Luis Netto 17/05/2011
A Lista de Schindler
Na década de 30, o mundo conheceu uma das ideologias mais violentas que já se teve notícia no mundo: o nazismo. Idealizado pelo austríaco Adolf Hitler, o nazismo era um movimento antidemocrático que visava conter o avanço comunista (decorrente da vitória socialista na Revolução Russa) e reerguer a Alemanha, após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. Através dessas propostas, o nazismo ganhou força, conquistando milhares de alemães. Mas, no decorrer de sua atividade, o nazismo foi mostrando realmente seu objetivo: erradicar judeus, comunistas, homossexuais, entre outros que poderiam colocar em risco o objetivo principal de seu doente líder: a supremacia da raça ariana.
Hitler perseguia os judeus com a justificativa de que eles foram responsáveis pela derrota alemã na Segunda Guerra. Além dos judeus, foram perseguidos homossexuais, comunistas, negros, testemunhas de Jeová, deficientes e opositores à ideologia nazista. Para abrigar todos os prisioneiros do regime, foram construídos campos de concentração onde os prisioneiros eram torturados, humilhados e mortos. As condições eram péssimas, alguns prisioneiros morriam de fome ou de doenças adquiridas no local. A execução se dava através de fuzilamento ou câmara de gás. O mundo assistia a essas execuções de forma neutra. Hitler, livre para matar, ordenou a aniquilação de mais de sete milhões de pessoas, inaugurando o Holocausto.
O campo de concentração mais conhecido é o de Auschwitz, na Polônia. Possuía várias câmaras de gás e fornos crematórios, onde os corpos eram incinerados. Sobreviventes do Holocausto dizem que uma fumaça negra pairava sobre o campo e o cheiro de morte tomava conta do local. Em 1945, a Segunda Guerra chegava ao final. Hitler, derrotado, suicidou-se, assim como sua esposa. Os campos de concentração foram desmantelados e os presos liberados. O mais famoso, Auschwitz, foi libertado por meio da operação militar Vistola-Oder, realizada em janeiro de 1945 pelo exército soviético.
“A Lista de Schindler” do autor australiano Thomas Keneally, retrata a história de Oskar Schindler que vivenciou todo o Holocausto, período que marcou toda a história mundial.
Oskar Schindler, um antigo militar polonês, bem relacionado com a SS, progride rapidamente nos negócios ao se apropriar de uma fábrica de panelas, após o decreto que proibia aos judeus serem proprietários de negócios.
Oskar Schindler nasceu em 28 de abril de 1908 em Zwittau na Morávia. Filho de um industrial bastante rico, ele cresceu numa família muito religiosa.
A sua família de classe média católica pertencia à comunidade que falava alemão nos Sudetos. O jovem Schindler, que estudava engenharia, esperava ser algum dia igual ao seu pai e tomar conta da fábrica de máquinas agrícolas. Casou-se aos dezenove anos com Emilie Schindler depois de seis anos de namoro. Logo após, Schindler tornou-se alcoólico e começou a trair a sua mulher, tendo resultado no nascimento de duas crianças de outra mulher.
Alguns dos colegas e vizinhos amigos de Schindler eram judeus, mas ele não estabeleceu nenhuma amizade íntima e duradoura com nenhum deles. Tal como muitos dos jovens que falavam alemão dos Sudetos, ele inscreveu-se no partido alemão Konrad Henlein’s Sudeten, e mais tarde no partido nazista, depois da anexação alemã dos Sudetos em 1938.
Schindler ficou desempregado quando os seus pais perderam o respectivo negócio durante a grande depressão, tendo ido para Cracóvia, na Polônia, onde encontrou emprego como vendedor de máquinas.
Pouco depois do inicio da guerra em Setembro de 1939, Schindler com 31 anos de idade foi para a ocupada Cracóvia. A cidade continha cerca de 60.000 judeus e sob a administração alemã, a Generalgouvernement, provou ser muito atrativa para os empresários alemães, que desejavam capitalizar as adversidades existentes no país ocupado.
Com muita naturalidade, Schindler apareceu, a principio, para alcançar algum sucesso por aqueles lados. Em Outubro de 1939, apropriou-se de uma fábrica até então de propriedade de um judeu. Como resultado de algumas manobras — através o conselho comercial de um contabilista judeu polonês, Itzhak Stern, Schindler começou a construir a sua própria fortuna.
Em Zablocie, arredores de Cracóvia, uma pequena fábrica de equipamento de cozinha para o exército alemão começou a crescer. Em apenas três meses, a fábrica já empregava cerca de 250 polonês, incluindo sete judeus. No final de 1942, a fábrica expandiu-se para a produção de munições, ocupando cerca de 45.000 m² e empregando quase 800 homens e mulheres. Destes, 370 eram judeus do gueto de Cracóvia, estabelecido pelos alemães depois de terem entrado na cidade.
Desde cedo que Schindler adotou um estilo de vida extravagante, divertindo-se à noite na companhia de altos oficiais das SS, e na companhia de uma mulher polonesa bastante bonita. Até certa altura dos acontecimentos, o que o colocou longe dos benefícios da guerra foi o tratamento humano para com os seus trabalhadores, nomeadamente para com os judeus.
Schindler se valeu de sua fortuna crescente para "comprar" membros da Gestapo e dos altos escalões nazistas com bebida, mulheres e produtos do mercado negro. Seu afiado senso de oportunidade o levou a contratar Itzhak Stern,um contador judeu, mais barato do que um profissional polonês. Com o argumento de que os trabalhadores judeus representavam uma lucratividade maior para o negócio, Itzhak Stern convenceu Schindler a fazer destes 100% da força de trabalho empregada em sua fábrica. Com o tempo, famílias judias passaram a trocar suas reservas financeiras por postos de trabalho, permitindo que os negócios crescessem ainda mais.
A guerra ganhou proporções maiores e Hitler lançou a campanha de "Solução Final", que acabava definitivamente com os guetos, transferindo toda a população judia para os campos de concentração e assim executando todos.
Amon Goeth foi o comandante de um desses campos e um dos amigos mais próximos que Schindler teve entre os oficiais da Gestapo. Quando os trabalhadores de sua fábrica começaram a ser transportados para o campo de Plaszóvia, depois de muita negociação Schindler convenceu Goeth a colocá-los num ambiente separado dos outros, um lugar onde ficassem mais protegidos.
Em maio 1940, os alemães começaram a expulsar os judeus de Cracóvia para o campo vizinho. Em março de 1941, a maioria dos judeus havia sido enviada para o campo. Somente 15.000 judeus ainda estavam em Cracóvia. Os alemães requisitaram o estabelecimento de um gueto, situado em Podgorze, no sul de Cracóvia, melhor que em Kazimierz, o quarteirão judeu tradicional da cidade e neste espaço foram concentrados os judeus restantes de Cracóvia. Quase 20.000 judeus foram confinados neste local que foi cercado por arame farpado e por um muro de pedra. Bondes viajavam através do gueto mas não faziam nenhuma parada lá dentro.
Os alemães estabeleceram diversas fábricas dentro do gueto, entre elas a Optima e as fábricas de Madritsch, onde judeus eram usados para trabalho forçado. Centenas de judeus também foram empregados em fábricas e projetos de trabalho forçado fora do gueto.
Em março de 1942, os alemães prenderam aproximadamente 50 intelectuais no gueto e deportaram eles para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Na segunda metade de 1942, os alemães deportaram por volta de 13.000 pessoas do gueto. Durante as deportações, Plac Zgody e a fábrica Optima foram os pontos de conjunto principal. A maioria dos deportados foram enviados pra o campo de extermínio de Belzec. Alguns foram enviados para Auschwitz, que estava a apenas 64 Km de Cracóvia. Centenas de pessoas foram executadas durante as deportações do gueto.
Em março de 1943, os alemães destruíram o gueto de Cracóvia. Mais de 2.000 pessoas foram deportadas para Auschwitz-Birkenau e assassinadas. O resto da população do gueto foi deportada para o campo de Plaszóvia.
Numa determinada noite, passando perto de um dos parques de Cracóvia, Schindler assistiu à invasão do gueto da cidade. Dias mais tarde, ele acompanhou uma ida de Goeth ao campo de concentração e assistiu às instruções que este recebeu para cremar os cadáveres dos mortos no massacre do gueto.
Schindler e o contador passaram a noite a digitar os nomes das famílias que seriam transportadas para a Tchecoslováquia ao invés de irem para Auschwitz. Para cada um dos 1.100 nomes que comporiam a lista, Schindler viria a pagar um boa soma de dinheiro a Goeth, que tomaria as medidas necessárias para o que o desvio de rota fosse bem sucedido.
Schindler fundou a fábrica de utensílios de cozinha Emalia para enriquecer com a guerra. Nela empregou entre 1939 e 1944 muitas centenas de judeus. Eram a sua força de trabalho, empregados especializados, mesmo que não o fossem, não deixavam de ser escravos. Pensou, durante algum tempo, que bastava aos seus judeus e aos outros manterem-se saudáveis para chegarem ao fim da guerra vivos. Percebeu que não, depois percebeu que iam morrer todos e usou a fortuna que ganhara com eles para salvar alguns. Mais de mil. Schindler escreveu os seus nomes numa lista e deu-lhes vida.
“A lista de Schindler” sem duvida um livro fantástico que procura resumir o que foi o Holocausto visto por dentro dele. Thomas Keneally se mostrou um autor extraordinário.
Recomendo a todos.