Biia Rozante | @atitudeliteraria 04/09/2018Que leitura incrível.Intenso e arrebatador, do tipo que te faz sentir e te deixa sem palavras, é assim que optei em iniciar essa resenha, exaltando a grandiosidade de uma obra que tanto fala ao nosso coração e arrepia. É impossível não se sensibilizar e se emocionar com esse romance tão puro e complexo, marcado por perdas, julgamento e medo. Duas almas quebradas, incapazes de enxergarem o quanto estão gritando por socorro, buscando alívio, paz, amor, um recomeço. Um único momento de felicidade em meio a escuridão em que estão aprisionados. E ainda assim, inocentemente doce e devastador.
Brynn tem se isolado do mundo, está inerte, vendo a vida passar. A perda a devastou, levou com ela uma parte de seu coração, de sua vitalidade e nem mesmo o tempo tem sido capaz de amenizar o tamanho de sua dor. Em seu íntimo compreende a necessidade de superar, de voltar a caminhar, mas deixar o luto parece algo impossível e é justamente quando suas forças chegam ao fim que algo chama sua atenção, lhe proporcionando um novo objetivo, uma maneira de se aproximar de seu amado mais uma vez e assim poder se despedir. Em sua jornada a escalada se revela árdua e o inesperado acontece, colocando sua vida em risco e o futuro também.
“ — Dizer adeus não significa esquecer. Seguir em frente não significa que você nunca o amou. Estou te dizendo para deixar isso para trás. Estou te dizendo que você pode ser feliz.”
Cass é um recluso, mas não por escolha. Sua vida está marcada pelos erros do passado de seu pai. Um psicopata frio, que estuprou e matou mais de uma dúzia de garotas. Ele tinha apenas oito anos quando a condenação de seu pai aconteceu, mas nem mesmo sua pouca idade e inocência foram capazes de poupá-lo do julgamento, apontamento e crueldade humana. Ele era apenas uma criança, incapaz de compreender a dimensão da monstruosidade que seu pai cometeu e ainda assim foi tão crucificado quanto. Diante dos constantes ataques sua mãe não encontrou outra alternativa a não ser uma mudança radical, deixando para trás tudo o que eles conheciam e mergulhando em um novo lugar isolado, silencioso e bem longe dos holofotes. Mas nem mesmo essa vida reclusa foi capaz de apagar as necessidades mais humanas, como se relacionar, conversar, tocar, sentir.
“(...) Mais cedo ou mais tarde, todos são levados a amar alguém que nunca poderão ter.”
Cass é um homem denso, altruísta e nobre. Apesar de sua vida minimalista, pacata e longe de multidões, ele se tornou um ser maravilhoso, mas totalmente quebrado emocionalmente. Ele acredita não ser merecedor de amor. Que a qualquer momento o monstro que o habita irá se revelar, o tornando tão insano e doente, quanto seu pai. E isso tem ditado cada dia de sua vida. Ele sabe que existe um mundo fora das terras em que mora, porém o enxerga como algo inalcançável, impossível de ser tocado, por medo de contaminá-lo e isso é devastador. Sua dor é palpável e compreendemos perfeitamente o modo como ele tem vivido, ele nunca teve uma chance de viver, sempre oprimido, machucado, lembrado do que jamais deveria se tornar, o medo é sua companhia constante, a angustia sua parceira e o simples imaginar de ter emoções o assusta. E tudo isso é confrontado e bagunçado, quando ele conhece a Brynn.
Brynn está em busca de si mesma, de libertação, de superação. Dois anos é um longo tempo para lidar com a dor de perder uma pessoa tão especial e amada. Sua vida perdeu o sentido, entregar seu coração outra vez é algo que a apavora, não por medo de amar, mas de amar e perder. De ter seus sonhos, planos e sentimentos roubados abruptamente. E vê-la tão fragilizada é muito triste, nos faz querer mudar sua história.
“Gostaria de ter sabido que ele poderia confiar em mim, porque vi todas as cores do seu coração e amo todas elas.”
SEM AMOR é mais que um romance, é um convite para que olhemos para dentro de nós mesmos e questionemos a maneira como temos vivido e tratado as pessoas a nossa volta. Julgamos sem dó, apontamos sem remorso e nos esquecemos que dentro de cada peito bate um coração, mora um ser humano que se machuca, sofre, se magoa, que sente. Às vezes sem perceber, sem de fato querer, somos responsáveis pela transformação em uma vida e nem sempre é de maneira positiva. Falta humanidade, empatia, respeito e amor. Falta olhar para o próximo e pensar em como seria se fosse com você. Amei as reflexões e mensagens deixadas. E nem comecei a falar do romance ainda... QUE LINDO! Cass e Brynn vivem um tipo de amor “proibido”, que começa platonicamente. Dois jovens feridos, com inseguranças e medos, barreiras, ou melhor, muralhas construídas ao redor do coração, mas que desesperadamente necessitam de AMOR. Duas almas em busca de recomeços, superação, compreensão. O encontro entre eles não poderia ser mais incomum, diante de circunstância dolorosas, ambos estilhaçados... mas com almas que se reconhecem, que unidas recolhem os pedaços, se completam a ponto de transbordar, conquistando o inimaginável em nome de um sentimento poderoso.
“Confirmo com a cabeça, admirado por sua empatia, por sua capacidade de entender o que estou sentindo. De alguma forma, isso diminui a tristeza do momento. E a dor. Quando olho nos olhos dela, Brynn sorri de volta para mim, e o milagre disso é que talvez eu a esteja confortando também. Ao compartilharmos nossa dor um com o outro, é possível que não a estejamos dobrando de tamanho, mas sim, reduzindo-a à metade.”
Cass tem uma visão completamente equivocada a respeito de si mesmo. Buscando até mesmo comprovação cientifica, justificativas para que seu isolamento seja necessário. QUE TORTURA! Como foi difícil ver esse jovem com a cabeça tão bagunçada, temendo sentir qualquer emoção, com medo de si mesmo. Brynn se revela muito mais forte e determinada do que a princípio se mostrou. Ela luta pelo que acredita, não desiste diante do primeiro obstáculo e está disposta a ir até o fim para provar que Cass é sim digno de amor, do seu amor. E que juntos eles podem sim viver plenamente e feliz. Cass e Brynn são os tipos de personagens que irão permanecer no meu coração por um longo tempo, talvez para sempre, porque é muito difícil ver uma história como a deles e não pensar que na vida real a situação é ainda mais cruel.
É um livro que transborda emoções humanas – luto, angustia, incerteza, medo, necessidade, dor, desejo -, que te faz querer arrancar os personagens do livro e abraça-los infinitamente, dizer palavras de conforto. Que tudo vai ficar bem.
Marcante, emocionante, doloroso e lindo, SEM AMOR é um livro incrível. E que mesmo tentando sei que não consegui lhe fazer jus. Por isso deixo aqui meu apelo, leia. Se você ama romances com drama, cheios de reflexões e personagens envolventes, ele é a opção certa para você.
Mal posso esperar para conhecer outras obras da autora.
A Editora Charme deixou meu muito obrigada e os parabéns. Que edição linda. Capa com detalhes, toda trabalhada e a diagramação coerente com a história. Ao receber o livro, sinto que recebi amor em forma de livro.
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