Caio 23/11/2020
Livro Genial. Porém um pouco enfadonho.
TEM ALGUNS SPOILERS:
Um livro muito importante para entendermos um contexto histórico no Brasil da república velha no seu começo quando o Floriano Peixoto - O conhecido Marechal de Ferro governava com violência à base da força e impôs a ditadura. Ele e o seu contexto político instável nessa época é o pano de fundo real em meio a história ficcional do personagem Policarpo Quaresma e seus coadjuvantes e seu universo. Mas o contexto de Policarpo mesmo sendo ficcional, tudo é extremamente real naquela época e até hoje em dia: A Hipocrisia na política, a luta de uma pessoa que busca o melhor para o seu país, mas ele é taxado de doido, é ignorado e tratado com desdém e desprezo. Fazer tudo pelo país e não tem retorno. Igual o Lima Barreto faz uma crítica sobre o exacerbado patriotismo, o exagero do nacionalismo que nos cega para a realidade. Policarpo era uma idealista ufanista que profundamente amava seu país e seu povo e buscava o melhor para todos. Tinha boas intenções apesar de suas atitudes serem exageradas mas eram todas verdadeiras. O ambiente na onde ele vive já não é verdadeiro: Pessoas falsas que só buscam status e cargos maiores e poder em cima do funcionalismo público, ou das costas de políticos influentes naquela época. Genelício é o maior exemplo de gente interesseira e falsa que vive nesse contexto. E entre outros que buscavam essa primazia de poder e subir de cargo e se tornar de qualquer maneira mais influente na sociedade onde vive. Gostei da crítica tbm além do patriotismo, mas a crítica direcionada a sociedade como vive, os seus costumes, hábitos e seus personagens. Contexto do Albernaz por exemplo é patético, costume social da época: A mulher era ensinada desde de pequena, forçada a casar por ser um status social, simplesmente por ser um negócio lucrativo, agradar os costumes de uma sociedade mesquinha, falsa e preconceituosa e atrasada. O casamento recebe uma crítica coerente e genial e a Ismênia é a consequência de tudo isso: do machismo, dos costumes, da pressão psicológica e simboliza como é difícil ser mulher nessa sociedade. Hoje continua difícil e imagine nessa época. Olga é uma das minhas personagens favoritas pois ela traz um começo de questionamentos que décadas posteriores, o feminismo iria questionar, debater sobre a posição da mulher na sociedade em geral. Ela é forte e consegue impor a sua opinião, sua voz e vontade mesmo com limitações. Fala dos falsos profissionais que mais almejam diploma do que colaborar para a sociedade em si na sua área ou prefere agradar a sociedade através da aparência e com seu título de 'doutor'. Aqui cita o preconceito com as classes populares simbolizada pelo Ricardo Coração dos Outros com racismo, preconceito da elite com o instrumento musical violão, modinha e com os livros. Livro para época era o símbolo de status para acadêmicos (mesmo não lendo, já possuindo uma estante com livros para decoreba já corrobora que você é melhor evoluído intelectualmente e culturamente que os outros e tem mais status.) O livro se torna um conteúdo inútil pois não é aproveitado, usado. Já Policarpo que sofre 'preconceito' por ler, pega seus livros e coloca em prática o que leu, aprendeu. Coloca em prática em sua vida e no seu dia a dia. Uma crítica clara ao pensamento idiota da sociedade.
Outro ponto final que queria citar é que esse livro tem dados biográficos do Lima Barreto no Policarpo. Só traçar a história de vida do escritor com seu personagem e comparar. Não é atoa que se diz: O livro, a escrita servia para o Lima registrar as suas dores, angústias, críticas sobre a sua vida pessoal e profissional. Não só esse livro como Clara dos Anjos (tô lendo) e Isaías Caminha que vi na sinopse e opiniões. A loucura sempre acompanha as obras de lima Barreto pelo seu histórico de vida pessoal. Literatura afiada que desfila sobre vários problemas nacionais no fim do século XIX e pelas mudanças sociais e políticas radicais que o Brasil estava passando mas permanecendo intacto certos fatores: preconceito racial, desigualdade social e maior distanciamento entre ricos e pobres e quanto um influência uma sociedade e o outro nem citado na sociedade é. Este é ignorado. No título, falei enfadonho pois tem partes que o Lima arrasta muito, principalmente quando ele retrata certas características da cidade do Rio e seus personagens. Muitos detalhes que cansou um pouco mas essa é a obra prima do autor, uma das obras publicadas em livro enquanto ele estava vivo, e que teve boa resposta da crítica após inúmeras pedras no seu caminho, pedras que simboliza fracasso, rejeição, pois o Lima revolucionava a escrita, temática da literatura. Como resposta foi marginalizado e em vida não teve o devido reconhecido merecido. Isso se deu postumamente. Enfim recomendo fortemente uma das obras principais do pré-modernismo e também um dos livros mais importantes da literatura brasileira. 4/5.