Lima Neto 02/11/2013
Cada livro que lemos deixa um nós uma marca, mexe conosco de uma forma diferente. Há aqueles que nos decepcionam, sim, há aqueles dos quais esperávamos algo mais, aqueles que não concordamos com o final; mas há aqueles que deixam marcas nas nossas almas de leitores, aqueles livros com os quais nos identificamos profundamente, da primeira palavra ao último ponto, que vemos espelhados nesse ou naquele personagem traços de nossa personalidade, os que temos a impressão de que retrataram tal como aconteceu um fato que aconteceu em nossas vidas. Há livros intensos, que nos prendem desde a primeira páginas, aqueles que impede que peguemos no sono enquanto não terminarmos só mais esse capítulo, e que acabamos passando noites em claro lendo-os. Há livros complexos, que só conseguimos ler e entender se o fizermos bem aos poucos, poucas páginas e palavras por vezes. Há livros que lemos correndo, cujos capítulos se sucedem de tal maneira que não conseguimos parar sequer para tomar fôlego. Há livros escritos em linguagem complexa e rebuscada, que tem em sua alma um ar intelectual e rebuscado. Mas há livros que nos marcam, com os quais nos identificamos, justamente por não serem complexos, por não terem uma linguagem rebuscada, que não precisamos correr, e sim por que são simples, por serem escritos de maneira simples, clara e delicada, e que não queremos correr em sua leitura, mas sim beber palavra por palavra. Arroz de Palma, de Francisco Azevedo, é um destes livros.
Arroz de Palma é um livro para todos os amantes da boa literatura, para todos os que têm família, para todos que sabem saborear as palavras de um grande romance e que começam a salivar antes mesmo de ter o prato servido, antes mesmo de abri-lo na primeira página. Narrado com uma maestria ímpar, com uma delicadeza impressionante, é um livro que ao lermos somos fisgados pelas melífluas palavras do autor, de que somos hipnotizados e remexidos naquela panela de palavras e convidados a apreciar e acompanhar o preparo daquele formidável prato literário que será servido para nós, leitores, numa esplendorosa ceia, que iremos apreciar, que irá saciar a nossa fome literária por dias a fio.
Contada de uma forma suave e delicada, como numa simples conversa, como que entre o preparo de um prato e outro para um jantar de reunião familiar, a história de Arroz de Palma é uma viagem no tempo, é um convite, tal como acontece numa reunião familiar, a uma das tão tocantes e gostosas histórias de família com a qual todos que a ouvem (leem) se identificam.