jonevesa 09/08/2023
The Bell Jar
Eu realmente esperava muito mais dessa leitura, fiquei muito decepcionada.
Eu vejo muita gente elogiando esse livro e falando como ele é revolucionário. Li porque ele é exatamente o tipo de livro que eu amo ler, o subgênero mulheres depressivas e ansiosas. Mas o que eu quase não vi é sobre o quanto ele é racista e homofóbico.
Ao longo do livro todo é muito fácil perceber o racismo da personagem e da autora, considerando a forma como ela escreve e que essa obra é uma semi-autobiografia. Eu li o livro em inglês então não sei como isso foi traduzido, mas muitas vezes quando Esther se achava feia ou até mesmo os outros, ela se comparava a uma chinesa ou indiana, até mesmo sua amiga Doreen foi comparada a uma mulher negra como um insulto.
São comentários que não podem ser ?justificados? pelo tempo em que o livro foi escrito. Em certo momento do livro a protagonista chuta um homem negro na perna simplesmente porque ele a serviu dois tipos de feijão. Além disso, a autora passa um tempo absurdo descrevendo esse homem, o demonizando, com tanta atenção que nenhum outro enfermeiro recebeu.
Esther critica relações entre duas mulheres e diz que não as compreende. Plath também utiliza a palavra ?queer? repetidas vezes ao longo do livro. No dicionário essa palavra significa ?estranho? ou ?esquisito?. Mas acho difícil a Plath não saber na época que escreveu o livro, em 1961, que a palavra era usada de forma pejorativa direcionada a pessoas LGBT desde 1922 (mas que depois a comunidade ressignificou o uso).
O livro realmente aborda a depressão de forma muito realista, e Sylvia usa metáforas muito interessantes, como a da árvore de figo para descrever o seu propósito e a incerteza do seu papel na sociedade, ou até mesmo a da redoma de vidro. Mas mesmo me identificando com algumas passagens sobre a depressão, não consegui me conectar com a personagem desde o começo do livro, porque, além de todas as problemáticas que já citei, a Esther é apenas uma péssima pessoa. Logo nas primeiras páginas ela abandona uma amiga bêbada e desmaiada no próprio vômito no corredor do hotel, só porque ela está com sono demais pra lidar com a situação e ela não conseguiu se importar.
Essa obra é muitas vezes considerada um ?documento feminista?, mas não vejo como seria feminista se o livro não só exclui mulheres não brancas e/ou LGBTQ+, mas também as demoniza.
Demorei mais de um mês pra terminar essa leitura porque não gostei da personagem, não consegui me importar com ela e não apreciei a leitura como eu gostaria. O fato de isso ser uma semi-autobiografia me preocupa mais ainda. Não vou apenas criticar a Sylvia Plath, ela escrevia bem, mas ela escolheu usar isso de forma péssima. Não tenho mais nenhuma vontade de ler qualquer outra coisa da autora.
PS.: Não estou cancelando a Plath ou dizendo que ninguém deveria ler suas obras, mas sim que não podemos ignorar os problemas de seu livro, porque é o que vejo acontecendo.