavam seus dias.
Creio que a mensagem do livro esteja focada no alerta sutil de não vivermos a vida apenas sonhando com grandes feitos, esperando o momento certo quando a luz puder iluminar o Norte e nos guiar para um momento de pretensa glória, pois, nesse meio tempo, a vida se esvai, as árvores desaparecem, as casas se tornam distantes, as pessoas se tornam espectros de lembranças vagas, os amores desaparecem e, sem aviso nem meias verdades, encontramo-nos sós frente ao oceano de chumbo do inexorável tempo, a única riqueza com a qual não podemos barganhar.