Rodrigo Salamão 13/06/2022
Foi uma experiência fantástica! Imersivo, envolvente e bem escrito.
Me senti péssimo ao me deparar torcendo pelo triunfo de alguém tão desprezível quanto Ripley, mas foram as situações pouco críveis, o começo um tanto lento e a presença de alguns personagens - em especial Marge - que me fizeram não avaliar o livro com a nota máxima.
Diferente de algumas resenhas que constam aqui, não senti que as inconstâncias ou até mesmo as situações em que deveríamos elevar a nossa descrença impactaram negativamente a obra. Neste ponto, acredito ser uma questão de gosto mesmo. Gostei de Ripley e pronto. Ou melhor, gostei de estar por dentro de seus pensamentos, seja por dentro de seu lado sombrio, seja por ter reconhecido um pouco de mim em algumas de suas características mais "nobres" (se é que há nobreza nesta personagem). Ripley se odeia e isso é um combustível poderoso para suas ações. Tem fixação pela grandeza, uma idolatria (inicialmente oculta) pela figura de Dickie Greenleaf e, de certa forma, uma necessidade de estar sempre agradando e ser sempre agradável. Ironicamente, esta vontade de agradar coexiste com seu denso e forte espírito de julgamento, que me parece mais uma insegurança psicológica agravada ou arrogância desmedida. Ao meu ver, a possibilidade de Tom ser negado, desconsiderado e desprezado o assusta e ainda assim, Ripley não tem escrúpulos em tomar o que não é dele, como uma espécie de justiça moral pelo sofrimento vivido em seu passado ou compensação para sua vida desgraçada.
A mágica do livro, pra mim, está em perceber essa face do mal aos poucos. Como inicei a leitura sem saber exatamente os motivos por trás das ações de Tom, fui surpreendido pela sua construção psicológica. Para além do enredo e da narrativa - ambas bem feitas - a cabeça de Tom e seus pensamentos foram os aspectos que mais me atraíram. Não por concordar com o que pensa, mas por tentar entender como Tom manteve essa face oculta de nós até então e dos que viviam ao seu redor. Senti que subestimei Tom até o momento em que a história toma fôlego e o leitor quer saber quase imediatamente o desfecho. Senti o que as personagens do livro sentiram: desdém.
É, de fato, uma experiência louca. Então, acredito que nada do que eu disser vai substituir a leitura integral do livro.
Recomendo fortemente a leitura. Nas palavras do nosso meme atual, Isabela Boscov: Dito tudo isso, me diverti e me diverti sem culpa. Alguma diversão é direito de todo cidadão haha