A Mulher de Trinta Anos

A Mulher de Trinta Anos Honoré de Balzac




Resenhas - A mulher de trinta anos


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Gláucia 30/11/2015

A Mulher de Trinta Anos - Honoré de Balzac
Publicado em 1832, esse é sem dúvida o mais emblemático título do autor. E um dos piores que já li.
Não gosto de contraindicar livros mas esse só deveria ser lido por quem já leu boas obras do autor, caso contrário corre o risco de nunca mais querer ler mais nada dele, o que é uma pena, já que se trata de um autor excelente.
O livro é cheio de falhas e é até difícil saber por onde começar. Na introdução, Rónai nos conta que as seis partes que formam o romance foram originalmente publicados separadamente em forma de contos e que só por insistência dos editores Balzac o transformou num romance único. Isso fica evidente pois cada parte parece ser outra história, sem continuidade com a anterior, tendo em comum apenas a protagonista ser a mesma, Julia d'Aiglemont, uma mulher que não conseguiu se realizar no casamento nem na maternidade.
Não encontramos unidade psicológica nem mesmo nos personagens, retratados com personalidades diferentes em cada parte sem que haja nenhuma explicação para isso.
O título do livro, que fez sua fama, poderia ser qualquer outro, Julia tem 30 anos em apenas 1 das 6 partes do livro. Em apenas um trecho o autor desenvolve a tese da mulher de 30 anos, para ele a idade em a mulher encontra o ápice no amor.
Em uma das partes há uma mudança da narrativa, Balzac narra um crime em primeira pessoa que ele presenciou por trás de uma árvore. Totalmente sem noção
Temos de um tudo nesse livro, é um verdadeiro samba do criolo doido: amante escondido no guarda-roupa, tom melodramático de novela mexicana e até mesmo uma aventura de piratas!
O que há de positivo, não apenas nesse mas em outros livros, foi o fato do autor ter colocado no centro do romance protagonistas femininas de 30, 40 e até 50 anos, e isso não era comum na época. As mocinhas costumavam ser sempre novinhas, na casa de seus 16 a 20 anos.
Em uma palavra: caótico.
Marta Skoober 30/11/2015minha estante
Adorei a resenha!


Marta Skoober 30/11/2015minha estante
Agora parece que está chovendo 1 por aí, não?
Tomara que suas futuras leituras sejam mais prazerosas.


Gláucia 30/11/2015minha estante
Você leu esse, Marta? Que horror, esse livro fala totalmente contra a genialidade do autor!


Gláucia 01/12/2015minha estante
Você leu esse Marta?


Marta Skoober 01/12/2015minha estante
Foi um dos primeiros que li, naquela coleção da Abril.
Quando terminei lembro que pensei: era só isso? Mas, eu já tinha aqui Pons e Goriot, e um dia mesmo sem muita fé resolvi lê-los e fiquei encantada. Goriot é muito bom, um dos melhores, mas tenho uma predileção por Pons.


Marcia Cogitare 12/12/2015minha estante
Ainda bem que vc avisou sobre este livro. Mais um que não terá minha atenção


Luana Sousa 31/03/2018minha estante
Infelizmente foi meu primeiro contato com o autor, mas a sua resenha resumiu tudo que senti e sendo assim ainda darei outra chance ao Balzac.




Leo.vicente 06/05/2024

Gosto muito de livros sobre amores, no geral. E gosto ainda mais daqueles que se debruçam sobre uma visão ideal do amor, mostrando as consequências da paixão irrefletida na alma das pessoas que dela sofrem.

Julie, a mulher de trinta anos, assim como Emma Bovary e Anna Kariênina, enfrenta os mesmos dilemas.

Mas existem algumas diferenças entre a personagem de Balzac e as outras: Julie se vê presa entre um período de maior liberdade, mas ainda cheio de amarras morais, e seus sentimentos e sonhos de amor. Esmagada por esse dilema, ela se arrepende constantemente de suas escolhas. E pior: vê as consequências dessas escolhas atingirem não somente a ela, mas também a todas as pessoas ao seu redor.

Balzac nos entrega um livro dividido em 6 capítulos, cada um narrando uma época diferente da vida de Julie. Essa narrativa fragmentada, episódica e espaçada, nos dá um panorama geral da existência trágica da mulher de 30 anos. Amamos, sofremos e choramos com ela. Em alguns momentos, nos afastamos, sentimos quase repulsa. E isso é genial, pois poucas personagens são tão humanas a ponto de despertar esses sentimentos no leitor.
Lari ... 06/05/2024minha estante
Estava ansiosa por sua resenha, Léo! ?
Compartilho da sua opinião, também gosto de livros que retratam o amor (são os meus preferidos) principalmente os que retratam o amor real.
Fiquei mais curiosa para ler o livro!
Parabéns ???


Leo.vicente 06/05/2024minha estante
Obrigado, Lari! Você é sempre carinhosa. ?

Apesar de não figurar entre meus favoritos sobre o tema, o livro continua sendo excelente.
Recomendo muito.
(Quando você ler, a gente pode falar sobre ele. ?)


Lari ... 06/05/2024minha estante
Pode deixar, quando eu ler a gente conversa. Sua opinião conta muito, gosto das suas observações. ?


Leo.vicente 07/05/2024minha estante
E as suas pra mim, Lari! ??




Emanuel.Silva 24/06/2017

Finalmente li Balzac
Que leitura difícil amigos, exagerando um pouco aqui, fazia tempo que não entrava em contato com alguma obra literária escrita a anos luz atrás (risos). Estava muito curioso em ler algo do Balzac, escritor Francês famoso, responsável por dezenas e mais dezenas de livros publicados, conhecido e divulgado até hoje, além de ser fonte de inspiração para vários escritores. Diante de todas essas coisas, minha curiosidade flamejava por avistar e galgar suas linhas.

Nesse livro Balzac explora o casamento, como um conversador da época, tinha esse contrato social como a base de uma vida digamos, aceitável, padrão, saudável e etc. É nos apresentando a protagonista July que o autor nos conta desde a juventude da moça até a sua terceira idade. Nos conta essa historia de uma maneira que achei INTERESSANTÍSSIMA, sem exageros dessa vez! Balzac divide o livro em 6 partes e muitas vezes os "Time Travel", "Skip Time" que acontecem são rápidos demais , muitas vezes bastam algumas linhas e Balzac já avançou na linha cronológica muito rapidamente. Mas, Não é só por isso que eu achei interessante o livro ou a escrita de Balzac, pelo contrario, é contrastando com essa velocidade de avançar na linha temporal da historia com rapidez e sem se importar (aparentemente) com os anos que ele atropela que entra a minuciosidade que Balzac tem em detalhar momentos sutis de certas cenas, detalhando e gastando mais tempo em uma pagina que os protagonistas reparam a vista que as janelas de um tem dão para as montanhas e rios Franceses do que nos contanto tudo que aconteceu em 10 anos que ele pulou da historia.

Esse contraste entre, velocidade para passar os anos na linha temporal da historia e falta de pressa na hora de detalhar singelos momentos que mais me chamou a atenção. Porém, é inevitável o potencial que o autor tem de exteriorizar e revelar muito bem as vontades subjetivas de seus personagens, seus dilemas e contradições ficam para o leitor como um livro aberto, revelando todas as linhas sem pudor.

Enfim, uma leitura na minha opinião boa, confesso que fiquei feliz com os diversos comentários que eu li na internet, dizendo que o total potencial de Balzac não é encontrado em "A Mulher de Trinta Anos", dessa maneira, creio que conhecer mais dele em algum de seus outros livros não será uma mal pedida. Irei voltar a me encontrar com as linhas dele em breve.
Rosa Santana 25/04/2020minha estante
Achei a costura cronológica mal feita! Demorei a entender a cena perfeita em que ele descreve a família na noite em que chega o refugiado pedindo guarida.


Rosa Santana 25/04/2020minha estante
No mais, gostei da sua resenha! ??????


Emanuel.Silva 26/04/2020minha estante
Obrigado Rosa! Foi uma leitura difícil na época, hj fazem 3 anos, ainda não li outro do Balzac, mas dps de reler minha resenha, vou colocar em minha lista! Se conseguir me recomedar um eu agradeço ?


Rosa Santana 27/04/2020minha estante
Emanuel, esse foi até agora o único livro do Balzac que li. Gostei das descrições, muito bem feitas, gostei também da ?unidade? que o autor constrói, na repetição das desgraças da família, como se cada um obedecesse a uma ordem superior de moral. Essa parte achei bem costurada!




Rogéria Martins 22/07/2023

Surpreendente
Este livro foi meu primeiro contato com Balzac e não me arrependo.

"A mulher de trinta anos" é uma história carregada de sentimentos - em alguns momentos não foram bons sentimentos, confesso - e melancolia, o autor realmente consegue transmitir o que os personagens estão sentindo a cada "fase" da história, digamos assim. Por vezes a história é um pouco confusa, mas pode ser pela tradução, nada que não dê para relevar.

Definitivamente o que mais me cativou aqui foi a imprevisibilidade da história, fiquei surpresa! Recomendo demais.

Agradeço a minha querida amiga Michela pela companhia em mais uma LC. ???
Michela Wakami 22/07/2023minha estante
??????????


Edson 23/07/2023minha estante
Parabéns meninas ???????


Rogéria Martins 23/07/2023minha estante
Obrigada, amigo!!




Aline 08/07/2020

Muitas pontas soltas...
A mulher de trinta anos ficou bastante famosa no Brasil pelo seu título chamativo e a partir da obra criou-se até a expressão balzaquiana. Mas esse não é o melhor livro de Balzac, segundo os críticos. Imagino que muitas pessoas idealizam encontrar nesse livro uma heroína sagaz e destemida e acabam por abandoná-lo um tanto frustradas. É que a protagonista, sinto informar, é chata.

 Júlia, a personagem principal, não encontrou realização no casamento e na maternidade, que era tudo que a vida em sociedade reservava para uma mulher de sua época,  e por isso vive em profunda depressão. Essa foi a grande inovação de Balzac: ao invés de escrever sobre românticas mocinhas que sonhavam em se casar, quis falar sobre uma mulher madura e triste após o felizes para sempre. O autor fez isso antes de Flaubert criar Madame Bovary e Tolstói escrever Ana Karênina, outras clássicas protagonistas tristes. A mulher de trinta anos faz parte de um conjunto de romances, novelas  e contos chamado de A comédia humana, em que Balzac descreve a sociedade francesa da primeira metade do século XIX, e por isso, o autor é considerado o pai do realismo.

Dada a importância da obra, devo confessar que encontrei alguns problemas na história. Quando começamos a ler um texto ficcional, fazemos um pacto com ele do tipo: você me conta a história e eu acredito nela. Mas não é qualquer coisa que o leitor engole. É preciso que o autor forneça fundamentos para a história, e Balzac não fornece. A tristeza e o sofrimento de Júlia nunca são bem explicados, ela só sofre, sofre, e a falta de entendimento dificulta a conexão do leitor com a personagem. Alguns personagens aparecem sem explicação ou somem sem desfecho ou justificativa. A história se arrasta por bastante tempo e depois dá saltos enormes no tempo, causando estranheza. No último terço do livro, a mudança no enredo é tão brusca que a sensação é de estar lendo outro livro! Balzac escreveu esse romance de forma fragmentada ao longo de treze anos, talvez isso explique esses problemas de continuidade...

Por fim, apesar da boa vontade de Balzac em tentar descrever a alma feminina, o texto não te deixa esquecer que é sempre um homem falando de uma mulher. Assim, os elogios para a mulher mais madura são sempre em detrimento da mulher mais jovem. Há sempre esse tipo de comparação. Além disso, enquanto a mulher é considerada uma senhora no auge da sua maturidade com trinta anos, um personagem masculino da trama com os mesmíssimos trinta anos é considerando um rapaz ainda muito jovem. E parece que o remédio para a depressão e todos os problemas de Júlia seria só um: um homem!

Bem, depois de todos os problemas relatados, você pode achar que eu não gostei do livro, mas sabe que eu gostei da experiência? Gostei de conhecer um pouco do autor que eu nunca havia lido, de entrar em contato com a história por trás do livro...mas entendo que nem todo mundo terá o mesmo interesse pois não é uma história gostosa de ler. Assim, é uma leitura que eu recomendo se seu interesse por literatura vai além da história.
Claudia 16/07/2020minha estante
Preciso de ajuda!
Não li com a atenção devida ou realmente não se sabe o que aconteceu com Júlia e Carlos?


Aline 18/07/2020minha estante
Oi, Ana. Não tem defecho..depois da tragédia no rio..acho q ele aparece em mais uma cena com um testamenteiro, algo assim lidando, com o fato de não ter herdeiros..e depois some.


Mandy 08/01/2021minha estante
Nossa, mesma sensação que tive aqui ao terminar a leitura. As comparações com as outras mulheres, sempre a competição feminina sendo exaltada. É um livro fruto do seu tempo, mas não deixa de ser triste vermos que ainda hoje a cultura e a literatura reproduzem essas situações.




Fernanda 06/07/2011

Esqueça o fim
"A mulher de trinta anos" é o primeiro livro que leio de Balzac. É um bom livro, embora a história não seja contínua. Como descobri lendo resenhas anteriores à minha, o livro foi concebido originalmente como vários contos, que em dado momento foram unidos e editados com uma única história.
A descontinuidade da trama é claramente perceptível e, em minha opinião, compromete significativamente a narrativa, pois tem-se a impressão de tratar-se de personagens distintas, tamanhas são as alterações de caráter que sofrem.
Apesar da observação acima, não posso deixar de registrar que a primeira parte do livro, notadamente os três primeiros capítulos, é excelente. Balzac faz uma análise profunda da alma feminina. Descreve de forma magistral as angústias e anseios de Julia, a mulher de trinta anos do título, bem como da sociedade que a circunda. Imagino que é por causa de textos como esses que o autor é colocado entre os grandes nomes da literatura universal. Certamente lerei outros do autor.
Enfim, esqueça o fim e delicie-se com a primeira parte. É uma leitura que vale a pena.
19/10/2011minha estante
Gostei da sua resenha, tenho interesse em lê-lo. Especialmente por já ter lido Eugenia Grandet de Balzac e ter gostado muito. Indico, é uma boa leitura.


Joice (Jojo) 11/04/2012minha estante
Parabéns pela resenha. Objetiva e esclarecedora!


Ricardo Rocha 19/08/2016minha estante
como tudo, há dois lados na tua observação. de fato, descontínuas etc. porém fico pensando se todos os contos em separado teriam obtido tamanha glória a ponto de inserir uma palavra no dicionário. abraço




Carlos Luiz 07/08/2010

O Brilho Feminino no Universo Balzaquiano
A Mulher de Trinta Anos:
Lendo este romance é normal chegar-se à conclusão de que a história não tem sentido, não tem um fluir cronológico, com início, meio e fim. Isso porque as seis partes que compõem o livro eram contos, com enredos diferentes e, mesmo quando havia o mesmo personagem em mais de um, ele aparecia com um outro jeito de ser. A única similaridade entre os contos era que todos possuíam como protagonista uma mulher desiludida. Após o lançamento da primeira edição, o editor sugeriu ao autor que, ao invés de arrumar os contos separadamente, ele os reunisse formando um romance. Por isso não há cronologia nos acontecimentos.
Nas duas primeiras edições do livro, Balzac publicou os contos de modo separado, cada qual num volume, mas depois ele seguiu o conselho do seu editor. Assim, o romance possui vários vácuos, vários defeitos. Um deles é que, de uma parte da obra para outra, personagens mudam o seu modo de ser, o seu caráter. Pelo ponto de vista da organização em contos como nA Comédia Humana, uma das primeiras edições , interpretei essa mudança no jeito de ser como sendo uma ótima demonstração do quanto as pessoas são diferentes entre si. Já em A Mulher de Trinta Anos, isso soa estranhíssimo, pois variações gradativas e brandas no jeito do ser são justificáveis no desenrolar dos acontecimentos, mas nesse livro as variações são bruscas e intensas. Outro defeito é que aparecem situações mirabolantes, em especial no final do livro, só havendo um sentido delas ocorrerem sendo vistas como contos. Assim, o fato de cada pessoa ter diferentes maneiras de agir é justificável e serve, inclusive, para demonstrar o quanto pode ser interessante dissociar um indivíduo em diversos eus, que se manifestam dependendo da situação na qual se encontram.
Apesar desses defeitos, o livro tem vários méritos, mesmo que, em sua estrutura se mostre a ideia de que ele não era para ser um romance, mas que Balzac decidiu por reuni-los nesse formato. Um dos méritos é que ele se aprofunda na condição da personagem-título, descrevendo sobre a tristeza de um modo que me agradou bastante, ao mesmo tempo em que mergulha bem fundo na mente feminina. Outro mérito, na minha opinião, é falar muito bem acerca do papel da mulher na sociedade e as situações com que ela se depara.
E, através de tudo isso, Balzac traça uma ótima visão quanto à ideia do que a mulher podia conquistar em seu futuro, o que se torna ainda melhor quando vejo a quantidade de conquistas que ela já alcançou até hoje. Atribuo mérito à obra também porque ela descreve extremamente bem as diferenças entre as mulheres e os homens e o quanto é importante que eles deem tudo de si para manter um relacionamento agradável.
Contido no título, está o elogio às mulheres de trinta anos, algo que o autor faz com beleza e elegância. A partir disso, ele diz que essa fase é o ápice da vida amorosa da mulher.
Concluindo: para mim, A Mulher de Trinta Anos adquire sentido e é ótimo se for visto não como um romance, mas como um conjunto de contos.
19/10/2011minha estante
Valeu pela dica, vou lê-lo com essa intenção...


CAMILA 06/09/2017minha estante
A única conclusão deste livro, se encontra na parte em que ele difere uma jovem, de uma mulher de mais idade ou seja uma Balzaquiana, aonde uma é envolvida pelo curiosidade, a outra segue e escolhe á seus desejos e passos (...-). é um dos meus favoritos.


Kmilab 03/02/2022minha estante
Perfeito!




spoiler visualizar
Rogéria Martins 03/12/2023minha estante
Adorei esse livro mas achei extremamente melancólico também!


Paulo Vitor 03/12/2023minha estante
Exatamente!




Vanessa Vieira 09/05/2016

A Mulher de Trinta Anos - Honoré de Balzac
O livro A Mulher de Trinta Anos, clássico do autor francês Honoré de Balzac, nos traz a história de uma mulher que passa por várias intempéries e que, por meio de algumas delas, acaba se fortalecendo e esbanjando uma beleza e grandeza ímpares, já com mais de três décadas de idade. A trama foi escrita anteriormente no formato de contos, que foram unidos e editados, proporcionando uma única história e devido a esse fato, é possível notar algumas discrepâncias no enredo, mas nada que ofusque o seu brilho. Balzac delineia a alma feminina com suavidade e veracidade, nos proporcionando uma leitura gostosa, tocante e, acima de tudo, uma verdadeira ode ao brilho emanado da mulher.

Conhecemos a história de Julie, uma jovem bela e estonteante. Contrariando o desejo de seu pai, a moça, então apaixonada, resolve se casar prematuramente com um coronel do exército napoleônico. Em menos tempo do que poderia imaginar, a jovem se descobre infeliz no casamento e também na maternidade.

A Mulher de Trinta Anos não se resume apenas a Julie e sua história mas sim ao contexto do que significava ser uma mulher no século XIX, bem como todas as suas contradições e os contrastes com o período moderno. Balzac soube delinear em sua escrita a alma feminina magistralmente e creio que isso se deva ao fato do autor ter se relacionado com várias mulheres maduras e mais velhas do que ele, o que lhe serviu como experiência e fonte de inspiração para a confecção da obra. Narrado em terceira e primeira pessoa, com uma escrita rebuscada e clara, o livro faz jus a toda fama que recebeu até aqui e se mostra um retrato quase que palpável da natureza feminina.

"O casamento, instituição sobre a qual hoje se apoia a sociedade, faz-nos sentir, só a nós, todo o seu peso: para o homem, a liberdade, para a mulher os deveres. Devemos aos senhores toda a nossa vida, os senhores só nos devem as suas em raros instantes. Por fim, o homem faz uma escolha ali onde nós nos submetemos cegamente. Pois bem, o casamento, tal como se pratica hoje, parece-me ser uma prostituição legal."

Julie é uma personagem complexa e até mesmo inconstante. Ela muda de opinião em vários momentos e também tem os seus próprios arrependimentos, o que a torna humana e muito próxima do real. Ela reluta antes de fazer suas escolhas e se arrepende não só por cometê-las, como por também deixar de fazê-las, o que lhe concede uma complexidade muito grande. O que mais admirei nesta heroína trágica foi a sua forma de enxergar a vida e os seus devaneios acerca disso, principalmente no que concerne ao contraste entre os sexos e a maturidade da mulher.

"A moça tem apenas uma coqueteria, e acredita ter dito tudo quando tira o vestido; mas a mulher tem inúmeras e esconde-se sob mil véus; por fim, afaga todas as vaidades, e a noviça só lisonjeia uma. Aliás, na mulher de trinta anos agitam-se indecisões, terrores, temores, perturbações e tempestades que jamais se encontram no amor de uma mocinha."

Em síntese, A Mulher de Trinta Anos nos traça um retrato pungente e delicado sobre a mulher do século XIX e vertentes significativas também sobre a mulher moderna. A forma e a destreza com que Balzac constrói a sua narrativa são surpreendentes e mesmo tendo algumas lacunas quanto ao tempo - pois o texto nada mais é do que a junção de vários contos que compõe A Comédia Humana - o enredo é esplendoroso e dotado de sutileza e vigor. A capa nos traz o retrato de uma mulher madura delineada com elegância e altivez e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo ☺

site: http://www.newsnessa.com/2016/05/resenha-mulher-de-trinta-anos-honore-de.html
Aline Teodosio @leituras.da.aline 15/11/2016minha estante
Vi algumas resenhas negativas desse livro aqui no Skoob, mas depois de ler a sua fiquei com imensa vontade de me aventurar na escrita de Balzac.


Vanessa Vieira 15/11/2016minha estante
Fico feliz que tenha gostado da resenha Aline. Espero que goste do livro tanto como eu gostei. Beijo!




Caroline Gurgel 12/02/2014

Uma escrita de fazer salivar...
A Mulher de Trinta Anos, um dos cerca de 90 romances que compõe a grandiosa A Comédia Humana de Balzac, apesar de ser sua história mais famosa, não é considerada a melhor. Não saberia opinar, visto que é meu primeiro Balzac, e talvez não tivesse audácia para tanto, mas gostei muito do que li e fiquei entusiasmada para ler mais de sua obra.

A escrita foi o que mais me encantou, muito mais do que a história em si, que se perde um pouco por falta de continuidade entre os capítulos e por personagens que aparecem e desaparecem sem muitas explicações. Na verdade, essa imprecisão deve-se ao fato de esses capítulos terem sido lançados originalmente como contos ou episódios separados, apesar de compartilharem a mesma protagonista, Júlia. Só depois, ao reunir suas histórias para a criação de A Comédia Humana, Balzac une (e retoca) as 6 partes que compõe A Mulher de Trinta Anos. Li que era comum ele deixar estórias incompletas, para serem reparadas depois, enquanto escrevia outra e outra e outra. Excentricidades de gênio, claro.

O autor é aclamado por ter feito um retrato da sociedade parisiense pós-napoleônica muito além do que seus contemporâneos conseguiam enxergar. Sua análise do comportamento feminino é considerada ainda atual, e lendo suas percepções sobre a menina, a mulher, a esposa e a mãe Júlia facilmente entendemos porque. Guardadas as devidas diferenças de época e costumes, sim, muito do que lemos é exatamente o que sente uma mulher. Minha única ressalva (e talvez decepção) é que a mulher escolhida é a desiludida. E não somos todas desiludidas, certo? Não no século XXI.

"O coração tem uma memória que é só dele. Uma mulher incapaz de recordar os acontecimentos mais graves irá lembrar-se por toda vida das coisas que importam a seus sentimentos."

Apesar das imprecisões cronológicas já citadas, a escrita é tão fascinante que os fatos em si ficam em segundo (ou terceiro) plano. Balzac é tão detalhista que facilmente nos transportamos para aqueles cenários e visualizamos cada personagem, e parece até que conseguimos enxergar dentro de cada um deles. A adjetivação excessiva pode desagradar aos mais minimalistas, mas não a mim. Para mim foi um deleite.

Por mais que o título dê a entender que se trata apenas da mulher na faixa do 30, o que temos aqui é toda a vida de Júlia, desde a adolescência. Conhecemos a Júlia jovem, querendo casar-se com Vitor d'Aiglemont. Mesmo alertada pelo pai de que essa não seria uma boa escolha, Júlia se casa e logo percebe seu erro. A partir daí vamos conhecendo mais da Júlia desiludida, do seu comportamento, suas tristezas e frustrações (e novas paixões?). Balzac passa a exaltar a mulher madura, comparando-a e diferenciando-a da jovem.

"...uma jovem tem ilusões demais, é inexperiente demais e o sexo é cúmplice demais de seu amor, para que um rapaz possa sentir-se lisonjeado; ao passo que uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a serem feitos. Enquanto uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas às do amor, a outra obedece a um sentimento consciencioso. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é uma imensa lisonja? Armada de um saber obtido quase sempre ao preço de infelicidades, a mulher experiente, ao que a jovem, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar nem apreciar. [...] Uma jovem só será amante se estiver muito corrompida [...]; ao passo que uma mulher tem mil maneiras de conservar ao mesmo tempo seu poder e dignidade. Uma, demasiado submissa, oferece-nos as tristes seguranças do repouso; a outra perde muito para não exigir do amor suas incontáveis metamorfoses. Uma desonra-se sozinha, a outra destrói em seu proveito uma família inteira. [...] mas a mulher possui incontáveis atrativos e oculta-se sob mil véus; enfim, ela acalenta todas as vaidades, enquanto a noviça só acalenta uma. Aliás, na mulher de trinta anos agitam-se indecisões, temores, dúvidas e tempestades que jamais ocorrem no amor de uma jovem. Ao chegar a essa idade, a mulher pede a um homem jovem para restituir-lhe a estima que lhe deu; [...] enquanto a jovem apenas sabe gemer. Enfim, a mulher de trinta anos pode fazer-se jovem, representar todos os papéis, ser pudica, e inclusive tornar-se mais bela com uma infelicidade."

Mesmo com toda a inconsistência no enredo e apesar de alguns piratas que surgem no final (o que foi aquilo?), a leitura desse livro é obrigatória para qualquer mulher. Para os homens, eu não saberia recomendar, pois não sei se têm dentro deles o que, indiscutivelmente, Balzac tinha: uma alma feminina.

"Antes de mais nada, seu instinto tão delicadamente feminino dizia-lhe que é muito mais belo obedecer a um homem de talento do que conduzir um tolo, e que uma jovem esposa, obrigada a pensar e agir como homem, não é nem mulher nem homem, abdica todos os encantos de seu sexo ao perder suas fraquezas, e não adquire nenhum dos privilégios que nossas leis reservaram aos mais fortes."

"Quando anunciaram à marquesa a chegada do sr. de Vandenesse, ela perturbou-se; e ele sentiu-se quase envergonhado, apesar da segurança que, nos diplomatas, é uma espécie de hábito. Mas a marquesa logo adotou aquele ar afetuoso sob o qual as mulheres protegem-se contra as interpretações da vaidade. Essa atitude exclui qualquer segunda intenção e controla, por assim dizer, o sentimento temperando-o nas formas de polidez. [...] Somente aos trinta anos uma mulher pode conhecer os recursos de tal situação, nela sabendo rir, gracejar, enternecer-se sem comprometer-se. Possui então o tato necessário para fazer vibrar num homem todas as cordas sensíveis, e para estudar os sons que obtém. Seu silêncio é tão perigoso como sua fala."

"Para o desespero das mulheres, sua apresentação era impecável, e todas invejaram-lhe o corte do vestido, a forma de um corpete cujo efeito foi atribuído ao gênio de uma costureira desconhecida, pois as mulheres preferem acreditar na ciência dos vestidos do que na graça e na perfeição daquelas que sabem usá-los."
Tami 11/02/2015minha estante
Vc sabe dizer quantos anos Helena tinha quando fugiu?


Caroline Gurgel 03/04/2015minha estante
Tami, não me lembro de jeito nenhum dessa informação :/




Rosana Pegoraro 02/03/2013

Mulher Balzaquiana
Um romance escrito no início das mudanças sociais provocadas pela Revolução Francesa fez Balzac virar um adjetivo, mesmo que involuntariamente: balzaquiana ou mulher balzaquiana, que significa MULHER DE TRINTA ANOS.



Na época Balzac quis retratar a diferença entre um homem jovem de 30 anos com uma mulher velha de 30 anos. O que não deixa de ser verdade na França deste período uma vez que as francesas viviam até 40 anos. No Brasil, na mesma época as mulheres viviam até 29 anos! A partir de sua obra, as heroínas de romances passaram a ter mais de vinte anos ou seja, as mulheres mais velhas começaram a ter direito ao amor (pelo menos nos livros)!



Se analisarmos os últimos 210 anos da mulher no mundo (idade de Balzac se estivesse vivo) veremos que a mulher mudou para melhor: vivemos mais (a média mundial é de setenta e cinco anos), temos mais saúde, melhor aparência. Não precisamos mais pegar água no rio, com lata na cabeça para os afazeres domésticos, ou mesmo lavar roupa nas pedras do mesmo rio. Temos água encanada, máquina de lavar roupas, lavadora de louças, sabão de boa qualidade. Temos vida “boa”, se analisarmos apenas este aspecto. Não precisamos mais ficar expostas horas ao sol em trabalhos braçais ou caminhando longas distâncias. Hoje o sol é lazer, preferencialmente com muito filtro solar.



Escolhemos nossos maridos e decidimos se queremos filhos. Não ficamos mais para “titias” se não casarmos, virgindade é algo pessoal e não obrigação. Votamos e somos votadas.



No romance, Balzac destacava algumas “qualidades” da mulher de trinta:

-sabe rir das situações embaraçosas;

-não cede, escolhe;

-experiente, dá mais do que ela mesma;

-a jovem desonra-se sozinha, enquanto a mulher de trinta nunca perde a honra.



Embora eu acredite que os nossos predicativos atuais são importantes para a época atual, é interessante reler a história e ver o que foi deixado para trás e o que ainda carregamos.



Balzac foi o primeiro a tecer críticas severas ao matrimônio: "casada, ela deixa de se pertencer, é a rainha e a escrava do lar”.

Não existem mais mulheres "velhas", balzaquianas ou não. Existem mulheres com a sua beleza, sua história, na sua idade, seja ela qual for. Já fomos libertadas do estigma da idade, não só no físico, mas principalmente em nosso psicológico!



Garanto que se hoje Balzac se deparasse com uma mulher de trinta atual ficaria encantado (depois de refeito do susto) pois hoje com trinta é quando a mulher começa a florescer, de fato!

Rosana Pegoraro

http://www.ruadireita.com/literatura/info/balzaquianas/
Clarissa 08/04/2013minha estante
Eu não achei que ele colocou a mulher de 30 dessa forma... Ele retrata como uma velha mais aos 36


Iaiá 11/02/2015minha estante
Vc sabe dizer quantos anos Helena tinha quando fugiu? E quantos anos a julia tinha quando morreu?




Michela Wakami 22/07/2023

Muito bom
Que livro sensacional, quando você pensa que não terá mais surpresas, o autor te surpreende de novo.
São tantos acontecimentos em tão poucas páginas que nos deixam sem fôlego.

A história de Júlia, veio antes de famosas personagens como Emma Bovary e Anna Kariênina, esse trio são sem sombra de dúvidas, personagens inesquecíveis.
Fabricio268 22/07/2023minha estante
Não achei que fosse gostar tanto. Acho que vou me aventurar nessa leitura também.


Michela Wakami 22/07/2023minha estante
Fui surpreendida, estava meio pé atrás devido a nota dele aqui no Skoob e aqueles alertas que você me deu.
Mas não é que o livro é bom!
Acho que você vai gostar, amigo.




Ariane 09/02/2011

Um brinde às balzaquianas
Por já ter entrado na carreira dos 30, o livro em questão chamou minha atenção.
1- Por ter como carro-chefe a palavra balzaquiana que passou a designar mulheres com 30 anos.
2- Para saber se as aventuras e desventuras da protagonista se associavam às minhas e a de tantas outras balzaquianas do século XXI.

O livro narra a história de Júlia, desde sua mocidade até sua morte. A protagonista é uma garota cheia de sonhos que acaba por casar com seu primo contra a vontade de seu pai, uma vez que ele o julgava indigno de sua filha.
Júlia acaba por se decepcionar com o casamento. Victor, seu marido, era frívolo e sem caráter marcante, cabendo a ela toda a administração da casa.
É aí, onde entram os questionamentos da jovem, que vemos a maestria com que Balzac desvenda o coração feminino.

"Dizia-lhe seu instinto, tão delicadamente feminino, que é muito mais belo obedecer a um homem de talento que guiar um parvo e que uma esposa jovem, obrigada a pensar e a proceder como um homem, não é nem mulher nem homem, abdica de todas as graças do seu sexo sem perder seus desgostos nem adquirir nenhum dos privilégios que as leis conferiram aos mais fortes. A sua existência ocultava uma irrisão bem amarga. Não era ela obrigada a honrar um ídolo oco?"

Numa leitura superficial encontramos a descrição de uma literatura de costumes "a la José de Alencar", mas analisando a profundidade dos sentimentos, vemos uma profunda análise do coração feminino, no melhor estilo machadiano.



Nani Freitas 08/03/2014minha estante
Da proxima vez faz a resenha do livro sem contar o final tá?


Ariane 20/10/2014minha estante
O final foi contado? oi? kkk




Lucas 17/12/2018

As amarguras de uma vida insalubre
Poucos autores na história da literatura foram capazes de usar da psicologia em suas obras como Honoré de Balzac (1799-1850), o maior escritor francês de todos os tempos (pelo menos se for analisada a quantidade e profundidade de suas obras). Por mais que essa afirmação venha a ser contestada, uma coisa é fato: nenhum outro escritor foi capaz de equilibrar tão bem o romantismo em si (ou um estilo mais descritivo e reflexivo de narrar) com nuances internas dos personagens ou do contexto histórico em que a obra em questão se passa.

A produção literária de Balzac é extensa como a de nenhum outro autor: A Comédia Humana, a "enciclopédia" da sua carreira, é composta por incríveis 95 romances e outros contos menores. Conhecer todos eles em sua composição individual é uma aventura que demanda anos, até mesmo para leitores mais compulsivos. Como ela objetiva descrever a sociedade francesa pós-revolução (século XIX), A Comédia Humana é dividida em três segmentos principais: estudos de costumes, estudos filosóficos e estudos analíticos, cada um contendo dentro de si diversas subdivisões que visavam agrupar as obras com temáticas razoavelmente parecidas.

A Mulher de Trinta Anos (1842) está situada no segmento mais "romanceado" d'A Comédia Humana: os estudos de costumes, na categoria cenas da vida privada. Tal classificação já de cara é capaz de delinear a abrangência (especialmente psicológica) trazida por seus escritos. A obra trata da trajetória de Julie (ou Júlia, dependendo da tradução), jovem e encantadora parisiense que, no início da narrativa (1812), possui 14 anos. Suas dúvidas e paixões de menina recém-colocada na alta sociedade da época são descritas com louvor; inicialmente com a influência do seu pai, na observância de possíveis "pretendentes" que acaba por culminar no precoce amadurecimento da protagonista.

Posteriormente, Julie d'Aiglemont (sobrenome de casada), já adulta, enfrenta as agruras ocasionadas por um amor impossível: a descrença, o desânimo, a falta de perspectiva e a questão da honra, tão relevante naquela época em detrimento de outros sentimentos mais importantes, como a felicidade. Sua trajetória desde então é marcada por vários acontecimentos nefastos, nas quais podem ser apenas (para que se evitem spoiler's) descritos como desoladores e tocantes. É nítida, nesses momentos, a influência narrativa que o livro exerceu sobre Anna Kariênina (1877), umas das melhores obras de Liev Tolstói (1828-1910), que, se tinha mais de um núcleo narrativo, foi igualmente sublime na descrição dos elementos opressivos que se abarcam na mulher em um casamento desgastado e doentio.

O fato de estar categorizado em cenas da vida privada dentro d'A Comédia Humana não torna a narrativa d'A Mulher de Trinta Anos menos crítica que as outras da "enciclopédia" em relação às hipocrisias sociais. Aqui, os apontamentos de Balzac são mais localizados na figura de Julie, mulher rica da alta sociedade que enfrenta e pratica muitas dessas incongruências sociais. Dista de forma considerável de Ilusões Perdidas (1843), que, por estar inserido em cenas da vida provinciana (outra categoria dos estudos de costumes) é bem mais abrangente no que tange em descrever e criticar os sensíveis defeitos da sociedade francesa do início do século XIX, em especial na falsidade que havia em praticamente todos os cantos de uma "societé" que se autodenominava evoluída.

Outro ponto que singulariza a narrativa d'A Mulher de Trinta Anos é o olhar do narrador, que sempre inicia seus capítulos a partir de um local ou de algum ponto de vista comum e vai generalizando até chegar ao núcleo da protagonista. Nestes momentos, Balzac inclusive aproveita para mencionar outros personagens de seus livros, que atuam de uma forma indireta sobe Julie e seu círculo, esclarecendo acontecimentos ocorridos dentro da cronologia da obra e que não são detalhados diretamente. Como a narrativa não é cronologicamente definível e avança irregularmente (terminando no ano de 1844), determinados personagens (inclusive o próprio narrador onisciente) se relacionam com a protagonista e, nessa relação, muitos pontos do passado de Julie que não aparecem diretamente na obra vão sendo desnudados. Trata-se de uma forma genialmente criativa de amarrar pontas soltas e de mencionar outros elementos d'A Comédia Humana, o que deve ter sido a verdadeira justificativa do escritor para tal atitude.

Em termos mais práticos dentro do contexto social da época, é grande a contribuição de Balzac, que fez de Julie o chamado modelo de "mulher balzaquiana". Tal rótulo está longe de ser um defeito feminino, pois o autor tratou de endeusar, não só em termos de maturidade, mas também de beleza física, a mulher que chega a casa dos trinta anos, que, à época, já era vista quase como uma anciã. Naquele tempo, as mulheres que não se casassem por volta dos vinte anos de idade não possuíam um futuro favorável pela frente: por meio de um comportamento ridículo (mas que era normal no início do século XIX), a sociedade deixava de lado essas mulheres, que, segundo Balzac, estavam no seu "ápice poético" da existência. São diversos os momentos em que o autor toma partido dessas mulheres, solteiras e também as mais velhas, que possuem muitos atributos que outras que estão na "flor da idade" estão longe de desenvolver.

A Mulher de Trinta Anos traz todas as características que fazem de Balzac único. É uma narrativa crua, mais informativa que emocionante, com um desfecho bem previsível e que atinge em cheio o objetivo central de todas as obras do autor: a desnudação de uma sociedade francesa corrompida e infestada de hipocrisia, materialismo e futilidades especialmente nas classes superiores, dominantes após a restauração da monarquia francesa em 1814. Tais características são o insumo principal para a história de Julie d'Aiglemont, cujas tragédias derivam, de uma forma indireta, de um círculo social baseado em relações promíscuas e quase sempre desprovidas de sentimento.
Manuella_3 20/12/2018minha estante
Feliz aniversário, Lucas! Saúde, paz e boas leituras.


Lucas 20/12/2018minha estante
Agradecido Manuella, ótimas leituras para você também. :D




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