spoiler visualizarC4io99 26/03/2023
O absurdo...
Olha, tem bastante coisa pra falar desse livro, mas eu vou me abster dos detalhes e contar somente alguns pontos que achei interessante pra não me prolongar muito.
O livro é um ensaio acerca do que o Camus chama de "absurdo", tentando entender a natureza e consequências desse tal conceito.
Creio que posso dizer que o absurdo é uma percepção, ou seja, não é um fato a ser aceito, uma verdade a ser imposta, ou um simples conceito criado, mas sim uma constatação, que acredito já ter sido experienciado na vida de quase todos. O absurdo nada mais é do que a revelação da natureza cruel e indiferente da vida, do soco na cara cosmológico que recebemos no dia a dia, e que só damos atenção que o soco vem forte.
A priori, o absurdo se apresenta como um problema a ser resolvido, como se houvesse algo faltando, esperando para ser preenchido. Entretanto, Camus nos abre o olho pra tentar entender que talvez não seja bem assim. Para Camus, o absurdo é mais do que um problema, é uma oportunidade, se tivermos alguma chance de sermos livres, essa chance está no absurdo.
O interessante é que Camus se afasta da religiosidade, (se diferenciando de Kierkegaard) bem como de ideologias políticas. (se afastando do marxismo em Sartre) Para ele, tais formas de ver o mundo nos distanciam das vantagens de percebermos o absurdo.
Para um homem religioso, sua religião determina o seu sentido, logo, pode sim viver uma vida mais leve, ao mesmo tempo que mais covarde, pois, acreditar num ser divino e absoluto que "anula" o absurdo (não de forma única, pois é possível existir um cristão absurdo) não resolve o problema, mas sim o desvia, tenta o esquecer.
Ideologias políticas, por sua vez, anulam a liberdade do homem absurdo, que, por seu caráter absurdo, nega escalas de valores, logo, seria um contrassenso tal figura possuir uma ideologia com valores pré-concebidos que o limitam numa determinada forma de agir diante do seu absurdo.
O que o Camus propõe como forma de lidar com o absurdo é o que ele chama de "Revolta Consciente", que consiste em lutar incessantemente contra esse absurdo, desrespeitando o seu caráter indiferente. Portanto, diferente do que se pensaria a respeito do absurdo, Camus não nos indica uma reconciliação com a vida, a construção de um sentido ou a fé em algo que dê sentido à morte. O homem absurdo reconhece seu destino e luta, mesmo sabendo que a batalha já está perdida, por um ato de teimosia e rebeldia. O homem absurdo não tem esperança, nem idealizações, nem se vê como um f#dão afirmador de si, (como era o Übermensch de Nietzsche) pois ele não precisa de um motivo pra lutar, e justamente essa falta de motivo que o faz querer continuar lutando.