Iza 19/10/2021
O Fantasma da Ópera
?So me faltou ser amado para ser bom?
O fantasma da ópera me impressiona há muito tempo e desde que vi o musical pela primeira vez, sou fascinada pela sua história. Pense comigo: é um triângulo amoroso entre uma cantora da ópera, um visconde e uma figura desconhecida e deformada que muitos alegam ser um fantasma que mora no subterrâneo da ópera de Paris. Não tem como ser ruim, é no mínimo muito interessante. Há um romance com triângulo amoroso, perseguição, rapto, uma história que fala de um ser excluído e marginalizado, e de como o mundo pode cortar as asas dos mais explêndidos gênios. Essa é a história do fantasma da ópera.
Começando pelo conteúdo do livro, achei muito interessante a forma como Leroux o escreveu levando-nos a crer que o fantasma de fato existiu. Os acontecimentos são relatados sob o ponto de vista de um historiador/jornalista e é com essa passagem que começa o livro:
?Em que o autor desta obra singular revela ao leitor como se convenceu de que o Fantasma da Ópera existiu de verdade?
Várias vezes eu me peguei pensando se essa figura tão cativante como o fantasma poderia realmente ter existido, principalmente porque durante o livro, o autor coloca acontecimentos históricos que poderiam facilmente terem sido obras dele. A forma como ele nos leva a crer isso é impressionante. Amo como o livro traz outras histórias consigo, que se complementam com a do fantasma e servem como base para dar continuidade a história.
?(...) Sim, embora tivesse o aspecto de um verdadeiro fantasma, isto é, de uma sombra, ele foi todo carne e osso?
Especificando os personagens, eu diria que Erik é uma das figuras mais cativantes que vi em toda minha vida. O fantasma da ópera, o anjo da música, o mago dos alçapões, um mero professor de canto, um assassino, um artista, compositor, um monstro, um Don Juan, o príncipe dos estranguladores, o rei dos mágicos, um gênio... Erik, apenas Erik. É assim que o fantasma é descrito durante o livro e quando penso nele não consigo tirar de mim este triste sentimento do que ele poderia ter se tornado se, em outras circunstâncias, a vida e a sociedade o tivessem abraçado. Quantas obras de grande sucesso ele poderia ter feito? Quantas arquiteturas inimagináveis e truques de mágica?... Tudo isso foi posto de lado pelo simples fato dele ser deformado, isso me entristece. - Falo como se ele tivesse existido, pois quantos Eriks não existem nesta situação?
?Pobre e infeliz Erik? Devemos lastimá-lo? Amaldiçoá-lo? Ele só pedia para ser alguém como todo mundo! Mas era demasiado feio! E foi obrigado a esconder seu gênio ou usá-lo para executar truques, ao passo que, com o rosto comum, teria sido um dos mais nobres da raça humana! Possuía um coração no qual cabia o império do mundo e no fim viu-se obrigado a se contentar com um porão. Com efeito é digno de pena o Fantasma da ópera!?
Sobre o romance em si, hoje podemos considerá-lo bem abusivo. Tanto entre Christine e Erik, quanto o de Christine e Raoul, na minha opinião. Mas o romance não é a parte mais interessante neste livro e não tocante a este ponto, penso no que a figura de Christine representa ao pobre Erik: o belo que ele queria ter em si.
?Erik projeta na cantora uma amálgama do belo - uma junção de beleza física beleza artística e beleza da alma? - Christine (...) também tem uma parte do seu coração dedicada a Erik, com quem constrói um relacionamento que hoje não teríamos problemas em chamar de abusivo, marcado pela chantagem, pela violência emocional e até por um sequestro, vale lembrar.
Comparando o livro com o musical, não gostei de algumas modificações que foram feitas, embora compreendo que foram necessárias para que o musical não ficasse muito longo - se bem que sempre que assisto, fico com aquele gostinho de quero mais, então quem sabe isso resolveria os meus problemas? - Brincadeiras à parte, não gostei do fato de terem cortado a figura do Persa, pois acredito que ele é um personagem muito importante para a história e o passado do fantasma é tão mais complexo, que fico triste por eles não encontrarem formas de acrescentar tais partes no musical também. Enquanto que no livro há muito mais história, por onde ele passou, seus traumas e o que fez ele se tornar esse criminoso, no musical tem uma explicação quanto a isso, mas a do livro é bem mais esplêndida e completa. Ele não viveu apenas no porão da ópera, ele atravessou o mundo, perseguiu e foi perseguido diversas vezes ao longo de sua vida. Porém, mesmo faltando estas partes, o musical segue sendo perfeito para mim.
Para finalizar essa resenha que se apresenta grande demais, o fantasma da ópera é uma obra explêndida com personagens cativantes, cenário extraordinário e acontecimentos que se entrelaçam com o real. A leitura é um pouco lenta no começo, sendo necessária várias pausas para entender o que se passa e o significado do amplo repertório da ópera, mas acredito que isso melhora do meio para o fim, principalmente se o leitor achar interessante os nomes das óperas e de onde ele tirou toda a inspiração. Por isso, se você gosta da literatura gótica, com muito mistério e ainda um romance de quebra, esta é uma obra que vai lhe agradar bastante.