spoiler visualizarVitória Flôres 25/05/2021
Por menos senhoras assim
A juventude faz embarcar no amor muitos adolescentes desavisados, pois junto desse sentimento tão arrebatador, vem a decepção dos não amados. Infelizmente, isso ocorreu com nossa Aurélia, logo após ceder aos encantos de Fernando Seixas. Em príncipes encantados ela não acreditava, mas via nele a bondade e simpatia que ela tanto procurava. Doce ilusão, ao ver seu amado indo de encontro ao dote de um casamento arranjado, contrariando os princípios de nossa, inicialmente, heroína; porém, representando muito bem o caráter e as intenções do coletivo masculino da época - o que nada nos surpreende.
Com seus pensamentos e ideais opostos aos da sociedade revoltante da época, Aurélia conquista qualquer leitor despreparado. Contudo, o coração desses se parte, ao perceber que sua riqueza em pensamentos, se molda a sua nova vida financeira. A mulher sábia, bela e imperfeita, se torna a formosura utópica em pessoa, com uma futilidade que oculta seus iniciais princípios, agora substituídos pela vingança. Ao comprar seu amado, não o torna apenas seu marido, mas seu escravo, lembrando-o a todo momento da ganância que ele cultivava no passado.
E então surge a Senhora – com um som aberto em “ó” –, que define de maneira clara a nova Aurélia, a diferenciando das demais senhoras da sociedade – agora com uma pronúncia grave em “ô”. A distinção entre elas é que “senhóra” era a denominação daquelas que eram proprietárias de algo, como a moça era de seu marido. Ele mesmo explica isso em um diálogo com a esposa, no qual ela questiona o porquê a chama desse modo: “Essa é, creio eu, a verdadeira pronúncia da palavra; mas nós, os brasileiros, para distinguir da forma cortês a relação de império e domínio, usamos da variante que soa mais forte e com certa vibração metálica. O súdito diz à soberana, como o servo à sua dona, senhóra.”
Durante toda a obra, de forma muito detalhada, cada movimento e sentimento é descrito. O cansaço que isso gera é, algumas vezes, revertido com assuntos distintos do restante da obra, dentre eles há a citação de Diva, na qual Aurélia defende o amor vivido pela personagem principal; e falas sobre o suicídio e seus males.
As reviravoltas de sentimentos que ocorrem durante toda a trama, fazem do final, uma incógnita e, com o término, uma decepção. Ao, enfim, tirar a carranca de vingança, Aurélia incorpora a pior das mulheres românticas, ao implorar o amor de Fernando. De todas as atitudes, que tinham a intenção de destacá-la em meio às demais moças, essa a fez desaparecer. A nossa heroína acaba por se tornar uma jovem qualquer, que se apaixona, se ilude e nos engana.