@blogleiturasdiarias 04/05/2020Resenha | Godsgrave: O Espetáculo SangrentoGodsgrave: O Espetáculo Sangrento foi um livro que por pouco não me agradou. Um segundo volume que trouxe um arco que não me conquistou o quanto queria, porém possui peças fundamentais para o quebra-cabeça das Crônicas da Quasinoite. Jay Kristoff, o que você transformou essa história!?
Mia Corvere ainda está atrás da sua vingança contra Scaeva e o cardeal Duomo, responsáveis pela morte do seu pai e o declínio da família Corvere. Quando percebe que a Igreja Vermelha esconde muitos segredos, inclusive segredos que podem afetá-la, ela decide mudar seus planos partindo para uma missão sangrenta e violenta, onde arriscará a sua vida por esse objetivo. Godsgrave é agora seu destino. Ele será palco de outra tentativa de acabar com a vida daqueles que a destruíram.
Um desenvolvimento para que eu considere perfeito, deve trazer ocorrências que sejam enriquecedoras para o enredo além de reviravoltas importantes. Este último, muito bem presente, foi o carro-chefe de Godsgrave porque infelizmente os acontecimentos não me cativaram. O autor trouxe uma temática que até seria interessante no contexto, senão tivesse me cansado igualmente. Achei o início muito lento, apesar de conter informações importantíssimas para a trama, e talvez isso tenha me desanimado para o todo. Perto do final, ele ganha novamente minha atenção, sendo o epicentro de diversas sensações.
Se achei o antecessor cheio de cenas fortes, com lutas muito bem descritas e carregado de pormenores, essas partes aqui são intensificadas. É nitidamente uma escrita adulta, que trabalha assuntos pesados, e por este ciclo envolver diversos embates corpo a corpo, brutalidade no limite, derramamento de sangue ao extremo, não espere uma narrativa "limpa". Sendo impetuoso na descrição das cenas, é um recurso que pode agradar maiormente aqueles que já o amaram em Nevernight.
"— Não é esse o destino de uma Lâmina. — Aalea tomou a mão de Mia e a apertou contra os lábios. — Mas há beleza em saber que tudo acaba, Mia. As chamas mais brilhantes se consomem mais rápido, mas há um calor nelas capaz de durar a vida inteira. Mesmo num amor que só dura uma quasinoite. Para gente como nós, não há promessas para sempre." pág. 206
Mia Corvere ainda é uma protagonista sensacional, sem tirar nem por. A ausência de medo torna-a uma personagem que encara as coisas de frente, e vai atrás do que quer sem pensar nas consequências — que obviamente colherá. Uma personalidade forte que transborda das páginas e que deixará marcas. Ansiosa para chegar no final e ver o quanto cresceu.
A surpresa foram outros rostos ganhando destaques, no qual não esperava um artífcio sendo inserido. Teremos uma mexida nos aliados e/ou inimigos, até mesmo nos conhecimentos que tínhamos como verdadeiros, trazendo um dos grandes plot twists do exemplar. Até agora fico boquiaberta quando lembro, porque nessa altura da conjuntura, teríamos que estar encaminhando para o desfecho da trilogia. E não é o que acontece — falando positivamente.
Se boa parte das páginas pecaram em me trazer entusiasmo, o final chega sendo arrebatador. Foi ensandecedor ver tudo que considerava como verossímil ganhar novas perspectivas, e fiquei me perguntando em como não pensei nessa reviravolta antes — o que felizmente me deu um novo ânimo para continuar. O fim foi com certeza a melhor parte, e o ponto alto. Podem criar grandes expectativas!
Um adendo curioso, e que funcionou, é a inserção de uma narrativa praticamente dupla. Ela gira em torno de duas situações divergentes — que num momento acabam colidindo e tornando-se uma só — que até se entrelaçarem, teremos um olhar de uma delas no passado e a outra no presente.
"Mia ouviu-os bradar, com punhos levantados alto, clamando por sangue e glória. Mas a verdade era que nem queria saber desta última. O sangue era o seu objetivo, o seu sonho, o seu único prêmio. O cardeal Duomo e Scaeva ao alcance do seu braço no pódio do vencedor. Mas para ficar diante deles, ela precisava acumular vitórias suficientes para garantir uma vaga no magni. E, de algum jeito, no meio daquele banho de sangue e carnificina, precisava ganhar." pág. 202
De uma forma geral, ainda que não tenha o favoritado 100%, seus períodos altos sobrepujaram o que poderia torná-lo ruim. Se gostou de Nevernight, inevitavelmente gostará de Godsgrave — inclusive é o volume favorito de alguns dentro da trilogia. Já foram conhecer a palavra de Jay Kristoff?
Na parte física, a capa é bonita, do jeito que adoro encontrar em obras de fantasia. Traz aspectos que remetem a seu conteúdo, além do título também combinar com a parte interna. A diagramação é a padrão da Plataforma 21, e temos novamente o uso das folhas brancas que virou um padrão para a trilogia. A narrativa é feita em terceira pessoa pelo ponto de vista da Mia, tendo nota de rodapés com comentários de um narrado onipresente — cheios de sarcasmos.
Ainda bem que tenho em mãos Darkdawn, o finalizador da série, e nem preciso dizer que estou ansiosíssima para a leitura. Espero que tenham gostado!
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