Polly 28/07/2022
Os Miseráveis: favorito da vida (#174)
Li uma adaptação para crianças de Os Miseráveis quando eu tinha uns doze anos. Lembro de ter terminado a história aos prantos. Foi a primeira vez que um livro tinha me feito chorar. Nunca tinha imaginado que os livros fossem capazes de nos fazer algo do tipo. Mas, em um desses mistérios do nosso cérebro, a história havia sido apagada da minha memória ao longo desses tantos anos. Só a impressão da história ser muito boa e emocionante me tinha restado.
2022 foi o ano de reencontrar essa história e de finalmente bater o martelo de que esse é um dos meus livros favoritos da vida. Como aos 12, aos 29 anos eu também terminei Os Miseráveis aos prantos, mesmo eu jurando de pé junto que isso não aconteceria dessa vez (foi vergonhoso de se ver, sic). Posso afirmar com toda a certeza que nenhuma história me tocou tanto na vida, e ele só não ganha o título de "O" favorito da vida porque com O Morro dos Ventos Uivantes é difícil de disputar, né?
As aventuras de Jean Valjean e companhia tem um quê de uma trama rocambolesca, isso é um fato, não dá para negar. No entanto, a escrita de Victor Hugo é épica e fala de assuntos universais, sentimentos que atingem a todos nós. A despeito das improbabilidades de toda a história, seus personagens são palpáveis, reais. Fantine, D. Bienvenue, Cosette, Marius, Javert, o próprio Jean Valjean, todos eles poderiam muito bem ser protagonistas das histórias reais que vemos e ouvimos por aí todos os dias. Eles sentem como a gente, quase pululam do papel enquanto lemos de tão "vivos".
Outro ponto que me faz gostar muito de Os Miseráveis é a vertente social da história. Victor Hugo coloca como protagonistas personagens que a sociedade trata como seres invisíveis, insignificantes. O ex-presidiário, a prostituta, o velho, a criança em situação de rua, o trambiqueiro, o funcionário público, enfim, todos eles, sejam como mocinhos ou vilões, fazem a história girar com importância hercúlea. Os problemas dos pequenos, que na minha humilde opinião são muito mais urgentes e importantes que os dos "grandes", ganham em Os Miseráveis o destaque, que mais que merecem, o destaque de que precisam.
Quero ainda destacar um dos melhores "vilões" que já vi na minha vida: Javert. Minha nossa, que personagem bem construído! Victor Hugo não se acomoda naquele lugar comum, o de um vilão sádico e malvado. Javert não é intrinsecamente uma pessoa má, ele é comum. Javert acredita em algo e luta por isso, e é só isso. Jean Valjean não é um antagonista para ele, é só alguém que desobedeceu à autoridade do Estado e precisa responder por isso. O final do personagem foi uma das cenas que mais mexeram comigo. Incrível!
Enfim, sou suspeitíssima para falar de Os Miseráveis. O livro tem T-U-D-O o que me agrada e eu poderia passar horas falando sobre ele, mas no século XXI pouquíssimas pessoas tem tempo de ler pouco mais do que algumas palavras, não é? Tenho que encerrar por aqui mesmo. Se não, esse texto acaba ficando extenso demais. Mas, se puder e quiser, embarque nas aventuras de Jean Valjean e depois vem me contar o que achou. Embora o tamanho da obra assuste um pouco, posso te garantir que vale a pena demais! É aquele tipo de livro que não dá para largar.