RayLima 02/02/2023
É isto um homem?
?Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa.?
Primo Levi, escritor judeu e sobrevivente do Holocausto, traz nesse livro suas memórias de quando foi prisioneiro em Auschwitz durante a Segunda Guerra. Ele foge da narrativa que se espera quando se fala dos Campos de Concentração Alemães, não fala das atrocidades como as câmaras de gás, por exemplo. Ele traz uma nova perspectiva, a do cotidiano do prisioneiro, da rotina cansativa de trabalho, das regras do campo, a monotonia dos dias terrivelmente iguais, os sonhos que acalentavam e torturavam os prisioneiros e como funcionava o mercado contrabandista na luta para conseguir um bocado a mais de pão, são algumas das situações narradas à exaustão no livro. Parece um pouco repetitivo, mas creio que essa seja a intenção do autor, fazer-nos sentir de alguma forma a fadiga daquele dia-a-dia, sempre à espera do pior.
?Também o dia de hoje, esse hoje que, de manhã, parecia insuperável, eterno, o atravessamos durante todos os seus minutos; agora jaz, acabado e logo esquecido, já não é um dia, não deixou rastro na memória de ninguém.?
O título ?É isto um homem?? refere-se a condição humana em que ele próprio se encontrava. E é uma pergunta pois ele se questionava se aquela ?vida? ainda podia ser chamada assim, pois estar naquela situação não era nada parecido com estar vivo. Ele não tinha mais nada em si que se parecesse com um homem, fisicamente disforme pela fome, frio e cansaço e mentalmente desgastado, desacreditado, não era mais mais capaz de sentir nada.
?quem perde tudo, muitas vezes perde também a si mesmo?
Após sua morte, em 1987, muito se teorizou sobre a verdadeira causa, se acidente ou suicídio. Na época, Elie Wiesel (também escritor judeu e sobrevivente dos campos de concentração) disse que "Primo Levi morreu em Auschwitz há quarenta anos".