spoiler visualizarLucas.Ricardo 29/08/2016
Iniciado no mundo de Tolkien
Desde que os filmes foram feitos e a obra foi ganhando espaço, se consolidando cada vez mais aqui no Brasil, escuto línguas agitadas desenhando palavras de um amor declarado a “O Senhor dos Anéis”. No entanto, me mantive cauteloso perante tamanha exaltação e por muito tempo não busquei algo mais sólido sobre a obra.
Ouvia dizer que os filmes eram ótimos, ponto em que concordava, pois “O Retorno do Rei” – único que havia assistido de verdade – sempre esteve em alta conta para mim. Em contrapartida soube que os livros, em especial “A Sociedade do Anel”, “eram entendiantes em determinados momentos, pois pouco progrediam na narrativa, parecendo mais uma longa descrição inútil sobre terrenos e rios e colinas, enquanto nada de interessante acontece de fato”.
Ainda que receoso sobre esses comentários, confesso ter adiado a minha leitura um pouco mais. Mas confesso que esses boatos me ajudaram um bocado a não criar falsas expectativas.
Num certo dia, enquanto eu procurava áudio books no youtube – e o acaso esfregava as mãos, num gesto ganancioso –, acabei por encontrar uma série de áudio books d”O Senhor dos Anéis”. A partir de então, sem grandes esperanças, assim como os povos da Terra Média, acabei me interessando já desde o início pelo universo da obra.
Agora, mais maturo sobre seus assuntos, decidi fazer uma resenha, bem como a iniciar aqui no blog uma série de comentários sobre livros que lerei mais adiante.
Em “O Senhor dos Anéis”, Tolkien sempre foi extremamente minucioso em suas descrições, sejam elas sobre as famílias dos hobbits, sobre as criaturas que habitam nessa terra que é tão vasta, sobre seus terrenos acidentados ou planos, seja sobre os fardos que cada um deve carregar.
Já nas primeiras páginas, ainda antes da narrativa, o autor faz algumas declarações, dentre as quais a justificativa da obra, que seria “um pano de fundo ‘histórico’ para as línguas élficas.”, por ele inventadas. Como tal, o livro é uma apresentação de um mundo vasto, portanto, necessita muitas apresentações e detalhes que tornem quase real a sua existência (se quiser facilitar um pouco a leitura – evitar com que seu cérebro trabalhe tanto para enxergar os ambientes do livro –, ver o filme poderá ser uma boa opção, porém, grandes surpresas do livro serão perdidas, assim como algumas personagens muito interessantes).
No primeiro livro, o que me chamou muito a atenção, foi o número grande de poesias declamadas pelas personagens em diversas ocasiões. Bombadil, Aragorn, Bilbo, Sam, os elfos e muitos outros, a todo momento declamam poesias sobre as terras pelas quais passam, sobre as lendas da Terra Média, sobre seu próprio conhecimento. São poesias diversas, de diversas métricas e esquemas de rimas, mas que me trouxeram um sabor muito especial ao degustar a história. Outro ponto que me chamou a atenção no primeiro livro, é a presença de humor, ora sutil, ora explícito, que deu à minha leitura uma maior fluidez. Mas o que mais me agradou foi o trabalho linguístico sobre as diversas línguas da Terra Média e os cuidados que Tolkien tomou quando precisava explicar cada um deles, o que me deixou muito impressionado e ávido pelas páginas subsequentes.
Além disso, como vi o filme por primeiro, fiquei muito surpreso em diversos aspectos: Peter Jackson se aproximou bastante das descrições dos terrenos e montanhas e rios etc; mas me surpreendi com duas personagens em especial: Guimli, que no filme aparece como uma criatura extremamente bárbara e ignorante que tenta destruir o Anel com um machado de uma forma um tanto ridícula, no livro é mais cauteloso, e Merry, que no filme é um tanto infantil e incauto, no livro está sempre à frente do que se poderia imaginar de um hobbit e não aparece por acaso, mas programa sua viagem junto ao Portador; mas também me surpreendi com Galadriel, que no filme aparece como uma espécie de bruxa élfica, no livro é extremamente bela e sábia, cuja beleza é de um tom respeitável, algo que austero. Mas deixarei de fazer comparações.
Outro ponto alto dos livros são os diálogos riquíssimos. Contudo, aqui, deixarei com que o livro fale por si só:
“- Mas isso é terrível – gritou Frodo. – Muito pior do que o pior que eu havia imaginado a partir de suas insinuações e advertências. Ó Gandalf, meu melhor amigo, que devo fazer? Pois agora estou realmente com medo. Que devo fazer? É uma pena que Bilbo não tenha apunhalado aquela criatura vil, quando teve a chance!
– Pena? Foi justamente Pena que ele teve. Pena e Misericórdia: não atacar sem necessidade. E foi bem recompensado, Frodo. Tenha certeza de que ele foi tão pouco molestado pelo mal, e no final escapou, porque começou a possuir o Anel desse modo. Com Pena.
– Sinto muito – disse Frodo. – Mas estou com medo; e não sinto nenhuma pena de Gollum.
– Você não o viu – Gandalf interrompeu.
– Não vi e não quero ver – disse Frodo. Não consigo entender você. Quer dizer que você e os elfos deixaram-no viver depois de todas as coisas horríveis que fez? Agora, de qualquer modo, ele é tão mau quanto um orc, e um inimigo. Merece a morte.
– Merece! Ouso dizer que sim. Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte. Pois mesmo os muito sábios não conseguem ver os dois lados.”
J. R. R. Tolkien; O Senhor dos Anéis; A Sociedade do Anel (livro único); p. 61; tradução de Lenita Maria Rímoli Esteves e Almiro Pisetta.
Parece que quanto mais se fala, mais se tem pra dizer e no final se percebe que ainda há lacunas que gostaria de preencher – como me sinto quando falo sobre este livro. Muito ainda se pode abordar, pois a obra é muito rica, fazendo florescer um pensamento de que realmente, em alguma era perdida, houve uma terra chamada Terra Média e que toda a história do Um Anel aconteceu de fato.
Para concluir esse texto, que pretendia ser muito mais do que é, vejo que foi bom eu ter esperado o tempo necessário, até que pudesse compreender bem a obra e seus desdobramentos e ter iniciado o livro com cautela, sem muitas pretensões de uma leitura maravilhosa, pois assim fui surpreendido positivamente por incontáveis vezes. Parece que é preciso ter paciência com a magnitude do livro, para lhe sentir apreço, mas ao final, garanto que será recompensado.
site: https://domadordepalavras.wordpress.com/2016/01/29/o-senhor-dos-aneis-a-sociedade-do-anel/