Fernando Lafaiete 18/08/2018Um Pequeno Herói: Quem sou eu para dar menos que a nota máxima para Dostoiévski?******************************NÃO possui spoiler******************************
Avaliar um livro de Fiódor Dostoiévski com uma nota abaixo de 4, parece ser um insulto, algo inimaginável para algumas pessoas. Afinal de contas, Dostoiévski não é (não foi) apenas um escritor. Ele é considerado por muitos como sendo “O ESCRITOR”, um gênio que merece ser venerado sem ser questionado. Levando isso em consideração, como disse uma amiga minha: Quem sou eu para ousar dar 3 estrelas para uma obra escrita por um gênio como ele?
A questão é que não avalio um livro colocando como peso máximo quem o escreveu. Avalio vários aspectos, em especial, o impacto que a obra me causou e as conexões e reflexões que ela me suscitou. “Um pequeno Herói”, a novela (que encaro como conto) escrita em 1849 enquanto o autor estava preso na fortaleza de Pedro e Paulo aguardando sua sentença, me soou em vários momentos como algo genérico.
A obra é bem escrita (no quesito escolha de palavras e fluidez) e narra a história de um jovem de 11 anos que se encontra no interior da Rússia no momento que vários personagens estão festejando a temporada de verão, período em que a sociedade burguesa russa se reunia para a realização de jogos. É neste momento que o personagem central irá se deparar com sua possível primeira paixão e terá que lidar com este sentimento até então desconhecido para ele.
A novela de 88 páginas, apresenta personagens até então sem nomes. Ou melhor, a maioria deles são apresentados ao leitor pelas suas iniciais ou por alguma característica física. Isso não me soou natural e fez com que eu os encarasse como algo vazio. Os diálogos parecem não ter propósito e a carga psicológico que tanto gosto nas obras de Dostoiévski é quase nula em “Um Pequeno Herói”.
Fica evidente durante a leitura que esta novela foi escrita pelo autor como uma válvula de escape de seus temores provenientes da situação a que se encontrava. É uma obra que trabalha os pensamentos infantis e o processo de descoberta e evolução do personagem central, em relação a maneira em que ele enxerga e entende o mundo. Algo muito bem feito, devo salientar.
Eu gostei da leitura, mas não acho que “Um Pequeno Herói” seja uma obra-prima como muitos afirmam. É uma leitura válida, mas que não me impactou em nenhum momento.
Já passou da hora de entendermos o seguinte: Uma avaliação “baixa” de um livro que amamos não deve ser encarada como um insulto pessoal. Independente do autor e da importância do que está sendo lido, não deve ser encarado como algo acima de qualquer avaliação. Cada pessoa tem uma experiência de leitura e é muito raro termos experiências idênticas e consequente as mesmas opiniões. Pensar que um autor deve receber apenas nota máxima porque é um dos mestres da literatura, só impossibilita debates que poderia engrandecer ambas as partes (a que amou e a que não gostou tanto assim). Pois estes pensamentos normalmente geram agressões de quem acha um absurdo uma nota 3 para um livro como o aqui resenhado.
Repito... gostei sim da leitura, mas já li coisas bem melhores, inclusive escritas pelo próprio autor.