Aline 08/07/2020
Muitas pontas soltas...
A mulher de trinta anos ficou bastante famosa no Brasil pelo seu título chamativo e a partir da obra criou-se até a expressão balzaquiana. Mas esse não é o melhor livro de Balzac, segundo os críticos. Imagino que muitas pessoas idealizam encontrar nesse livro uma heroína sagaz e destemida e acabam por abandoná-lo um tanto frustradas. É que a protagonista, sinto informar, é chata.
Júlia, a personagem principal, não encontrou realização no casamento e na maternidade, que era tudo que a vida em sociedade reservava para uma mulher de sua época, e por isso vive em profunda depressão. Essa foi a grande inovação de Balzac: ao invés de escrever sobre românticas mocinhas que sonhavam em se casar, quis falar sobre uma mulher madura e triste após o felizes para sempre. O autor fez isso antes de Flaubert criar Madame Bovary e Tolstói escrever Ana Karênina, outras clássicas protagonistas tristes. A mulher de trinta anos faz parte de um conjunto de romances, novelas e contos chamado de A comédia humana, em que Balzac descreve a sociedade francesa da primeira metade do século XIX, e por isso, o autor é considerado o pai do realismo.
Dada a importância da obra, devo confessar que encontrei alguns problemas na história. Quando começamos a ler um texto ficcional, fazemos um pacto com ele do tipo: você me conta a história e eu acredito nela. Mas não é qualquer coisa que o leitor engole. É preciso que o autor forneça fundamentos para a história, e Balzac não fornece. A tristeza e o sofrimento de Júlia nunca são bem explicados, ela só sofre, sofre, e a falta de entendimento dificulta a conexão do leitor com a personagem. Alguns personagens aparecem sem explicação ou somem sem desfecho ou justificativa. A história se arrasta por bastante tempo e depois dá saltos enormes no tempo, causando estranheza. No último terço do livro, a mudança no enredo é tão brusca que a sensação é de estar lendo outro livro! Balzac escreveu esse romance de forma fragmentada ao longo de treze anos, talvez isso explique esses problemas de continuidade...
Por fim, apesar da boa vontade de Balzac em tentar descrever a alma feminina, o texto não te deixa esquecer que é sempre um homem falando de uma mulher. Assim, os elogios para a mulher mais madura são sempre em detrimento da mulher mais jovem. Há sempre esse tipo de comparação. Além disso, enquanto a mulher é considerada uma senhora no auge da sua maturidade com trinta anos, um personagem masculino da trama com os mesmíssimos trinta anos é considerando um rapaz ainda muito jovem. E parece que o remédio para a depressão e todos os problemas de Júlia seria só um: um homem!
Bem, depois de todos os problemas relatados, você pode achar que eu não gostei do livro, mas sabe que eu gostei da experiência? Gostei de conhecer um pouco do autor que eu nunca havia lido, de entrar em contato com a história por trás do livro...mas entendo que nem todo mundo terá o mesmo interesse pois não é uma história gostosa de ler. Assim, é uma leitura que eu recomendo se seu interesse por literatura vai além da história.