O Deserto dos Tártaros

O Deserto dos Tártaros Dino Buzzati




Resenhas - O Deserto dos Tártaros


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Mario Miranda 19/05/2020

A Fria Região Nordeste Italiana foi palco de nascimento de dois grandes autores italianos: Italo Svevo, que publicaria a obra clássica "A Consciência de Zeno" em 1923, e Dino Buzzati, com "O Deserto dos Tártaros" em 1940.

Se em Zeno vemos a influência direta de Freud no desenvolvimento literário de Svevo, em Buzzati temos claros ecos de Franz Kafka, que publicara algumas de suas obras pouco mais de 15 anos antes do escritor italiano.
Buzzati é um autor na vanguarda da escrita de trabalhos existenciais, em um período que o próprio Sartre e Camus ainda estavam escrevendo suas primeiras obras.

O Deserto dos Tártaros narra a apática saga militar de Drogo, Tenente enviado após a conclusão dos seus estudos para fazer parte da guarnição do forte Bastiani. O forte, há muito sem participação em qualquer exercício militar, vive a eterna expectativa de uma invasão do "norte" - ou dos que sucederam historicamente os Tártaros. Entretanto, a invasão não ocorre, e o Forte passa a existir apenas por sua própria existência: manobras militares são feitas sem discussões, apenas pela manutenção do regimento; soldados são alvejados simplesmente por não saberem a Senha de Entrada, apesar de terem sido reconhecidos.

E neste cenário gélido Drogo, que chegara para ficar apenas 04 meses, acaba passando 30 anos de sua carreira confinado a esperada de algo que justificasse a sua própria existência. E quando esta justificativa, um possível embate militar, finalmente chega as proximidades do Forte Batisti, Drogo já é uma pessoa de razoável idade, saúde debilitada, que é expulsa do forte para dar espaço para novos oficiais.

Tal qual O Processo de Kafka, onde o indivíduo deparar-se com o absurdo de um processo sem sequer saber o motivo, O Deserto dos Tártaros escancara o absurdo dos que buscam grandes sentidos em suas vidas sem sequer direcioná-las para este atingimento, é um reexame Existencial crítico àqueles que vivem de determinada maneira simplesmente porque espera-se que vivam assim, pois foi daquela maneira que o Regulamento foi prescrito em um período distante.
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Eric 17/05/2020

A Fuga do Tempo
Dino Buzzati me deu um tapa na cara e está sendo doloroso. Ainda mais com esse desfecho, fiquei arrasado completamente. A história de Giovanni Drogo é uma belíssima reflexão sobre a vida que perdemos ao dedicarmos nosso tempo as coisas que não foram feitas para nós.

Ao esperar os dias de glória, uma possível invasão de tártaros no Forte Bastiani, o qual é isolado em frente a um deserto, Giovanni desperdiça seus belos tempos de juventude e vida adulta por uma batalha prometida e aguardada por soldados em um lugar solitário no meio do nada. A vida heroica almejada nunca chega, com isso o tempo vai passando e levando consigo as esperanças de homens que deixaram tudo para trás em troca da honra de defender um povo.

A prosa de Buzzati é belíssima e tocante. O leitor vive cada momento de solidão na expectativa de que algo grandioso aconteça, mas logo somos devastados pelas ilusões criadas para tentar dar um sentido no que os personagens estão vivendo.

À espera dos soldados é uma ótima metáfora para entender que certas coisas que queremos não foram feitas para a gente viver e que investir nosso tempo em sonho que o destino não quer que seja seu pode trazer consequências dolorosas, como o esquecimento ou a falta de importância que deixamos de exercer para as pessoas que antes nos fazíamos tão bem.

Em vários momentos senti raiva de Giovanni com seu comodismo em querer viver uma espera de anos em busca de uma vida épica que não existe. O tempo no forte vai passando cada vez mais rápido, o prazer de saber em que mês estava já não era importante e falta de vontade de vigiar aquela imensidão reduzia conforme a esperança da guerra ia embora.

Por fim, esta obra não traz grandes momentos, porém é recheada de reflexões muito atuais, apesar do texto sido escrito em 1940. Com um texto belo e metafórico, Buzatti nos comove com uma narrativa que reflete sobre um vida inteira a espera do nada.
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Luiza 10/05/2020

O tempo como personagem
Livro de uma profundidade incrível, uma escrita inteligente, profunda e elegante. Ao ler entramos em contato não só com a vida de Giovanni Drogo, mas com nossa própria vida, nossas escolhas e suas consequências. Um livro curto, porém gigante em seu conteúdo e na forma como nos toca profundamente, em temas que sem sempre são fáceis de serem falados, como a passagem do tempo, muitas vezes lenta, hipnótica e arrebatadora.
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Victor 09/05/2020

Em um livro onde não acontece nada, acontece tudo, acontece a vida
Em uma história sem grandes acontecimentos, a vida passa em 170 páginas. Nisso reside o brilhantismo do livro - aparentemente, nada acontece, e nesse nada uma vida inteira se desenrola. Seria fácil interpretar o livro como "chato" ou "vazio" se não fosse o baque da realidade que o preenche: a eterna expectativa de que a vida de verdade ainda irá começar, quando ela, de fato, começa com o nascimento. O que o torna assustador é justamente isso, como no aparente não-acontecimento, a vida passa. Magnífico.
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jonathanrausch 08/05/2020

Tão real quanto a morte
Este é o segundo livro que leio do Buzzati. As histórias dele são cheias de realismo e significados que tendem a mudar e adentrar o leitor menos propenso a mudanças.

Esta obra além de falar do tempo, das escolhas que fazemos nas nossas vidas, fala também do que não é inerente a nossas escolhas, ao que o meio tem total domínio e nunca seremos capazes de decidir totalmente por nós. Cremos que podemos ter tudo que queremos, mas de fato podemos alcançar isto ou é uma ilusão dúbia, que irá passar no decorrer dos anos, deixando para trás apenas o que poderíamos ter vivido e demos preferência por ignorar?

Cada um terá uma compreensão distinta da obra, do significado, e isto que é grande na obra. As fábulas geralmente já tem na fórmula a sua moral, nesta a moral é você quem decidirá. Drogo foi um sujeito infeliz ou foi feliz por percorrer a vida que tanto quis. Afinal de contas, ele sorriu pela sua vida.
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Marta Skoober 29/04/2020

Então eu li "O deserto dos tártaros", de Dino Buzzati. Foi uma leitura lenta, mas uma boa leitura.
É claramente, "para mim", uma obra prima. Muitos acharão, ou acharam, que não acontece nada, mas nessa aparente quietude a vida pulsa, há uma riqueza na vida interior, nos relacionamentos cotidianos. Em tempos de quarentena quantos de nós não se sentem de algum modo identificados com Giovanni Drogo?

Grifos:
"Antigamente o forte Bastiani era uma honra, agora parece quase uma punição."

"Desejos turbilhonavam dentro dele, juntamente com medos insensatos".

"A existência de Drogo, ao contrário, tinha como que parado."

"Justamente naquela época Drogo deu- se conta de que os homens, ainda que possam se querer bem, permanecem sempre distantes; que, se alguém sofre, a dor é totalmente sua, ninguém mais pode tomar para si uma mínima parte dela; que, se alguém sofre, os outros não vão sofrer por isso, ainda que o amor seja grande, e é isso o que causa a solidão da vida."
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Julia.Martins 28/04/2020

Emocionada!
Que livro incrível! Traz reflexões tão pertinentes, tão profundas. Linguagem enxuta, mas elegante. História curta, fluida, mas de uma complexidade sem tamanho. A condução do enredo é maravilhosa, e apesar de simples e com poucos acontecimentos, enche o leitor de ansiedade, de angústia, de tristeza, de reflexões. Obra existencialista de qualidade superlativa.
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Roberto.Maia 24/04/2020

Um dos melhores que já li
Uma interessante reflexão sobre o sentido da vida, a passagem do tempo e a esperança do ser humano.
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Etiene ~ @antologiapessoal 12/04/2020

Os tártaros não vieram.
Eu decidi ler esse livro pelo título. Há títulos que me compelem, e este é um deles. A sonoridade, a sugestão de mistério, de perigo... Na obra mais famosa de Dino Buzzati, encontramos a história de Giovanni Drogo: um soldado, designado ao serviço num forte distante, que alimenta incansavelmente o sonho de um destino militar glorioso, a combater inimigos, aqui chamados de tártaros.

Acredito que escutar histórias despertam os mais diferentes sentimentos em nós. Ler O deserto dos tártaros provocou em mim sentimentos estranhíssimos. O protagonista me desafiava a cada página. Senti uma raiva absoluta; uma revolta extrema frente ao comodismo, à ilusão alimentada por tantos anos, à esperança sem causa; me senti solidária ao Drogo, à seus sonhos e seu caráter obstinado; busquei entender as motivações de sua vida, e quem sabe inclusive reconhecer as minhas próprias nas dele.

De leitura inquietante, senti como se necessitasse de dar conselhos ao Drogo a todo momento: o homem deve projetar seus sonhos mas, definitivamente, apenas as projeções não nos podem governar. Giovanni parece enfeitiçado - ou amaldiçoado? - com a visão do horizonte ao chegar no sombrio local, com a visão do que estar-por-vir em sua existência, e, inerte, se entrega à passagem do tempo de modo injustificado. Para mim, o forte Bastiani é a personificação do nosso coração, da nossa mente e suas engrenagens: muitas vezes nos fechamos ali e nada nos tira.

O término do livro é profundamente triste, de uma injustiça chocante, eu diria. Não quero escrever demais aqui e acabar entregando a obra, mas precisei de dias para conseguir aceitar este fim. Pensando bem, será que o aceitei? E os tártaros não vieram. Após uma vida de espera por um inimigo que nunca chega, a esperança morre no pedestal do desfiladeiro. Drogo sonhou com mil passados e não viveu nenhum futuro. Eu pergunto: o que, como os tártaros, não veio pra você?

"Parecia ontem, entretanto o tempo se consumira com seu ritmo imóvel, idêntico para todos os homens, nem mais lento para quem é feliz nem mais veloz para os desventurados."
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Cleane 04/04/2020

Aquele livrinho pra fazer você parar e pensar em como tem levado a vida, uma história com várias reflexões explícitas ou escondidas nas entrelinhas.

Na rotina diária, nas grandes renúncias, no achar que somos jovens e temos tanto futuro, esquecemos da finitude da vida, não percebemos a passagem do tempo, não sentimos a vida escorrendo feito areia pelos nossos dedos.

O autor nos coloca, a todo momento, a pensar sobre o verdadeiro sentido que damos às nossas vidas.

Senti uma forte relação com "A morte de Ivan Ilitch" do Tolstói, principalmente no grande despertar pra vida do personagem.
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Julia Dutra @abibliotecadebabel 03/04/2020

Filosoficamente belo. Estamos todos presos em nossos próprios desertos.
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Marker 29/03/2020

Engraçado que a associação mais imediatada feita a esse livro do Buzzati seja a obra do Kafka, me peguei fazendo mais associações (esporte besta, mas fazer o quê), com A Montanha Mágica, do Mann, e A Fera na Selva, do James. O tempo vai passar e a vida vai ser o que a gente fizer dela, o que pode ser um conceito um pouco assustador. Pra mim com certeza é.
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J.P. Lima 15/03/2020

O tempo se esvai...
A oportunidade de ser feliz AGORA pode passar despercebida se estivermos olhando demasiadamente para o futuro ou passado. O presente deve ser vivido e nossas escolhas nao podem ser levianas, o tempo NAO vai parar por causa dos nossos sonhos... Façamos o máximo possível HOJE. Antes que sejamos assaltados por esse ladrão de anos...kkk... Algo interessante abordado pelo autor é que não é que estejamos velhos, mas com o tempo perdemos a VONTADE de fazer certas coisas...E aí mora o perigo: O envelhecer do coração!
. 15/03/2020minha estante
Estou muito empolgado pra ler este livro, desde o ano passado. Vou tentar colocar ele nas metas de Abril. \o/


J.P. Lima 15/03/2020minha estante
Ele nao estava nas metas do ano, mas foi a melhor escolha incluí-lo. Já entrou pra lista dos favoritos...




Pri 11/03/2020

Ótima leitura, nos faz refletir sobre nossa vida, a não criar expectativas.
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