Paloma 03/10/2023Li pouco e já considero pacasPelo posfácio da tradutora a gente descobre que Dostoiévski escreveu esta novela enquanto estava preso, aguardando a sentença que o mandaria para a Sibéria. Tal informação me suspendeu, pois como conseguiu escrever uma história tão fresca e luminosa, cheia de vida e descoberta, enquanto estava num lugar tão sombrio e opressor da existência humana?
Aí é que tá!: esse foi também um período de transformação do próprio autor, que passa a ver a vida com outros olhos e coloca isso na sua escrita e literatura, sendo estas (pelo que entendi a partir dos trechos de cartas suas que também constam no posfácio desta edição) o alimento da sua alma, sem a qual não conseguiria existir.
Segue um trecho que exemplifica o que quero dizer.
Se referindo à sentença de prisão na Sibéria:
"Meu irmão, não esmoreci, não perdi o alento. A vida e a vida em qualquer lugar, a vida está em nós mesmos, e não no exterior.
Haverá outras pessoas comigo, e ser gente entre outras pessoas e permanecê-lo para sempre, seja em que infortúnio for, sem se deixar esmorecer e perder o alento - é nisso que consiste a vida, é nisso que consiste sua tarefa. Eu me conscientizei disso. Essa ideia entrou no meu corpo e no meu coração.
... Fui ferido, é verdade! Mas restaram-me o coração e o mesmo corpo e sangue, que também são capazes de amar, de sofrer e de lembrar, e isso, apesar de tudo, é vida!"