spoiler visualizarSergio330 18/10/2022
Errar é humano. Flanar é parisiense
Já li livros de terror de me darem pesadelos. Pesadelos, que, porventura esqueci. Mas nada me aterrorizou mais que o desamparo desse livro. Victor Hugo surpreende, machuca onde você nunca achou que ia doer. É desesperador a gente pressentir o destino dos personagens. No entanto, sabe-se muito bem o que irá vir, pois apesar de ser uma ficção, aquelas pessoas existiram. SABEMOS que sim, podem não ter o mesmo nome, mas são xarás na alma. Dói, é desesperador. O floco de esperança que Victor Hugo dá sobre o futuro é também muito tocante. Apesar de sabermos que tudo que ele propôs, tudo que ele resolveu, na esperança de um mundo melhor, aquilo não se realizou. Victor Hugo pode não ter morrido miserável, mas 500 anos depois mostra-nos, com tamanha tristeza, isso sei, que hoje continuamos do mesmo jeito. Peço desculpas ao autor, e o agradeço, pois, se Deus em algum lugar, há de ser absolutamente justo, ele criou o paraíso para Jean Valjean. Só ele foi digno, espero que hoje ele e sua Cosette estejam felizes como sempre mereceram.
O livro, ainda por cima, consegue atar todos os pontos da miséria humana, nem no segundo plano há um clarão sobre inidôneas esperanças perfeitas. Ver o final de Azelma não dói, mas de Thenardier revolta, machuca, sangra. A dor de um Jean Valjean, que foi preso 19 anos por roubar um pedaço de pão, é uma espécie de dor revoltante, e não é sem revoltas que muda-se o mundo. Entretanto, a dor de um Thenardiér é asquerosa. Pensar em um ser como esse atormentaria até o maior vilão de Stephen King.