RunaSu 09/10/2023Superficial demaisCartas de amor aos mortos é o terceiro livro que li do universo YA consecutivamente e, infelizmente, as expectativas não foram atendidas. A narrativa, que prometia uma abordagem diferenciada da adolescência, acabou tropeçando em clichês e estereótipos desgastados.
A transformação da protagonista, de uma jovem doce para alguém que adota o cigarro como um símbolo de rebeldia, é pouco convincente e até mesmo forçada. A autora poderia ter investido mais na construção desse desenvolvimento, evitando uma representação rasa e pouco autêntica.
A escolha de abordar a exposição do corpo como um ato de coragem é, no mínimo, questionável. Isso não apenas reforça estereótipos prejudiciais sobre a autoestima feminina, como também sugere uma falta de criatividade na criação de uma narrativa mais rica e substancial.
As dinâmicas entre as personagens secundárias também deixam a desejar. A história da amiga de quinze anos envolvida com um universitário parece mais uma tentativa de chocar do que uma exploração genuína das complexidades desses relacionamentos.
A inserção de citações de cantores no início de cada capítulo, é uma ideia interessante, porém é forçada até onde é possível em contextos aleatórios.
Entendo que é um livro publicado em 2014, porém, a representação do adolescente americano que, ao ingressar no ensino médio, busca experimentar tudo, é um clichê que já foi explorado à exaustão. Acho que a autora não se esforçou para oferecer uma abordagem original ou uma desconstrução desse estereótipo tão batido.
A busca de Laurel por sua identidade e sua suposta transformação para um estilo de vida mais semelhante ao de May são tratadas de maneira superficial e pouco convincente. A falta de profundidade no tratamento do luto e do romance com Sky apenas enfraquecem ainda mais a narrativa.
A indecisão de Hannah em relação a Natalie, mesmo após afirmar seu amor, adiciona uma camada de incoerência à história. Fica difícil compreender as motivações das personagens diante dessas contradições.
A incapacidade de Laurel de superar seu relacionamento com Sky, ao invés de trazer profundidade à trama, acaba por tornar a protagonista uma personagem unidimensional e frustrante. Eu esperava mais do processo de superação e crescimento da personagem.
O desfecho com a busca de ajuda através da terapia, embora um passo na direção certa, parece um recurso conveniente para amarrar pontas soltas de uma narrativa que carece de consistência.