amanda 07/02/2023
O fascínio com a lenda de Arthur
Arthur e seus cavaleiros despertaram o interesse de muitos autores e leitores através dos séculos. Como parte do nosso imaginário nos dias de hoje, o interesse pela figura de Arthur foi aceito como fato histórico por alguns e elevado a herói mítico por outros. Essa pluralidade de abordagens às lendas requer tanto atenção acadêmica quanto no mundo literário.
Alguns estudos acusam um padre de Worcestershire como um dos primeiros escritores a recontar as lendas de Arthur, esse padre então teria profetizado no início do século XIII histórias acerca do lendário rei e suas conquistas e feitos heróicos, que mais tarde se tornariam uma fonte inesgotável para contadores de histórias até o fim dos tempos. Mal sabia o padre o quão correta estava a sua profecia, já que até os dias de hoje, mais de oitocentos anos depois, o Rei Artur e outros personagens de sua corte ainda figuram em inúmeras mídias: romances, poemas, peças de teatro, óperas, filmes, histórias em quadrinhos, pinturas, séries de televisão.
Howard Pyle não é o primeiro a escrever sobre o mito Arturiano, a estética de seu livro é repleta de cavaleiros com armaduras brilhantes, fadas, festas, torneios, justas...muito mais colorido do que um verdadeiro contexto medieval; seus personagens são por muitas vezes oque chamamos de estéticos, não possuem arcos de evolução e suas dificuldades e adversidades são resolvidas de forma muito simples: nada que uma justa não de conta; assim como as implicações morais que ao tempo todo aparecem no livro de uma maneira pedagógica, tudo isso faz com que esse livro tenha um aspecto extremamente infantil.
Pyle é um escritor do século XIX, sendo assim, sua escrita é recheada dos principais movimentos, mas mais importante que isso, a transição do XVIII para o XIX é marcada de importantes revoluções e acima de tudo, uma ascensão burguesa que trouxe mudanças nos paradigmas sociais, bem como um grande aumento de romances históricos. É com isso em mente que Pyle escreve sua versão do mito arturiano, movido por um sentimento de "justiça", Pyle fez parte dos escritores que tentaram retratar uma outra Idade Média, uma que tentasse limpar a imagem que anteriormente havia sido construída da mesma de uma idade das trevas, porém, mesmo que tivessem trazido aos olhos das pessoas que sua visão do período estava equivocada, escritores como Pyle infelizmente reduziram os séculos V e XI a novos esteriótipos: como o do guerreiro nobre que morre pelos seus ideias, da donzela manipuladora, de um povo ignorante, e o de maior repercussão até hoje, magia.
É claro que não cabe a Pyle ser historicamente correto, afinal ele é um romancista e muito se discute e origem das lendas de Arthur, porém, os pontos que levantei acima atrelados a forma com que o autor conduz a história me levam a concluir que o texto de Pyle não é nem de longe uma boa forma de contato com o mito arturiano.
Por fim, acredito que o melhor produto literário para querer conhecer as lendas é (e talvez para sempre seja) As Brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley, ou, se você estiver procurando um texto mais antigo, sugiro o A Morte de Arthur de Sir Thomas Malory.