spoiler visualizarSammy 10/08/2020
Resumo Crítico: ??Triste Fim de Policarpo Quaresma??
Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto é um romance pré-modernista brasileiro que se passa no período da República das Espadas (Primeira República) mais precisamente durante o governo de Floriano Peixoto (1891¬-1894), onde houve a Segunda Revolta da Armada, período esse que é explorado e tem grande impacto posteriormente no livro.
Dividido em 3 partes, retrata a vida de Quaresma desde sua convivência na cidade do Rio de Janeiro, onde Quaresma era subsecretário do ministro de guerra até seus últimos momentos pós a Revolta da Armada.
Na primeira fase do livro, Quaresma é apresentado como um ufanista e aficionado leitor de obras nacionais. Vivendo com sua irmã Adelaide e tendo envolvimento com personagem que lhe acompanhariam em diante de sua jornada, como por exemplo, Ricardo Coração dos Outros e sua afiliada Olga.
Logo no primeiro ato, uma de suas ações é propor ao ministro o reconhecimento da língua tupi como língua oficial da nação. Sendo interpretados como zombaria, os atos de Quaresma o levam a ser julgado como fanático, sendo assim conduzido para um manicômio. Durante esse período de tempo, Quaresma vislumbra-se de maneira melancólica, sendo visitado por Coleoni, Olga e Ricardo.
Depois de sua estadia no manicômio, por recomendação de Olga e com intuito de evidenciar as virtudes agrárias nacionais, Quaresma passa a viver em um sítio, situado na cidade interiorana de Curuzu, esse sendo denominado de ??sussego??.
Durante sua estadia no ??sussego?, Quaresma passa por diversas informidades do campo além de se envolver involuntariamente em questões políticas.
Tendo em vista que apenas sua disposição não bastaria, mas sim políticas públicas e engajamento do governo com a população rural seriam suficiente para a exponenciação da produção agrícola e a extinção de pragas, Quaresma aproveita de sua condição e vai ao Rio de Janeiro com o intuito de apoiar o governo do Marechal Floriano, que estava sendo afrontado pela marinha do país.
Durante a revolta, Quaresma se desaponta com a postura do governador, que se portou de forma ignorante perante suas propostas. Quaresma reencontrou com Ricardo e juntos lutaram contra a revolta. No fim Quaresma recebe a função de cárcere, se revoltando com as atitudes do ambiente, Quaresma envia uma carta para o Marechal Floriano, este que ordena sua prisão imediata.
Acusado de traição pelo Marechal Floriano, além de preso é condenado ao fuzilamento.
A obra retrata e critica diversas questões sociais e políticas, como por exemplo: burocracias que se estendiam a corrupção, tornando-se um gargalo econômico; uso do positivismo como justificativa para a tirania militar; período pós lei áurea; ufanismo; crítica aos pseudo-intelectuais; ínfimo engajamento dos governantes; função das mulheres na sociedade e também o possível transtorno de personalidade dependente representado por Ricardo Coração dos Outros.
O livro caracteriza Quaresma como um nacionalista extremado, em outras palavras, ufanista. Enquanto o patriotismo se refere apenas ao cidadão que tem amor à pátria, o ufanismo é o ato de ir além, de vangloriar, glorificar e enaltecer a nação sobre qualquer outro fator, o que é demonstrado no livro principalmente no momento em que Quaresma se nega a usar adubo em sua cultura pela simples ignorância de achar que o país detinha das terras mais férteis e independentes de aditivos. Esse ufanismo ingênuo de Quaresma é uma característica que no decorrer do livro se torna tênue e vai se esvaindo de sua essência, o ápice desta foi na conclusão da obra onde quaresma vislumbra-se desiludido com todas as suas crenças.
Quaresma acreditava no patriotismo e ética da sociedade de maneira ingênua e quixotesca, o que o levou à desilusão de seus valores como cita o parágrafo:
??A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criada por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia, A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamarati??
Ricardo Coração dos Outros demonstrou durante a obra uma necessidade de aprovação dos demais quando o assunto é o seu trabalho musical, podendo caracterizar-se como um detentor de um transtorno de personalidade dependente. Ricardo apresentara uma personalidade frágil e ingênua trazendo assim o sentimento de benevolência para o leitor. Ele tinha grande afeto por Quaresma pelo mesmo demonstrar reciprocidade, e apesar de não ter mais interesse ainda reconhecer a notoriedade do instrumento(violão) e das modinhas.
??Ricardo Coração dos Outros gostava do major, encontrara nele certo apoio moral e intelectual de que precisava. Os outros gostavam de ouvir o seu canto, apreciavam como simples 38 diletantes; mas o major era o único que ia ao fundo da sua tentativa e compreendia o alcance patriótico de sua obra??
Na terceira parte do livro (Patriotas), Quaresma vai para o Rio de Janeiro almejando obter relações políticas com Floriano Peixoto, com o propósito de expor suas ideias sobre políticas agrárias, no entanto Floriano não demonstra interesse em colocar em prática, ou nem ao menos discutir tais ideias que tinha como intuito fortificar a economia nacional.
??VOCÊ, QUARESMA, É UM VISIONÁRIO??
O trecho é mencionado por Floriano de maneira sarcástica e irônica, apontando assim que Quaresma tinha ideias utópicas e otimistas. O que não é verdade, Quaresma tinha ideias simples mais eficazes e suficientes para otimizar e aprimorar a produção agrária, como políticas de conservação do solo, combate contra pragas, e estimulação da população à produção agrária.
Demonstrando assim o ínfimo engajamento dos governantes, de maneira a denunciar tais práticas, e mostrando que apesar de ser uma república, o Brasil ainda não caminhava à vontade do proletariado e sim de um governante que usava do positivismo para uso da força sobre a nação, como o mesmo fez com Quaresma.
Como citado no parágrafo acima é retratado no livro o uso do positivismo para justificar ações ditatoriais injustas e antidemocráticas, sendo retratado sobre o protagonista da história, Quaresma, que foi acusado sem julgamento pelo simples crime de pensamento. Sendo acusando de traidor à pátria (usando-se como base para esse argumento o positivismo que prega o ??progresso da nação??), e perdendo seu direito civil de ser julgado perante um tribunal legítimo.
Este pensamento de usar princípios ideológicos ou prioridades da nação para coagir a população não é algo exclusivo nem da obra literária, nem do Brasil, mas sim algo que pode ser retratado historicamente.
Até que ponto o estado pode usar a força de sua soberania para defender os seus princípios ideológicos ou prioridades nacionais?
Bom, isso varia de nação para nação, um estado autoritário obviamente fará o uso desta sem escrúpulos.
A questão é que o estado só ??olha o próprio umbigo??, pensa apenas em suas prioridades. Usando de exemplo, o atual governador do estado de São Paulo, João Doria implantou o Sistema de Monitoramento Inteligente (Simi) para identificar os locais onde há mais concentração de pessoas por meio do rastreamento e georreferenciamento dos aparelhos celulares, o que parece se bom e eficiente à primeira vista no combate ao SARS-COV-2, porém esta medida é totalmente unanime do estado sem qualquer requisição de acesso do estado para a população, restringindo o direito de escolha do indivíduo. A conclusão que se obtém é que o estado restringe liberdade usando princípios ou argumentos, que, no entanto o próprio estado ignora em partes, pegando apenas uma fração de modo literal para expor uma imposição.
Em outros casos, prefeituras autorizaram decretos inconstitucionais e ilegais, que impedem o direito de ir e vir da população como é explicado no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=gttLdD6LHBk
E como dito por Thomas Jefferson:
?O preço da liberdade é a vigilância eterna.?
Triste Fim de Policarpo quaresma é um livro narrado na 3.ª pessoa, que além de transmitir a visão do autor em certos pontos, ainda permite muita interpretação por parte do leitor, trazendo assim diversos pensamentos analíticos e críticos após a leitura do livro.