Tiago sem H - @brigadaparalela 30/07/2017Sem muitas delongas, George não se tornou um dos meus livros favoritos da vida, mas faltou algo para que isso não acontecesse e logo, logo, comento sobre isso. Partindo desse princípio, já está altamente recomendado. Agora voltemos para nossa opinião normal.
Alex Gino irá nos apresentar uma história em que sua protagonista é uma personagem transgênero, nesse caso, George é um menino com cerca de dez anos que não se sente a vontade com seu próprio corpo, por que na verdade, George é uma menina no corpo de menino. Toda a trama irá girar no momento em que sua classe irá encenar uma peça de "A Menina e o Porquinho" e George quer representar Charlotte, mas é barrado por ser um "menino".
Com toda essa frustração, George se abre para sua melhor amiga Kelly que à primeira vista, se sente chocada pela revelação da amiga, mas logo depois se torna uma leal confidente. Enquanto isso em casa, as relações familiares estão bem complicadas, uma vez que sua mãe também está prestes a descobrir a verdade.
A grande pegada que torna esse, um livro que aquece o coração e que deveria ser lido por todos, principalmente alunos em idade escolar inicial é a proposta de discussão sobre identidade de gênero e descobertas sobre a própria sexualidade, mas de uma forma totalmente inocente. Boa parte da história é ambientada na escola, e com isso teremos os tradicionais alunos cometendo bullying, o que ao mesmo tempo se torna algo clichê, mas verídico na maioria dos casos.
Livros que trabalham a identidade de gênero e a própria sexualidade em si, ainda são pouco lidos por grande parte da população de leitores, principalmente os livros com personagens transgêneros, estes são quase raros eu diria. Um detalhe de escrita que demonstra essa pouca familiaridade é o fato do narrador sempre se referir a George como menina e os outros personagens tratarem ela como menino. A cabeça dá um nó as vezes.
Um dos pontos que acredito que não tenha feito o livro se tornar um favorito da vida, é que por mais que a história seja significativa, seja importante em diversos aspectos, o autor apenas pincelou o tema. Compreendo que George pode ser tratado como um livro de introdução à essa temática, mas com todos os dilemas que envolve as questões de gênero, sobretudo quando se tem uma personagem criança/adolescente, ele poderia ter aprofundado um pouco mais entorno dessa narrativa. No final, a história é super rápida de ser lida, e ouso dizer que alguns aspectos foram trabalhados de forma bem rasa. O livro é sensível, é fofinho, dá vontade de abraçar George em diversos momentos, mas em se tratando de narrativa, George merecia algo mais.
Outro ponto em que acredito que o autor falhou é quando ele reforça a ideia de gênero imposta pela sociedade, sendo que seu livro representa totalmente o oposto dessa delimitação, por exemplo, quando George escolhe intimamente a cor rosa por que assim todos saberiam que ela era uma menina, ou quando sua amiga diz para ele usar saias. Esses pensamentos podem ser justificados quando se pensa que é um diálogo de crianças e elas reproduzem o que os adultos fazem, mas fica meio que fora do contexto da obra em âmbito geral.
Por fim, George é um livro ambíguo. Ao mesmo tempo que é um livro que aborda um assunto que precisa ser falado, precisa ser entendido e que contribui para despertar uma empatia sobre as pessoas transgêneros, é um livro que trata o assunto de forma rasa e que entra em desacordo com sua própria proposta. Ainda assim, é um livro que recomendo principalmente por conta da protagonista que é um amor de pessoa e que espero que tenha sido feliz (quem leu entenderá).
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