spoiler visualizarNivia.Oliveira 27/04/2024
Eu amo esta escritora. Já li 4 livros dela e reli este. Todos têm em comum: história, arte, viagens, teologia, relações complicadas e “dramão”... Tudo que eu amo num livro.
Neste, ela conta o percurso de um livro, na verdade um manuscrito do século XV, o Hagadá, que saiu da Espanha e foi parar em Sarajevo. É um “livro de orações” judaico. O estranho é que ele está todo ilustrado, algo que era proibido na época.
É Hanna, uma conservadora de livros australiana que tem que descobrir. Para isso ela tem cinco pistas: marcas de fecho: nas páginas: uma asa de inseto, uma mancha vermelha, um pêlo branco, uma mancha de sal.
Assim temos um capítulo em 1996 e outro em algum século passado. Enquanto ela vai fazendo suas descobertas de trabalho e pessoais, nós vamos sabendo o que realmente aconteceu com o livro. Uma intrincada mistura de situações difíceis envolvendo o preconceito contra os judeus (mesmo antes de Hitler), pogrom, Inquisição, exílio, genocídio, guerra.
Todas as histórias que explicam os vestígios são incríveis... Uma delas eu até me emocionei: o da mancha de sal. Uma cena lindíssima, de batismo de um recém-nascido cuja mãe o desprezara.
Curioso é que a Hagadá fala da libertação dos judeus do Egito e este livro mostra como os judeus ainda não se libertaram, e vivem fugidos e espalhados pelo mundo afora. Felizmente também encontram pessoas que vão se envolver por vínculos comerciais e pelo amor da generosidade ou da paixão. Da mesma forma que o livro quase fora destruído, segue resistindo milagrosamente, como povo judeu ao longo do tempo.
No final vemos um livro construído e protegido com um pouco dos mulçumanos, dos católicos e dos judeus, mostrando que o ideal seria a união multiétnica, que a diversidade cultural nos enriquece mutualmente e que só pode ser benéfica para todos viverem em paz, sem demonizar o outro. “Parece-me que este livro, hoje, dá testemunho de tudo isso.”p.205
E pra arrebatar, no último instante, Hanna descobre quem foi a artista das iluminuras em ouro e lápis-lazúli! Lindo demais! O que a estimulou a ir à Espanha para entender o que nós, leitores, já havíamos descoberto. E ela coloca no livro algo dela, que representa a Austrália, uma pista para algum pesquisador na História imaginar o motivo alguns séculos depois... Maravilhoso!
E a manuscrito ainda existe e esse encontra no Museu de Sarajevo.
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