Gisele Gusmão 12/06/2022
Os miseráveis, Victor Hugo
Como o próprio Victor Hugo diz sobre Os miseráveis: “O livro que o leitor tem sob os olhos neste momento é, do princípio ao fim, no seu conjunto e nos seus pormenores, sejam quais forem as intermitências, as exceções ou os desfalecimentos, a marcha do mal para o bem, do injusto para o justo, do falso para o verdadeiro, da noite para o dia, do apetite para a consciência, da podridão para a vida, da bestialidade para o dever, do inferno para o céu, do nada para Deus. Ponto de partida: a matéria; ponto de chegada: a alma. Hidra no princípio, anjo no fim” (Parte 5. Jean Valjean, Livro primeiro, Capítulo XX). O livro trata de injustiças, fome, miséria, abandono de crianças e luta contra as injustiças, tendo como pano de fundo Paris das várias revoluções pós-Revolução Francesa. Jean Valjean acaba de sair da prisão onde ficou por dezenove anos de trabalhos forçados por ter roubado um pão para dar aos seus sobrinhos que estavam passando fome. Ao chegar em Digne não encontra lugar para comer e dormir por ser um ex-condenado e é aconselhado a procurar abrigo na casa do bispo. Nos anos de trabalhos forçados Jean Valjean se transformou num homem sem esperanças, mas o encontro com o Bispo transformou toda sua trajetória e precisou de esconder sua identidade para continuar vivendo em paz. Durante a trajetória de Jean Valjean várias personagens com suas histórias são apresentados ao leitor tais como Fantine, Cosette, Marius, que são os títulos de três das cinco partes em que o livro é dividido, e Javert um policial que o perseguiu por muitos anos. O livro tem alguns momentos de digressões que pode desanimar o leitor, mas vale a pena persistir. O livro escrito no século XIX ainda é muito atual em vários pontos dos quais destaco:
- Sobre a importância da educação e ciência: “Quero dizer que o homem tem um tirano, a ignorância. É pela morte desse tirano que dei o meu voto, desse tirano que inventou a realeza, autoridade nascida da mentira, enquanto a ciência é a autoridade que surge da verdade. O homem deve ser governado pela ciência” (Parte 1. Fantine, Livro primeiro, Capítulo X). “A verdadeira divisão da humanidade é esta: os que possuem a luz e os que só têm trevas. Diminuir o número dos últimos, aumentar o número dos primeiros, eis a verdadeira finalidade das coisas. É por isso que gritamos: — Ensino! ciência! — Aprender a ler é iluminar com fogo; cada sílaba é uma centelha” (Parte 4. O idílio da Rue Plumet e a epopeia da Rue Saint-Denis, Livro sétimo, Capítulo I).
- Distribuição de riqueza: “Por boa distribuição é preciso entender não distribuição igual, mas distribuição equitativa. A primeira igualdade é a equidade” (Parte 4. O idílio da Rue Plumet e a epopeia da Rue Saint-Denis, Livro primeiro, Capítulo IV).
- Sobre a miséria: “É que, com efeito, quem só viu a miséria do homem nada viu; é preciso ver a miséria da mulher; quem só viu a miséria da mulher nada viu; é preciso ver ainda a miséria da criança” (Parte 3. Marius, Livro oitavo, Capítulo V).