Luiz 04/05/2022
O comunismo é, realmente, o fim da história?
Livro: A Máquina do Tempo
Autor: H. G. Wells
A Máquina do Tempo é um dos livros mais interessantes de H. G. Wells, ainda que seja um de seus primeiros livros. A história se baseia no peculiar interesse de um cientista que após construir uma máquina do tempo, decide viajar para o futuro e provar para seus amigos a possibilidade de sua existência, e que ao regressar do futuro, conta suas experiências numa civilização paradisíaca, e os mistérios decorrentes desse processo civilizacional singular.
Como praticamente todos os contos, Wells trabalha temas que perduram ainda hoje o imaginário popular; elementos trabalhados neste texto são revistos em diversos outros livros como: O Dorminhoco, Guerra dos Mundos, Deuses Humanos e etc, mas vale ressaltar que a forma do autor trabalhar este livro foi bem singular comparado a outros livros, que geralmente acabam por pecar em grandes rodeios para se chegar a determinados assuntos para serem discutidos.
Wells como se sabe era um Socialista Fabiano, ou seja, um tipo específico de socialismo que visa a revolução mundial global, incorpora até certo ponto as teorias de Marx, mas também é bem crítico a elas, como mostra detalhadamente na obra Nova Ordem Mundial e Conspiração Aberta, sendo assim, muitos temas são recorrentemente trabalhados em seus contos visando o fim da Revolução Mundial.
Dentre algumas ideias que são debatidas e desenvolvidas no livro, temos: a ideia da luta de classes é adaptada no embate entre os Morlocks e os Eloi, descendentes evolutivos dos proletariados e burgueses; o imaginário de constante avanço e progresso da história, de que a humanidade irá evoluir para um estágio biológico e social superior, assim como falava Marx e Comte, desta forma doenças, hábitos alimentares, a psicologia humana, animais e raças inferiores seriam superadas; a ideia de constituição de família seria abolida, a organização social entraria em equilíbrio com a natureza, dentre diversos outros temas são abordados.
O fim da história, da humanidade, para Wells é o comunismo, seja ele natural por meio da seleção natural, ou planejado racionalmente por meio do progresso científico; fica claro que para o autor o rumo da humanidade deve ser o comunismo amalgamado com o processo evolutivo biológico, social e psicológico, uma revolução completa, melhor do que a revolução russa, em que o autor também era um crítico, mas que ainda sim em última instância o fim da história que assola a humanidade é o fim do próprio planeta, portanto para impedir isto é necessário o domínio completo da natureza, seja ela humana e ambiental.
"Parecia que eu me encontrava em meio a uma humanidade em declínio. O pôr do sol avermelhado me fez pensar na decadência da humanidade. Pela primeira vez, comecei a perceber uma estranha consequência do esforço social no qual estamos empenhados hoje e ainda assim, pensando bem, é uma consequência bastante lógica. A força é o resultado da necessidade, a segurança gera fraqueza. O trabalho de melhorar as condições de vida, o verdadeiro processo de civilização que torna a vida mais e mais segura, havia atingido seu clímax. Uma sucessão de triunfos de uma humanidade unida ocorreu sobre a Natureza. Coisas que hoje são apenas sonhos se tornaram projetos deliberadamente executados e levados adiante. E o resultado estava diante dos meus olhos!"
(Viajante do tempo / H. G. Wells, p. 41)
"A própria Natureza é tímida e vagarosa em nossas mãos desajeitadas. Algum dia isso tudo será organizado e ainda melhor. Essa é a tendência da corrente, apesar da agitação. O mundo todo será inteligente, educado e cooperativo; as coisas se moverão mais depressa em relação à submissão da Natureza. No fim, com cuidado e sabedoria, vamos reajustar o equilíbrio da vida animal e vegetal para suprir as necessidades humanas."
(Viajante do tempo / H. G. Wells, p. 42)