Queria Estar Lendo 21/04/2015
Resenha: Caixa de Pássaros
Pensa no filme que mais te assustou na sua vida. Pensa numa história de terror que mais tenha te perturbado, num suspense psicológico, numa Annabelle da vida. Pensou? Apaga isso. Caixa de Pássaros é que vai ocupar essa posição a partir do momento em que você lê-lo.
Durante o livro, acompanhamos Malorie, no passado e no presente, tentando sobreviver ao caos desse novo mundo. Que mundo é esse? Um lugar onde você não pode abrir os olhos do lado de fora, porque há alguma coisa lá. Algo estranho, algo desconhecido, que faz as pessoas enlouquecerem e depois se matarem de maneira horrenda. No presente, Malorie tomou a decisão de viajar até algum lugar, que não sabemos onde fica, na única companhia de seus dois filhos - crianças que nasceram depois daquele fim do mundo. No passado, vemos Malorie, grávida, aprendendo a sobreviver conforme a ordem social e a segurança e a humanidade desaparecem dentro de um mundo cego.
"O rio é um anfiteatro, pensa Malorie enquanto rema. Mas também é um túmulo."
Sabe aquele tipo de leitura que tira seu fôlego? Que te faz morder um travesseiro ou até os seus dedos pra tentar acalmar a tensão do que está por vir? Isso é Caixa de Pássaros. Digo e repito que desde O Iluminado, do Stephen King, eu não sentia tanto desespero e medo com um livro. Desde Sinais (é, eu tenho medo terrível desse filme, me julgue) eu não tenho vontade de fechar os olhos em uma cena pra pular ela e fingir que nunca existiu. Josh, o autor desta obra, está muitíssimo de parabéns por ter orquestrado uma trama tão capaz de te paralisar no sofá e não te deixar sair até que tenha terminado o livro.
"Depois de três meses vivendo como ermitãs, o pior medo de Malorie e Shannon se concretizou quando seus pais pararam de atender ao telefone."
Aquela sensação de 'tem alguém me observando agora mesmo' te acompanha durante toda a leitura. A vontade de olhar para trás, com medo que alguém esteja ali. Um barulho nos fundos da sua casa que, antes, não teria importância, mas que Caixa de Pássaros te deixa desconfiada o bastante pra pular na cadeira e correr para longe. GODDAMNIT, EU NUNCA TIVE TANTO MEDO DE UM LIVRO QUANTO TIVE DESSE!
E não espere por respostas fáceis. Tal como os personagens, nós, leitores, estamos no escuro o tempo todo, sem saber exatamente o que ou quem está lá fora. Nós seguimos Malorie durante toda a sua estadia num refúgio "seguro" com outros sobreviventes - isso tudo durante os meses de gravidez dela - e vemos a tensão crescer em cima daquela situação catastrófica em que eles se encontram. Precisar se vendar para sair de casa. Precisar cobrir os olhos para ir até o poço buscar água. Um bairro abandonado, uma cidade abandonada, um mundo abandonado. Tem alguém lá fora? Sobrou alguém por ai?
"E o que mais assusta você? As criaturas ou você mesma, quando as lembranças de um milhão de cores e imagens inundarem sua mente? O que mais assusta você?"
Os sobreviventes foram muito bem construídos. Tal como Malorie, ninguém sabe o que está acontecendo, ninguém tem coragem de descobrir o que está acontecendo. Eles só querem ficar longe do lado de fora e do que habita ele. Tom foi o meu favorito, porque ele é o "inventor", o moço que perdeu a filha pra essa tragédia e que está tentando criar maneiras de continuar vivo junto aos outros. Eu adorei a relação dele com cada um dos moradores daquele refúgio, principalmente com a Malorie.
"Mais gravetos se quebram. A coisa se move devagar. Malorie pensa na casa que abandonaram. Estavam seguros lá. Por que saíram? Será que o lugar para onde estão indo é mais seguro? Como poderia ser? Num mundo onde não podemos abrir os olhos, uma venda não é tudo que temos para nos defender?"
Não só as criaturas são um problema, mas todo o ambiente sinistro que a presença delas criam. Você não sabe se o personagem está na presença de alguma ameaça ou se é só uma folha que caiu no chão em frente a ele. Você não sabe se os pássaros lá fora estão piando por um cachorro que passou na rua ou porque realmente tem alguma coisa ali perto deles. Você não entende, ou não quer entender, porque o cachorro da casa está latindo para a porta quando não deveria ter nada do outro lado dela.
Fãs de terror vão adorar toda a tensão da história. Fãs de um bom suspense também, com certeza. Eu, pessoa medrosa, me apaixonei perdidamente pelo livro e pelo caos cego que a história estendeu; achei a narrativa do Josh brilhante e se tornou uma das minhas favoritas pra sempre. Mas não vou reler Caixa de Pássaros tão cedo - na verdade, ele vai ficar num cantinho bem longe de mim e eu vou assistir bons filmes de comédia romântica agora, PORQUE O MEDO TÁ FORTE.
"O instante entre decidir abrir os olhos e fazer isso de fato é a coisa mais poderosa desse novo mundo."
Link original da resenha: http://migre.me/pz2Rf