Tati Iegoroff (Blog das Tatianices) 10/01/2023“Senti uma lágrima escorrer quando me dei conta de que estava sozinha”A narrativa deste livro é intensa, bem escrita e propicia ao leitor um mix de emoções que é até difícil colocar em palavras.
A protagonista, Ravena Sombra, gera, por si só, sentimentos bem contraditórios dentro de nós: de início, ela é a típica popularzinha odiável do Ensino Médio. Mas então ela passa a descobrir coisas sobre si mesma e sobre a vida, transformando-se. E aí é impossível não sentir compaixão e querer abraçá-la, dizendo que tudo ficará bem.
Logo no começo do livro encontramos a protagonista ansiosamente se arrumando para uma festa. Mas ela não imaginava que era ali que tudo começaria a mudar e desmoronar. Ravena fica momentaneamente cega por conta de um flash na balada e isso causa um acidente: um belo tombo, no meio da festa, que ainda vai gerar muitos burburinhos falsos e um belo castigo para ela.
Dias depois, porém, investigando a causa dessa cegueira momentânea, Ravena descobre muito mais, sobre seu passado e seu futuro: ela tem retinose pigmentar. Se você não sabe nada sobre essa doença, tudo bem. Este é um ótimo livro para aprender um pouquinho sobre isso, com a própria protagonista, ao mesmo tempo em que tantos outros assuntos importantes também são discutidos.
A autora trabalha, na história, muitos aspectos da adolescência e da crueldade que essa fase carrega. Para além do bullying e das aparências, Kami Girão ainda consegue falar sobre as escolhas diante do final da fase escolar e do quão difícil elas são.
Fisheye também fala — e muito — sobre relações familiares. Ravena podia não ser a melhor pessoa do mundo no início da história, mas seu lar certamente contribuía para sua personalidade terrível.
O pai está sempre trabalhando ou aproveitando a vida com a amante; a mãe vive assistindo televisão e se afogando em sua tristeza; a irmã mais velha, quando ainda morava com eles, vivia provocando Ravena.
Mas nem tudo é maldade e dor neste livro. Ao mesmo tempo em que o mundo de Ravena começa a ruir, entra em cena um personagem capaz de mudar tudo (mais uma vez). Daniel — também conhecido pelas más línguas por Queimadinho — é um jovem que tem um passado bem pesado, mas que leva a vida de maneira leve e que, com isso, tem muito a ensinar.
É assim que, através dele, a narrativa ainda aborda a importância da verdade, do amor, do cuidado com o outro e de não julgarmos pela aparência, pois o interior sempre esconde muito mais.
Fisheye é uma história na qual podemos acompanhar um grande amadurecimento da protagonista, ao mesmo tempo em que aprendemos e refletimos sobre assuntos diversos, mas intimamente conectados. Uma narrativa que facilmente nos leva às lágrimas. No meio do livro, há um interlúdio escrito por Victória, a irmã de Ravena, e se você acha que ali iremos respirar com mais tranquilidade, não se engane: o bolo na garganta só aumenta!
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