Luiz Afonso 30/07/2021Vão-se os homens; ficam os desertos.Uma bela reflexão sobre a vida, ou talvez sobre a morte, ou talvez sobre ambas.
Um bom autor é como um dançarino que sabe conduzir, e, ao terminar a leitura, dá pra entender o motivo desse livro ser considerado uma das maiores obras-primas do século passado. Buzzati sabe como arrancar o leitor da sua zona de conforto e carregá-lo em uma jornada explorando a passagem do tempo, a efemeridade da vida dos homens em contraste com a constância do deserto e do forte.
O forte é como o Titã do tempo que engole todos os seus filhos: aqueles que não conseguem escapar acabam tornando-se um com ele.
Passei o livro inteiro torcendo pelo Drogo, por mais que já soubesse qual seria seu fim, como se fôssemos cúmplices na inútil batalha contra o absurdo do destino. Enquanto jovem e ingênuo, Drogo não percebe a sombra do forte o engolindo. Mas, quando decide escapar, sua saída lhe é negada. Era tarde demais: a porta atrás dele já havia se fechado, talvez pelo decurso natural do tempo, talvez como punição do destino por ter deixado-se apoderar pelo forte. De qualquer maneira, tudo o que restava à frente era o deserto.
Livro fantástico, daqueles que tiram sua vida dos trilhos (no bom sentido).
"Vingado finalmente da sorte, ninguém cantará seus louvores, ninguém o chamará de herói ou de qualquer coisa semelhante, mas justamente por isso vale a pena. Ultrapasse com pés firmes o limite da sombra, aprumado como num desfile, e sorria, se conseguir. No fim, sua consciência não está demasiado pesada, e Deus saberá perdoar."